Para não dizer que não falei de medalhas

E vamos pelo ar, terra, quadras, águas e mar conquistar medalhas olímpicas. Até aqui estamos com os pódios mais negros e femininos nas Olimpíadas. Pena que tal consagração não se reflita na sociedade como um todo. Mas é um primeiro passo, ou um salto, para ficar com uma das habilidades de Rebeca Andrade, o retrato de um Brasil que pode dar certo. Farão um álbum com as imagens icônicas capturadas, ou melhor dizendo em linguagem raiz: com as belas fotografias tiradas. Tudo bem que uma dessas medalhas é de um negacionista surfista e nem fui atrás de detalhes dos demais esportistas, desmemoriados que são da Bolsa Atleta que sustenta a muitos. Há jornalistas que não se avexam em afirmar que não sabiam de muitos outros esportes mais interessantes que o ludopédio. Sempre fui fã das bolas realmente rápidas, do vôlei e do tênis, mas preferem o jogo da cera, da catimba, do recuo, do toquinho lateral, que não faz gol e nem sabe lidar com o VAR. Houve uma imagem histórica dessas bolas rápidas a que assisto: a consagração do tenista sérvio com medalha de ouro, também notável antivacina que não pôde jogar alguns torneios durante a pandemia devido a essa posição egoísta. Sim, ele estava protegido porque os demais ao seu redor se vacinaram.

Não gostaria que as Olimpíadas terminassem com o complexo de Muttley, tal como estão dizendo nas mídias e redes, em referência ao personagem de Hanna-Barbera, um cão, companheiro do Dick Vigarista, que gostava de ganhar medalhas toda vez que fazia algo de útil ao mestre. E se deleitava com elas, depois de pedir várias vezes: medalha, medalha, medalha! Terminaremos estes Jogos parisienses com 19 medalhas, talvez 20 se o vôlei de quadra feminino vencer a disputa pelo bronze com a Turquia. Não bateremos recorde, mas despertamos para modalidades esportivas antes pouco conhecidas. Ou proibidas, tal qual o skate, que foi liberado em São Paulo por Luiza Erundina em 1989, como ela lembrou no artigo recente para a Folha de S. Paulo "Skate: da proibição autoritária às medalhas olímpicas" (7/8). A deputada e ex-prefeita era visionária e continua sendo um bastião da boa prática política, não somente pelo incentivo que deu ao skate, cujos frutos são vistos no Brasil todo, mas também por sua coerência e visão da gestão pública.

O evento esportivo em Paris é uma consagração aos deuses do Olimpo - ou dos deuses. A dúvida aqui é se foi feita e promovida pelos deuses ou se foi feita para eles. Assim é, pelo menos quanto ao nome e ao resgate histórico daquilo que os gregos deviam fazer há milênios, ainda que ignorantes contemporâneos tenham confundido esses deuses com os análogos cristãos. Ah, não fosse alimento para o extremismo, seria um deleite discutir essas forçadas confusões, com total sincretismo religioso entre entidades ditas pagãs e outras ditas santas. Sendo político este exemplo de guerra cultural, aproveitei algumas outras ações bélicas em curso (elas sempre existem) para tecer um artigo para o Brasil 247 (https://www.brasil247.com/blog/deuses-e-guerras). O site agora restringiu o acesso a curtidas e comentários, então fico sem saber a opinião do público que porventura lê o texto. O trágico e o belo dessa história é que todos são invenções humanas, os deuses e os jogos.

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