Felinicidade

Gatos é o assunto, pois sua felinicidade é contagiante. Somente após os 40 anos é que passamos a ter gatos em casa. Ou melhor, eles chegaram aqui para ficar. Na casa de meus pais, minha irmã teve um gato quando criança, mas era o Xaninho dela, que a esperava quando chegava da escola, escondido em locais diferentes a cada dia. O gato é esperto e instigante e creio que por isso tem sido associado a questões esotéricas e até científicas de difícil compreensão. As bruxas sempre tinham um felino por perto - adoráveis sejam todas essas 'gatas' - e Schroedinger usou um bichano para ilustrar seu conceito de superposição quântica. O oráculo do google diz que neste 8 de agosto foi o Dia Internacional do Gato. Aqui em casa, todo dia e o dia todo é do gato. Dos gatos, já que são quatro felinos que convivem com os quatro humanos e a cachorra. Sem contar o Sassá, o saruê que por vezes adentra a área de serviço para comer a ração dos gatos. Os macaquinhos ficam mais longe, no muro, alimentando-se do fruto do mamoeiro. Comunismo é assim, todos são acolhidos, cada qual com o que pode oferecer e cada um com suas necessidades.

Durante a pandemia, vimos o quão importantes foram as estratégias de convivência para quem não saía de casa. Não que fôssemos impedidos de sair pelo braço - ou tornozelo - da lei, mas porque era o mais lógico a fazer, ainda que criminosamente havia os que defendiam o contrário, engripando a sociedade. Morremos muitos ali, mas os gatos nos acompanharam, tal qual faziam com os faraós, e a terapia felina, se não traz felinicidade, é de uma gaticidade ímpar. Não por menos, a coletânea de contos, crônicas e outros trabalhos premiados pela Unesp naquele período tem no centro de sua capa um gato (https://editoraunesp.com.br/catalogo/9786557141816,vozes-do-confinamento). O gato figurou pouco neste blog, uma meia dúzia de vezes, mas sinto agora que seus significados influenciaram a essência de muitos escritos. Agora, com certeza, se usar a IDA (inteligência dita artificial, na minha concepção), o retorno em números dos resultados mostrará muita adesão ao felino. 

Sendo de saúde que se fala, e preocupado que falastrões de antes, hoje pegam todo tipo de doença no cárcere, perguntei à IDA se os felinos têm soluços. Sim, eles têm e parece que o fenômeno acontece não porque estão presos - ou em vias de serem devidamente condenados -, mas por falta de hidratação e outros fatores. Como isso não é clínica veterinária, nem plenário de tribunal, não há como condenar o gato por soluçar, irracional que é. Se há solução para soluços, resta um vazio, um hiato, ou uma falsa resposta: em tempos de infância, a mãe recomendava dar um forte susto no soluçante. Em gatos funcionaria? Tadinho do bichano! Amenizando a situação e deixando claro que não se trata de preconceito linguístico ou de intenções espúrias, uma colega disse que foi cantada na rede (anti)social com um "podemos se conhecer", eu respondi que menas, menas, ela instigou que eu faria melhor e o que veio à mente? Um "oi, gata". Felinos e sua felinicidade são o que nos fazem, talvez não um gatão, mas felizes.