Crimes e verdades
A professora Elisabeth Tenreiro era também técnica em química. Trabalhou em grupo de pesquisa no Instituto Adolfo Lutz, aposentou-se e foi se dedicar ao magistério. Foi morta na escola em que estava trabalhando há menos de dois meses. O adolescente que a matou feriu outras pessoas e investigam se houve mais gente envolvida no crime. As chamadas redes sociais têm papel importante na disseminação do discurso de ódio que alimenta a violência real, travestida de virtual ou de desafios perante grupos. Estudos mostram não haver uma correlação direta entre usuários e consequências quanto a jogos eletrônicos. Mas há muito mais nessa seara digital do que podem imaginar as analógicas mentes pensantes. Perdemos um tanto de nossa humanidade quando tais tragédias acontecem. Minha formação e atividade semelhantes às da Elisabeth tornam o sentimento de perda ainda mais próximo. O fato fica pior quando as autoridades dão uma resposta assustadora, apontando que se deve aumentar a violência para combater a violência. Pouco aprendemos sobre comportamento humano, portanto.
A mulher se aposenta como pesquisadora e decide continuar trabalhando. É professora agora e pode ter tomado a decisão por vários motivos. Desejo, compromisso, finanças, relacionamento. Não mais saberemos e não importa. Ela fazia o que queria. Todos devem fazer o que querem. Colegas apontam a vontade de trabalhar com jovens na busca do conhecimento como um dos fortes motivadores. Tendemos a glamourizar aquilo que pode ser corriqueiro e a formação educacional deveria possuir menos obstáculos, ser mais fluida, não fosse o poder que carrega. O mês de março deve também lembranças às lutas femininas e a de domínio sobre o próprio corpo é uma delas. Pincelei minhas opiniões aqui, repetitivas em parte: https://port.pravda.ru/sociedade/58014-mulher_aborto/. Sei que ainda é controverso falar de direito ao aborto, mas, da mesma forma que a violência e a vulnerabilidade social nos cercam, precisamos enfrentar a questão de decidir a quem pertence um corpo, se à pessoa ou ao Estado.
O atraso no blog reflete a diminuição da velocidade das conexões entre dedos e neurônios, sem contar a visitinha ao Dr. Mecânico. Tentei fazer com que a publicação ficasse no primeiro trimestre do ano, mas a internet falhou, perdi umas linhas dos parágrafos acima, reescritos. Ou seja, havia outro relato para os fatos narrados. Mesmo a postagem caindo no dia da mentira, tudo é verdade. Buscando esclarecimentos sobre a arte de escrever, estou aprendendo um pouco mais sobre a formação de nosso idioma por meio da leitura de "Latim em pó", de Caetano Galindo. Uma delícia! O contato com esse livro e outros muito bons vem por meio da indicação de resenhas especialmente publicadas em revistas, as quais recomendo, para repetir sugestões: Cult, quatrocincoum, CartaCapital, piauí. Os ares já ficaram bem melhores, isso é fato, mas um mar de impunidade ainda precisa ser apurado (https://www.brasil247.com/blog/corrupcao-grauda-e-impunidade).
excelente o trio de textos de hoje
ResponderExcluirGostei dos textos e da perspectiva adotada.
ResponderExcluirAssuntos importantes tratados nos textos e tristes pelo ocorrido com a professora...Mesmo que a gente tente entender o porquê de fato tão triste, e não apenas este, mas uma série de crimes, que têm sido reportados, não chegaremos a um entendimento, penso eu.
ResponderExcluirMaria Felim