Ladra

Com ciúmes do gato, o cão ladra. A paródia ao frio da semana passada (https://adilson3paragrafos.blogspot.com/2023/05/conforto-ao-frio.html) perde sentido para o canino, não aquele que dói por descuido dentário, mas o que late. Canis latrat, no bom latim que o tradutor digital permite, com o devido crédito à inteligência artificial que parece nos querer dominar. Garanto que o texto que aqui segue ainda não é fruto da facilidade computacional de gerar palavras em sequência que possua algum sentido. Digo ainda porque vejo que muitos colegas de trabalho estão se rendendo à ferramenta para elaborar documentos administrativos e até prévias de relatórios e planos de aula. Fantástico se não fosse tenebroso. Operadores do direito se adiantam nessa seara, farejadores que são, tanto em continuar o plágio de seus extensos e verborrágicos pareceres, quanto na apresentação de uma nova área de litígio: a da autoria do material feito pela inteligência artificial. Bem, plágio é plágio e o computador apenas busca o que já está publicado para compor suas frases. Podemos fazer isso também, reinterpretando o que é lido, deixando a preguiça intelectual de lado. Mas parece que além da ciumeira entre cães e gatos, outros poderes mais alto ladram.

Ladra o ladrão também. Vocifera impropérios para, pela força bruta da palavra, defender-se dos crimes explícitos que pratica. Quem sabe se, assim, a versão não esconde o fato? Mais comissões parlamentares são instaladas para evidenciar os atentados à organização da sociedade como a concebemos e assim aceitamos que funcione. E vários desses larápios estão lá, discursando candidamente. Fora do grupo parlamentar e dos palácios presidenciais, a que roubou bens materiais é visível e evidente; seria condenada não fossem os meandros da lei. Foi capa da revista piauí do mês passado e parece que poucos dão importância à gravidade do furto à República que aconteceu sob seus desejos. Furtos, múltiplos que foram. Impune, constato que ela é branca. Provida de mais melanina na pele, já estaria presa, independende de roubar joias ou um frasco de xampu. "Melanina acentuada" é o termo que no bom filme "Medida provisória" (dirigido por Lázaro Ramos) substitui afrodescendente. Em país em que o cárcere tem cor e CEP muito bem definidos, a ladra agora silenciosa parece fora do contexto. Ah, essa dama ... se roubasse o coração ou sentimentos, apenas lágrimas seriam o preço a pagar.

Passeios noturnos com a cachorra Indy levam a reflexões, não diferentes das que publiquei quando, em plena pandemia, a saída de casa era vigiada para não se aproximar de nenhum outro humano que pudesse portar o coronavírus, devidamente mascarados. Eu, para proteção, e o microrganismo, que aprontava das suas dizimando a população em busca de uma vacina. Na verdade, o "canino exercício de cidadania" originalmente foi publicado antes do confinamento, no final de 2019. Curiosamente, portando críticas ao despresidente, o artigo foi elogiado inclusive por quem o defendia "cega-mente". E ainda defende. Hoje, além de não esquecer minha toalha, não deixo de levar os pedaços de jornal para coletar os presentinhos que a Indy deixa pela rua. Excitada, a movimentação intestinal é mais intensa. As câmaras que os vizinhos colocaram em seus muros para se proteger dos larápios servem também para denunciar a produção de fezes animais. Se não recolhidas, vão parar no grupo de WhatsApp do bairro. E caçam os que cacam.

Comentários

  1. Qualquer dia a IA domestica a caca canina. Já a caca dos políticos vai precisar de mais tempo… (PSViana)

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