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Mostrando postagens de janeiro, 2023

Seriíssimo

Concluí a rápida leitura de As inseparáveis , de Simone de Beauvoir (Ed. Record, 2021), um extrato de reminescências principalmente de sua infância e pré-adolescência em amizade com Zaza, retratada como Andrée. Chama a atenção que são experiências tão comuns à primeira abordagem e que se tornam importantes devido ao que a autora veio a se transformar depois. São extratos já integrados em outras obras, mas que teve uma primeira edição apenas agora como elemento independente. Amores, dúvidas, regras sociais, embates na família, admiração da natureza. Quantos tiveram vivências equivalentes e por não a relatarem ou não chamarem a atenção da sociedade para a própria existência nunca galgaram um lugar nas estantes e arquivos pdf. Por isso, talvez, que eu vá registrando inferições comezinhas do que me acontece ao redor, primeiro em cadernos de capa dura preta e, mais recentemente, em multicoloridos e mais flexíveis. A rigidez da obrigação das anotações foi se moldando com o tempo. Vai que alg

Praia

Lugar em que "o mar passa saborosamente a língua na areia", nas palavras de Eduardo Dussek e Luis Carlos Góes, a praia esteve ausente deste blog e do blogueiro. A última visita ao limite das vidas, ou seja, entre a região da vida terrestre subsequente e a da vida aquática iniciante, se deu há exatos quatro anos, não sendo a pandemia o único motivo para não me deslocar até lá - ou, melhor, até aqui. A conturbada vida moderna assumida é insana em muitos aspectos e não se dar o devido tempo ao relaxamento físico e mental é o mais crítico deles. Mas cá estou, vendo o mar pela janela do apartamento, como diz outra música, com ar inquiridor porque todas as previsões diziam que deveria aguardar a redução da umidade atmosférica para enfrentar a da beira-mar. Ou seja, ainda não choveu, ao contrário do castigo que sofre minha Campinas. O sol vem como aditivo ao período de descanso e a pele muito clara apenas avermelha-se em resposta à forte irradiação térmica e luminosa. Protetores sol

Terrorismo e ignorância

Há que ser dado o correto nome à coisa, ao ato. A festejada da semana passada vira atordoamento com o terrorismo praticado na capital federal. É isso mesmo a que chegamos? Muitos dos que estão ao nosso lado são terroristas ou são coniventes com eles ou até os apoiaram. Um desses conhecidos - que me recuso agora a chamar de amigo - faz postagens constantes de apoio a tais atos golpistas travestidos de democráticos e foi alertado por um parente numa das redes sociais: o que está acontecendo com o tio? De minha parte, tenho a sorte de não ter ninguém próximo, nem importante, que seja dessa laia. Proximidade no sentido sentimental porque há muitos que habitam esferas de convivência inevitáveis e inescapáveis para continuar alguma atividade cultural e social. Compreender à flor da pele o que passaram e passam povos submetidos a ditaduras, tiranias, fascismo e nazismo é um experiência muito traumática. Não queria estar passando por ela, mas é o que está em curso. Que rapidamente vire mais um

Linda festa, vamos trabalhar

Foi bonita a festa. Emocionamo-nos todos os que por ela ansiavam, mas sabemos que ela é apenas um marco e que o trabalho duro vem agora. Muito trabalho, por sinal, como já estamos sentindo por tudo o que é necessário reconstruir. Movimentos políticos e administrativos estão em curso, mas sabemos também que há períodos iniciais de quase inércia, quase como ritos de iniciação, que precisam ser respeitados. O Brasil só começa depois do carnaval é um deles e outro é aguardar os 100 primeiros dias como licença para ajustar rumos e rotas. Estou testando os espaços jornalísticos para medir a temperatura de aceitação do novo tempo e parece que há ainda muito receio, frustração e cobranças antecipadas. Novo tempo, sim, mas sem baixar a cabeça e ignorar crimes pretéritos com a intenção de apaziguar ânimos belicosos remanescentes de mais um período de trevas escrito em nossa conturbada História. Colocar o povo novamente como protagonista de um país não é tarefa fácil. Festas feitas, festas lidas.