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Mostrando postagens de maio, 2020

Vou contar um causo

Contar um 'causo' é atividade cultural de raiz que ainda acontece. A origem é supostamente caipira, com enredos envolvendo tipicamente (mas não apenas) situações em lugares ermos com aparições, assombrações e outros elementos de nosso rico folclore. O bom causo não precisa ter enredo bem construído, mas precisa ser contado com dramaticidade, detalhamento e uma conclusão ímpar. Ou seja, é uma mentira muito bem contada. Em conversas de amigos, quando ainda se reuniam em mesas de botecos, bazófias eram comuns, perdendo um pouco do charme de um causo e com ambientações urbanas. Falar de situações vividas em assaltos ou no trânsito substitui os encontros com a caipora, a mula-sem-cabeça e fantasmas. Os interlocutores sabem que são construções do imaginário e jamais pensariam em transformar o contador do causo - ou quem estivesse a ele pagando para desempenhar tal papel - em um líder político. Bem, com o advento da internet isso passou a ser corrente e acreditar na versão passou a se

Memórias maduras

Ouvi a voz de Felipe Neto pela primeira vez. Sabia de sua existência, de seus vídeos e de sua mudança de posicionamento político, mas nunca havia lido nada de forma profunda sobre ele, apenas escutado superficialmente o que adolescentes comentam. Confesso que um pouco descrente, assisti ao Roda Viva desta semana por ser um programa que ainda permite alguma atividade jornalística séria, apesar das limitações de alguns dos entrevistadores. Depois de excelentes programas com Atila Iamarino e Sebastião Salgado, seguido de uma participação chocha de Dias Toffoli, ver o Felipe Neto foi mais pela curiosidade do que pela vontade. Mas gostei de conhecê-lo e saber de seus arrependimentos e entendimento do que está acontecendo no país. Entendo a importância dos chamados comunicadores digitais e ele procurou fazer uma distinção entre essa atividade e a futilidade de muitos dos que se dizem influenciadores. O amadurecimento faz com que revisemos nossas posições, o que tenho constantemente feito pel

Vivemos no passado

O início do século XX marcou a globalização de conflitos, como a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), e os impactos de uma pandemia, como foi a chamada gripe espanhola (1918-1920). Para o Brasil, o período foi ainda mais notório, pois coincidiu com os primórdios da República e as concomitantes frustrações com o novo regime e a política em curso. Além disso, alguns anos antes, passamos por uma Revolta da Vacina, uma situação muito semelhante à atual, apenas com sinal trocado: o governo federal querendo impor medidas sanitárias e a população não aceitando, devido, principalmente, ao desconhecimento e à forma autoritária da abordagem oficial. A leitura de jornais e revistas da época dá uma dimensão bem realista dos conflitos, dentro do que permitiu a censura, indo da discussão política à sátira da situação. Lima Barreto fez sua contribuição, especialmente em seu Diário Íntimo, contestando a ação repressora e punitiva do governo. Um exercício de cidadania, pois, mas que também cunhou parte

Vida e morte em transformação

Dois anos utilizando este espaço com postagens quase semanais. Somente 10% das vezes não consegui cumprir a sazonalidade. Naquele 4 de maio de 2018 comemorei o Dia de Star Wars (May, the 4th) e lamentei os impostos a pagar ( https://adilson3paragrafos.blogspot.com/2018/05/forca-das-financas.html ). Agora, pouca comemoração houve, mesmo com infinitas possibilidades de filmes na tv. Parece que o infinito e a nulidade se encontraram... Um paradoxo interessante para explanação de meu amigo Acadêmico e Matemático Sérgio Cobianchi. A declaração do imposto de renda também perdeu momentaneamente a importância depois da prorrogação da entrega. Restaram a ininterrupta indignação com as questões políticas e os frequentes comentários do Paulo Viana e do José Lunazzi, dentre outros, que enriquecem as palavras aqui estampadas. Tento diminuir a melancolia, mas são novos tempos pandêmicos (ainda não pós-pandêmicos, devemos nos lembrar e ficar em casa!). Choram Marias e Clarices, e morrem Aldir Blanc

Na pele do outro

Mesmo em tempo de reclusão em casa, minha interação nas chamadas redes sociais é burocrática. Uso o Facebook ( https://www.facebook.com/adilson.goncalves.9847 ) e o Twitter (@adilsonrg) para republicar os artigos, poemas e outros escritos que saem em veículos impressos e sites. Além disso, faço um ou outro comentário e dou as 'curtidas' nas postagens que julgo interessantes do que aparece na minha linha do tempo (a timeline ou TL para os que preferem a língua de Shakespeare e suas adaptações). Creio que cumprimentar as pessoas pelo aniversário - o que procuro fazer todo dia - as faz buscar por quem eu sou e verificar minhas postagens e posições para, então, desfazer a tal da amizade. Fato é que o número de amigos está sempre no máximo de 5 mil que a plataforma permite, mas com um fluxo diário de entrada e saída de 2 a 4 perfis. Não deveria ser o objetivo tais contatos canalizarem para apenas para os que possuem visão de mundo próxima à sua, mas é o que de fato acontece. Pouco e