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Mostrando postagens de abril, 2024

Flor literária

A professora é vice-reitora e nem por isso tem o completo domínio da fala, da retórica, para cativar a audiência. Ela fala mal. Travada para ler a nominata, com aqueles títulos e instituições todos, disse que um professor é da universidade A enquanto ele é da B e, no meio de profissionais e especialistas em bioenergia, afirmou que a agência é do "gás nacional", sendo que é em gás natural que todos ali estavam interessados. Nacional também pode ser, mas a natureza geológica do produto supera a geográfica. O plural também lhe é difícil - que dor nos ouvidos. Os "bios produtos" entram no lugar de bioprodutos, sem dar azo a um preconceito linguístico de minha parte, apenas se esperava mais da alta dignidade acadêmica. Nervosa? Talvez. Quem sabe a norma culta deve cultivá-la e saber que há outras formas de falar e nunca, nunca se impor. O "errado" de ontem é o "certo" de hoje. A fala é um cartão de visitas, no tempo em que havia cartões e visitas eram

História de descobertas

A poeta e professora Maria Cristina de Oliveira fala de gratidão em seu blog, que, sempre que visitado, nos retribui com agradáveis reflexões ( https://mkolliver.blogspot.com/2024/04/a-gratidao.html ). A postagem dela foi na semana em que comecei uma "amizade" virtual com Fernando Venâncio, que está escrevendo sobre origem de palavras e expressões. Segundo ele, o "obrigado!", com a interjeição, somente veio a ser publicado em 6 de agosto de 1822, em "O Espelho", mesmo jornal em que a pesquisadora Maria de Fátima Fontes Piazza descobriu um esboço biográfico de D. Pedro II feito por Machado de Assis sob pseudônimo. É uma tese à qual preciso retornar, pois vi que, além do que a pesquisadora encontrou, há outros textos de conteúdo semelhante, provavelmente também do Bruxo do Cosme Velho. Menos anônimos e mais animados, os trovadores de Campinas se encontram neste sábado, a partir das 10h, na Biblioteca Municipal e, no Vale do Paraíba, acontece a Festa Literári

Dias correntes

A semana que vai se encerrando acomodou um dia dedicado aos jornalistas e aos profissionais da saúde, sendo que o sete, nesse caso, é resultado de conta verdadeira. Aproveitamos para lembrar os perrengues de quatro anos atrás com a pandemia e a importância tanto da notícia confiável quanto dos médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde. Dizem que, com a internet, a notícia chega livremente, sem intermediários. Pela qualidade da desinformação que os grupos de que participo divulga, entendo o quanto retrocedemos. Antes, cobrávamos a falta de contrapontos nas opiniões, hoje, a mentira corre solta sem ninguém para segurá-la. Fui comprar o jornal de Rio Claro em que publico crônicas quinzenais e perguntei à dona da banca se o preço se mantinha em 3 reais. Ela, indignada, disse que sim, mesmo porque, com aquela "finura" de edição, não poderiam sonhar em aumentar o preço. "Eu aqui dou muito mais notícia do que este jornal", afirmou, fazendo-me imaginar a confiabi

Diplomacia no exército fantasma

A tela em branco contrasta com o papel escuro e repete a ausência de ideias. Um fantasma que paira ao lado de quem retrata em palavras o que pensa. Dizem - e eu já disse também - que copiar trechos antigos pode ajudar nesse processo de travamento. Os meus cadernos de capa dura, no entanto, ficam cada vez mais vazios. O tempo passa carregando inusitados e pitorescos aspectos e fatos cotidianos que deveriam ser lá registrados. Quanto mais tempo presente, mais passivo nos cadernos. Ou seja, o exército de procrastinação batalha junto à cegueira branca, abusando do contraste com Saramago. Este blog contribui para o atraso, retirando tempo precioso da escrita à mão e roubando assuntos que poderiam estar lá escondidos. Ninguém lerá os cadernos, e o blog tem sua centena cativa de leitores. Minha indecifrável letra não será traduzida por especialistas, pois não haverá interesse em garranchos deixados por um incógnito. Não é um Lima Barreto ou Euclydes da Cunha dos quais todos rabiscos deixados

Coelhos mágicos

A impunidade tem preço. Seis anos de demora em alguns casos, um milhão de euros em outros. Descubro que é possível viajar para outros países fora do Mercosul sem passaporte. Sem visto eu sei que é possível. Mas é preciso ter contatos criminosos adequados, o que dispenso. A Justiça vai aos poucos mostrando que pode funcionar, mas o tempo ainda é sócio da impunidade. O poder econômico continua a mostrar seu peso, em reais, dólares ou outras moedas, pois a conversão de prisão em multas dá o direito de delinquir e praticar crimes e contravenções. Convém citar um trecho da crônica de Lima Barreto "O único assassinato de Cazuza", de 1922, que pode ser lida no site 'domínio público' ( http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000169.pdf ), em que o personagem afirma que a fortuna dos políticos "se alicerça no crime, no assassinato". O pior é que vai se consolidando a imagem de uma Justiça parcial, ineficaz, tardia, uma ilusão para a população. E muitos dos