Coelhos mágicos

A impunidade tem preço. Seis anos de demora em alguns casos, um milhão de euros em outros. Descubro que é possível viajar para outros países fora do Mercosul sem passaporte. Sem visto eu sei que é possível. Mas é preciso ter contatos criminosos adequados, o que dispenso. A Justiça vai aos poucos mostrando que pode funcionar, mas o tempo ainda é sócio da impunidade. O poder econômico continua a mostrar seu peso, em reais, dólares ou outras moedas, pois a conversão de prisão em multas dá o direito de delinquir e praticar crimes e contravenções. Convém citar um trecho da crônica de Lima Barreto "O único assassinato de Cazuza", de 1922, que pode ser lida no site 'domínio público' (http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000169.pdf), em que o personagem afirma que a fortuna dos políticos "se alicerça no crime, no assassinato". O pior é que vai se consolidando a imagem de uma Justiça parcial, ineficaz, tardia, uma ilusão para a população. E muitos dos crimes continuam a ser baseados em mentiras propaladas em profusão pelas redes sociais. O mágico de antigamente tirava coelho da cartola para provar sua capacidade ilusionista. Coisa antiga, furada. Ilusionistas modernos usam crenças com muito mais eficácia.

As fábulas com coelhos são comuns na Europa, as quais importamos com modificações. É a chamada tropicalização cultural. Os coelhos da Páscoa, por exemplo, não são os que trazem os ovos, mas, sim, os que os escondem, isso na origem. Creio que lá nunca houve a ironia de pensar que um coelho pudesse pôr ovos, o que aqui resulta na brincadeira de dizer que as galinhas sofrem enquanto o coelho tem melhor marketing. De qualquer forma, por mais metafórica que seja a comparação com ovos de verdade ou simbólicos de vida e morte, chocolate na forma de barra ainda é mais barato e com o mesmo sabor. Ou será que a curvatura da casca muda a sensibilidade gustativa? Mexe com o bolso mas não com a língua. Para tanto, plasmei uma trova que aqui segue: É ruim, é um disparate / o uso comercial da data; / deixe o ovo de chocolate: / uma barra é mais barata!

O feriado termina e adentramos abril com o dia da mentira, lembrando de uma dura verdade de 60 anos atrás. O vereador da extrema-direita abusa do escárnio ao publicar libelos enaltecendo aquele nefasto período de nossa história, desmerecendo a memória dos que morreram na época e também recentemente, vítimas da violência militar ou policial. Golpe sempre houve e democracia é algo raro em nossa história, como mostram artigos publicados nestes dias, um deles pela Folha de S. Paulo intitulado "O papel dos EUA no golpe e na democracia do Brasil". Os pesquisadores sabem da importância de abrir e estudar a fundo os arquivos ainda secretos nos EUA sobre os anos de chumbo no Brasil, mas em tempos do império da mentira será difícil que mudem a percepção da população e diminuam a atuação da teo-direita extremista. Não há magia que alivie a dor, mas há memória que não permita que ela seja repetida.

Comentários

  1. Impressionante viajar para outros países sem passaporte.
    O dia da mentira mudou para 08/01

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