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Mostrando postagens de maio, 2023

Prazo esgotando

Um grupo de policiais adentra a residência por um corredor estreito. Em meio a confusão anterior, de pessoas e conversas, num átimo não entendo o que está acontecendo e, descobrindo que a prisão é iminente, ponho-me em pânico. A tremedeira no corpo inteiro e quase desfalecimento recostado à parede somente são interrompidos quando acordo. Sonhos de cobrança têm sido constantes e não sei se o tal do Freud explica, porque até ele já foi abandonado por Lacans mais modernos. Os adeptos de um e de outro travarão debate infinito e terei pouco tempo para ouvir e entender as partes. Contento-me com resumos. Responderão a pressão e opressão pela necessidade de envio de documentos e afins em dias certos? Fim de mês, dirá o matuto sabedor dos prazos que coincidem sempre 24 horas antes do início de um novo mês. A originalidade dos que cobram míngua ao estabelecer o derradeiro dia como o da noite sem dormir. Nem é do imposto de renda que falo, mas de todo o resto que invade a vida acadêmica. Até o b

Ladra

Com ciúmes do gato, o cão ladra. A paródia ao frio da semana passada ( https://adilson3paragrafos.blogspot.com/2023/05/conforto-ao-frio.html ) perde sentido para o canino, não aquele que dói por descuido dentário, mas o que late. Canis latrat , no bom latim que o tradutor digital permite, com o devido crédito à inteligência artificial que parece nos querer dominar. Garanto que o texto que aqui segue ainda não é fruto da facilidade computacional de gerar palavras em sequência que possua algum sentido. Digo ainda porque vejo que muitos colegas de trabalho estão se rendendo à ferramenta para elaborar documentos administrativos e até prévias de relatórios e planos de aula. Fantástico se não fosse tenebroso. Operadores do direito se adiantam nessa seara, farejadores que são, tanto em continuar o plágio de seus extensos e verborrágicos pareceres, quanto na apresentação de uma nova área de litígio: a da autoria do material feito pela inteligência artificial. Bem, plágio é plágio e o computado

Conforto ao frio

Um gato no meio das pernas à noite é sinal que a temperatura baixou. A troca de calor esquenta ao menos parte do corpo, mas o felino se acomoda de um jeito que fica difícil se mexer. Os repuxos da perna ruim são inevitáveis, quando não são as duas que resolvem deixar claro que os joelhos doem. Em algum momento da madrugada, com tanta movimentação, o gato desiste e vai atrás de outro humano acolhedor. E que seja mais estático. Dormir, sim, esquentar-se também, mas sem solavancos, é o pedido por trás da felinicidade que o animal exala. Quem tem bichanos por perto sabe de sua natureza peculiar e necessária para preencher vazios em espaços que são seus. Ali estamos como coadjuvantes. Não por menos um gato foi uma das imagens que ilustraram a capa da coletânea da Unesp com crônicas selecionadas na e sobre a pandemia. Pelas ruas, no entanto, a urbanidade perde protagonismo, é excludente e os que ali padecem do frio despertam algum calor humano, insuficiente. Gosto do frio, não apenas porque

Faz falta

Meio milhão de mortos. Esse é o título do artigo no Jornal Cidade de Rio Claro desta semana, uma avaliação de quantas pessoas morreram pela covid-19 além do estimado pelo porcentual de população que temos em relação ao resto do mundo. Muita gente morta além da crise pandêmica. Morreram por negligência, descaso, negacionismo. Fazem falta. Aquele jornal do interior paulista é um dos remanescentes espaços impressos para divulgar opinião e notícias locais. A manifestação opinativa que vai em outros sites, em movimento cíclico, sempre divulgo aqui. Descubro que todos que pensam, põem o pensamento em ciclos de vai e vem; de reflexões eles costumam rotular. Talvez justifique-me assim, tentando não ser repetitivo, mas não perdendo a essência dos argumentos. Leio o que está escrito para saber o que foi dito e também o que foi modificado de um pensamento inicial, incluindo meus pensamentos. Mas o que é crime continua sendo crime, estando ou não o criminoso no poder. Eis mais uma dessas reflexões

Poesia ainda que tardia

A semana é do trabalhador e usemos para falar de outras coisas, outras palavras. A rima óbvia é amor, mas fiquemos com a poesia, dissonante na terminação, completa no significado. No último sábado do mês, os poetas se encontraram na Biblioteca Municipal "Prof. Ernesto Manuel Zink" em Campinas e realizaram uma manhã muito agradável, chamada de Roda de Poesia. Foi minha primeira vez. Chico Buarque era o homenageado por questões havidas naquela semana. Cantoria com seus poemas transformados em música, leitura de textos de teatro e até meu "Raízes do Brasil", do livro "O eu e o outro" (de 2016), foi lido pelo Batata, um dos que promovem a roda e a fazer girar, livre e docemente. Levei alguns versos de Paulo Leminski para ilustrar o que foi minha formação e inspiração poética e daquilo que eu gosto em poemas: a síntese, em poucos versos tudo dizer. Não que admire e pratique os sonetos e estrofes mais detalhadas, apenas revelo um das admirações maiores. Relembre