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Mostrando postagens de fevereiro, 2020

Escola dez, nota dez!

A CartaCapital, edição especial de carnaval, dedicou o menor número de páginas de uma edição morna a cronistas de outrora. Pudemos nos deliciar com textos de Lima Barreto e Machado de Assis, retratando a atualidade daquelas reflexões. Machado cruza com Lima quando fala na crônica escolhida pela revista que ainda acreditava nos tesouros jesuítas escondidos sob o Morro do Castelo, objeto de uma reportagem que projetou Lima Barreto nas esferas jornalísticas. Vale a pena ler e reler esses clássicos. Foram exaustivas as comparações de nossa vida política com a euforia efêmera carnavalesca, tanto nas ruas como nas páginas impressas, cujo término da festa se dá nesta quarta-feira cinzenta e chuvosa. Hoje, portanto, recomeça o insano Brasil, com as já esperadas patacoadas governamentais e a confirmação do coronavírus em nosso país. Pouco acompanhei os desfiles nas avenidas, mas fiquei atento aos enredos politizados e à recepção do público e dos críticos a tais concepções artísticas engajadas

Tamanho da palavra

Aprendi que anticonstitucionalissimamente era a maior palavra existente, com 29 letras e registrada como uma comprida cobra no 'Emília no país da gramática', de Monteiro Lobato. Minha filha me ensina que é pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico, com 46 letras e se refere ao "indivíduo que possui doença pulmonar causada pela inspiração de cinzas vulcânicas", segundo o dicionário Houaiss. Mas esses exemplos são grandes no número e não no conteúdo. Amor e vida, com as singelas quatro letras, valem muito mais. Certo que haverá os que professam uma palavrinha de duas letras, acentuada até, que carrega forte significado. Mas sabem que eu não discuto religião. A existência humana se resume no ser, mas o capitalismo a transforma no ter. Três singelas letras em cada uma, de significados e posturas que se opõem entre si. Minhas colunas nos jornais impressos são limitadas pela contagem de caracteres que, até com a mais antiga versão do Word, é feita facilmente com um c

Perdas na ciência

A pseudociência voltou com tudo nesses últimos dias. Após a nomeação do criacionista Benedito Guimarães para a presidência da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -, os defensores do design inteligente (DI) orquestraram uma série de artigos para defender aquilo que é exclusivamente o domínio da fé, não da ciência. Marcos Eberlin fez um libelo na Folha de S. Paulo (8/2) e Roque Ehrhardt de Campos exarou algo semelhante no Correio Popular de Campinas (13/2). Ainda que o ex-professor Eberlin, da Unicamp, tenha uma história importante na química orgânica, sua crença dogmática arranha a ciência que produziu. No artigo faltou o que realmente não existe: argumentos científicos que suportariam o DI, limitando-se a citar outros criacionistas. Dizer que mil outros cientistas 'acreditam' no DI é um número insignificante perto da comunidade científica internacional. Fé e ciência não compartilham os mesmos pressupostos. Além disso, a principal informação não é

Não apenas lágrimas

Torcer o pano até que lágrimas brotem dos interstícios do algodão entrelaçado. Parece que o ato mecânico sobre as fibras do material também originou o desejo de vitória de um time, agremiação ou qualquer outra coisa que desperte a paixão e a necessidade de sofrer conjuntamente. A torcida para que o filme ganhe é, portanto, ato físico praticado com as mãos. Não há manual ou receita para ser o primeiro, o vencedor, na entrega do Oscar que acontece neste fim de semana, mas a torcida pelo documentário "Democracia em Vertigem" é grande, pelo menos dentro do grupo das pessoas sensatas. Como já mencionei na postagem Vertigo ( https://adilson3paragrafos.blogspot.com/2020/01/vertigo.html ), outros concorrentes estão em posição de maior destaque e o prêmio não deve ir para Petra Costa. O "Dois Papas", de Fernando Meirelles, também está na disputa, com os dois atores concorrendo (Anthony Hopkins e Jonathan Pryce), além do roteiro adaptado, lembrando se tratar de uma obra de fi