Dias correntes

A semana que vai se encerrando acomodou um dia dedicado aos jornalistas e aos profissionais da saúde, sendo que o sete, nesse caso, é resultado de conta verdadeira. Aproveitamos para lembrar os perrengues de quatro anos atrás com a pandemia e a importância tanto da notícia confiável quanto dos médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde. Dizem que, com a internet, a notícia chega livremente, sem intermediários. Pela qualidade da desinformação que os grupos de que participo divulga, entendo o quanto retrocedemos. Antes, cobrávamos a falta de contrapontos nas opiniões, hoje, a mentira corre solta sem ninguém para segurá-la. Fui comprar o jornal de Rio Claro em que publico crônicas quinzenais e perguntei à dona da banca se o preço se mantinha em 3 reais. Ela, indignada, disse que sim, mesmo porque, com aquela "finura" de edição, não poderiam sonhar em aumentar o preço. "Eu aqui dou muito mais notícia do que este jornal", afirmou, fazendo-me imaginar a confiabilidade da fofoca, digo, da notícia que ela transmite a seus clientes de jogo de bicho. Se ficou contraditório o choque entre banca de jornal e ponto de jogo, vai aí um esclarecimento: https://www.chumbogordo.com.br/438582-de-pequenos-a-grandes-crimes-por-adilson-roberto-goncalves/.

Por esses dias resolveu morrer Ziraldo. Tanta gente querida morre... Ele pleiteou a vaga deixada por Zélia Gattai na Academia Brasileira de Letras em 2008, mas Luiz Paulo Horta foi o eleito, já substituído por Antônio Torres. A cadeira 23 pleiteada foi a originalmente ocupada por Machado de Assis. Ziraldo tornou-se imortal antes de morrer e sem ter sido acolhido pela casa que, nesta semana, integrou Ailton Krenak a seus quadros. Um feito histórico, coroado por um discurso de improviso, valorizando a oralidade. Sobre ele, lembro, houve uma desnecessária disputa com Daniel Munduruku (https://adilson3paragrafos.blogspot.com/2023/10/alguma-literatura.html). Uma corrente passou a ser quebrada com um digno representante dos povos originários se juntando com sábios das palavras, com bons vendedores de livros, artistas genuínos e com os que sabem fazer política. Um pedaço de Brasil, portanto. Fico imaginando o desenho que Ziraldo faria de Krenak ou se o incorporaria à turma do Pererê como mais um emblemático personagem.

Mas também, por estes dias, deparo com a escrita muito ruim, palavras jogadas feito iscas para dementes. Há os que aplaudem. Quem expele as palavras tenta juntar assuntos díspares, como a política ardilosa e a colaboração tecnológica, mentiras já cobertas de teias de aranha, mas que ainda incomodam pela textura ao tato. Estar junto deles torna-me tão criminoso? Ou é apenas perigo iminente? Uma resposta vem de Brasília. Na votação na Câmara dos Deputados ficou muito bem claro o forte elo, a forte relação da milícia no Rio de Janeiro com a política da direita e da extrema direita. Sim, todos os deputados daquele estado pertencentes a esses partidos votaram por soltar um dos mandantes do assassinato. Todos, incluindo os que se abstiveram ou não compareceram. Apenas os partidos da esquerda daquele estado votaram por mantê-lo preso. Não conheço o estado nem a capital fluminense e passei por lá uma meia dúzia de vezes, sempre a trabalho. Com Lima Barreto andei pelos trens do subúrbio da capital, mas há mais de um século. Sei apenas do que é noticiado, revelando a tensão em que a população vive, pois até seus representantes morrem de medo das milícias, grilhões que não se quebram.

Comentários

  1. 3 parágrafos verdadeiros e super bem escritos.Parabéns estimado autor!

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