Perdas na ciência

A pseudociência voltou com tudo nesses últimos dias. Após a nomeação do criacionista Benedito Guimarães para a presidência da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -, os defensores do design inteligente (DI) orquestraram uma série de artigos para defender aquilo que é exclusivamente o domínio da fé, não da ciência. Marcos Eberlin fez um libelo na Folha de S. Paulo (8/2) e Roque Ehrhardt de Campos exarou algo semelhante no Correio Popular de Campinas (13/2). Ainda que o ex-professor Eberlin, da Unicamp, tenha uma história importante na química orgânica, sua crença dogmática arranha a ciência que produziu. No artigo faltou o que realmente não existe: argumentos científicos que suportariam o DI, limitando-se a citar outros criacionistas. Dizer que mil outros cientistas 'acreditam' no DI é um número insignificante perto da comunidade científica internacional. Fé e ciência não compartilham os mesmos pressupostos. Além disso, a principal informação não é dada: o autor é da Universidade Mackenzie, de onde saiu o ex-reitor e criacionista presidente da CAPES. Um servo a serviço de seu senhor.

Em tempos nos quais livros são proibidos em Rondônia, o analfabetismo do ministro da Educação é tomado como aceitável e a abstinência sexual é implementada como política pública no lugar da educação sexual, os alertas da ignorância instalada passaram de amarelo para vermelho! Voltam as discussões de cunho religioso para explicar e justificar ações e medidas que deveriam ter caráter público - como o aborto, por exemplo -, e não foco em foro íntimo, que é o local da religião. No caso do artigo do citado Roque, a confusão entre ficcionistas e cientistas é gritante, atribuindo a cientistas ateus um caráter obscurantista da ciência. Ao menos, até aqui, as medidas de contenção do coronavírus estão dando certo. Porém, com a força dos movimentos anti-vacina e a prevalência da pseudo-medicina em várias esferas, não será surpresa se também 'reza brava' vier a ser elencada oficialmente como prevenção a doenças.

Ulf Schuchardt, meu amigo e mentor científico, faleceu. Escrevi um par de frases sobre ele no facebook e um pouco sobre a sua contribuição à química no Brasil no artigo mensal de O Regional, de São Pedro. No velório, o encontro de vários de seus ex-alunos foi uma oportunidade de congraçamento, uma vez que era isso que o Ulf sempre estimulou: o convívio como um grupo científico. #IniCiencias

Comentários

  1. O pensamento obscurantista está em alta. É preciso evitar que o rastilho do ódio incendeie os relacionamentos de posições opostas. Mais que nunca, tolerância e razão! Contra argumentos, ponhamos mais argumentos, até que surja a verdade possível.

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  2. Precisamos ter claro quem é um cientista: Aquele que realiza medições instrumentais, ou aquele que pesquisa e procura entender processos? Embora muito reconhecido no pais, o Dr. Eberlin talvez entrasse nessa primeira classificação, seria preciso analisar melhor. Por outro lado, o criacionismo, não é uma crença, uma filosofia, senão uma atitude política: http://revistaquestaodeciencia.com.br/apocalipse-now/2020/01/25/design-inteligente-e-mais-do-que-pseudociencia-e-estrategia-politica

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