Desfrutando

Adoro melancia. Junto com minha filha, somos capazes de devorar uma frutinha dessas de 15 kg em dois ou três dias. Coloco a descendente na equação, mas minha contribuição passa de 80%. Números que não traduzem o prazer de desfrutar o adocicado pedaço de melancia, com sua textura particular e quantidade exagerada de líquido. As sementes são sorvidas e cuspidas no prato, como deve ser. Escolher o exemplar da fruta batendo na casca para sentir se o som produzido é oco ou não e verificar que a parte remanescente do cabo está seco são procedimentos que funcionam em parte. E comprar quando a promoção coloca o quilograma abaixo de R$ 3. Mais que isso, o compromisso da degustação com o custo fica indigesto. Não vendem melancias por dúzia. Aliás, nem laranjas mais são vendidas por unidade, o "peso" virou a forma de medida, agora que abundam balanças por todo e qualquer estabelecimento comercial. As aspas são para me lembrar que cientificamente medimos a massa, pois peso é resultante da força da gravidade sobre o objeto. 

Parar para comer mais frutas não significa que já sejam as férias. São apenas uns poucos dias de descanso a que chamamos de recesso. Algumas atividades profissionais são demandadas, desde o envio de avaliações finais de artigos científicos em revisão até relatórios de alunos que já encerraram seus projetos. Sim, o blog é ininterrupto, momento de reflexão que é, ainda que leitores estejam mais preocupados com as chances de ganhar na megassena ou com o que vão vestir no réveillon ou, ainda, o melhor desfrute do verão. O calendário corre mais rápido nas últimas cem horas do ano. Anuncia mais um fim, mais um começo. Nem gostaria de citar alguns fins que aconteceram, mas registro a triste notícia da morte da Jussara Salet da Silva, técnica de laboratório por muitos anos em Lorena, com quem tive o privilégio de trabalhar e que faleceu na véspera do Natal. Não sei o que aconteceu. Era pessoa muito querida, profissional competente, além de apaixonada por cães.

Os cumprimentos de uma pessoa podem afastar outras, caso seja a manifestação exacerbada de sua crença, de seu time, de suas proezas e preconceitos. A sociabilidade exige tolerância e percepção de limites, os próprios e os alheios. Nesta época de fim de ano, então, o bom senso foge e as figurinhas que recebemos com as melhores intenções de votos de boas festas irritam mais do que o usual. Um conjunto razoável de pessoas crê que sua crença é absoluta e que os outros bilhões de indivíduos devem seguir algo muito parecido com que é pregado. Engano enorme que causa dissabores entre os conscientes que recebem tais cumprimentos, e alimenta a ignorância entre esses restritos crentes. Resta-me apenas desejar que daqui a alguns dias, quando completarmos mais uma volta ao redor do sol, sigamos na construção de um mundo melhor para todos, desfrutando o melhor de nossa natureza humana e que as injustiças denunciadas em tempos e templos nos últimos dias se tornem real objeto de combate em todos os novos momentos que viveremos com folhinha nova na parede - ou no celular, tanto faz.