Postagens

Mostrando postagens de abril, 2023

Um imenso Portugal

O carro faz barulho, suspensão consertada, o ruído continua. Não é nada grave, diz o mecânico. Nada descobriu nas partes íntimas do veículo que pudessem causar algum acidente. Mas o barulho continua. E vem da direita, como sói ser. A semana teve forte sotaque português e, obviamente, não quero relacionar com algum ruído, mas, sim, com o ruído de comunicação que possa haver quando se conduz o pensamento por expressões distintas. Ainda mais com nossa língua repleta de regionalismos, construções e sotaques. Certa vez, jovem universitário, cheguei a praia quase deserta em Florianópolis e havia um outro semelhante ali acampado. Era habitante local e assim que abri a boca na primeira interlocução já inferiu que eu era paulista, pronunciando o s feito um x. Rimos. O paulistano, talvez até mais que o paulista, insiste em dizer que são os outros que têm sotaque, não ele. Resultado de diferentes formas do ar passar pelas cordas vocais e restante do aparelho fonador. Talvez seja isso, o ar está r

Jatos históricos

A semana começa com dia do livro infantil, passa pelo dos povos originários, segue com combate ao fascismo, chega ao de Tiradentes para terminar com o do "descobrimento" do Brasil. É isso mesmo? A ordem dos fatores altera, e muito, o produto histórico que é o que vivemos. No meio da festa é difícil identificar de onde vem o som, quantos estão dançando ou bebendo ou conversando ou mesmo os que estão alheios aos acontecimentos. Sem contar que tem muita gente ali trabalhando e não se divertindo. Assim aprendi a entender por que a contemporaneidade de vivenciar fatos históricos não leva todos os presentes a registrarem a mesma impressão. Por estar no foco dos acontecimentos, há a necessidade do distanciamento temporal para saber o que realmente aconteceu e, ainda mais, sob diversos pontos de vista. O incauto dirá que a verdade dele é a verdadeira porque os olhos que a terra há de comer assim viram. Não há traidor maior que nossos próprios olhos e a memória seletiva que registra i

Marcas de expressão

Marcas são importantes para memorização, aniversários redondos, datas coincidentes. O período de cem dias também é, e vemos as diferenças de tratamento de analistas políticos e econômicos quando lidaram com a marca atual e a de quatro anos atrás. Mesmo os mais ladinos que escondem suas retrógradas opiniões e ações fazem silêncio para não aceitar a visível mudança de atitudes. Enfim, política nunca passou ao largo nestes parágrafos, mas a sutileza de certas escolhas deu a impressão de isenção, segundo alguns distraídos. Isenção? Isso sabemos que não existe em nenhum local de expressão, seja no jornalismo clássico, seja aqui e em outros blogs. Mesmo que não ditas com todas as letras no texto corrente, os links para outras postagens assim o fazem. Seguem duas dessas marquinhas, frutos de compilações de comentários esparsos, uma clássica ( https://www.brasil247.com/blog/estruturas-democraticas-que-ai-estao ), e outra de avaliação do uso que estamos fazendo de alguns termos e palavras, da e

Antecipando os chocolates

É quase feriado prolongado, de forte importância para os crentes e de alívio para os não crentes que usam os dias para uma pausa no ano que começou com uma velocidade maior, bem maior. De um lado, os incorformados e adeptos de crimes e teorias de conspiração esperando que ainda algo mudasse, mesmo com cem dias de sucesso, e, de outro, os esperançosos que muito batalharam por mudar a situação caótica e de destruição em que estávamos. Alinhamentos bem sucedidos - e controversos - estão em execução, o fim não está próximo, no entanto. Alguma confusão resta quanto a propostas econômicas que buscam trazer a ficção de um mercado imaterial para a realidade de carne e osso, já com menos osso e mais carne. E a maioria política confirma que essa matemática não é para qualquer um entender. Ter mais votos não significa estar à frente, nem a recíproca leva os de menos votos ao menor poder. Nós que lidamos com as ciências chamadas exatas sabemos que números não mentem, desde que seu mentor não lhes

Crimes e verdades

A professora Elisabeth Tenreiro era também técnica em química. Trabalhou em grupo de pesquisa no Instituto Adolfo Lutz, aposentou-se e foi se dedicar ao magistério. Foi morta na escola em que estava trabalhando há menos de dois meses. O adolescente que a matou feriu outras pessoas e investigam se houve mais gente envolvida no crime. As chamadas redes sociais têm papel importante na disseminação do discurso de ódio que alimenta a violência real, travestida de virtual ou de desafios perante grupos. Estudos mostram não haver uma correlação direta entre usuários e consequências quanto a jogos eletrônicos. Mas há muito mais nessa seara digital do que podem imaginar as analógicas mentes pensantes. Perdemos um tanto de nossa humanidade quando tais tragédias acontecem. Minha formação e atividade semelhantes às da Elisabeth tornam o sentimento de perda ainda mais próximo. O fato fica pior quando as autoridades dão uma resposta assustadora, apontando que se deve aumentar a violência para combate