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Beleza

O belo é estético, é íntimo, é relativo, é interativo. O belo é único e é insano porque é meu. O seu belo também será seu, não se preocupe. Mas também o belo é bélico nas guerras insanas. Há muito me incomoda a origem da beleza e da guerra resultarem homógrafos homófonos tão distintos, tão opostos. Coisas de uma rica língua neolatina. A belonave é de triste guerra, não de nobre paz. Pena que a paz não seja tão ligeira como seu palíndromo, o zap, em que mensagens fluem em velocidade próxima à da luz, arrastando coisas das mais diversas, incluindo a beleza. Sim, muito lixo é transportado pelas ondas cibernéticas, mas aos olhos e ouvidos atentos restará uma boa dose de boniteza ali. E nem precisa ser um quadro de Renoir ou uma sinfonia de Beethoven, nem mesmo um poema de Leminski, nem uma escultura de Rodin. A arte é bela pelo que desperta, não pelo que é. O ser belo é predicado, restando ao sujeito da observação a responsabilidade pelo verbo que lhe dará existência. Pureza rima com belez...

Ano ao meio

Acabei de sair de uma "Riobaldia" na Biblioteca Municipal Prof. Ernesto Manoel Zink, dentro das comemorações do aniversário de João Guimarães Rosa. A experiência em quase êxtase com a oralidade do escritor e suas palavras reflexivas e profundas faz com que integrem um estudo mais coeso e longe destes parágrafos. O período desses dias foi marcado pelas festas juninas chegando ao fim, dias em que consegui ir a algumas quermesses e saborear um quentão com pastel e cachorro-quente. O gastro não deve ler essa confissão e poderei dizer que está tudo bem, depois de uma endoscopia conjunta com uma colonoscopia para aproveitar a sedação. Também foi feriado em Rio Claro, no mesmo dia do São João, emendado com o anterior, de Corpus Christi, o que resultou seis dias sem atividade de trabalho, mas que nada mudou na diminuição da lista de afazeres. O tempo é igual para todos, mas a maneira como ele é preenchido é o que dá a dimensão do prazer ou não de usá-lo. Há tempo para tudo e tudo tem...

Química aos pedaços

Surpreendi-me com o desconhecimento do repórter da rádio CBN Campinas quanto à palavra cavaco. Um caminhão carregado deles tombou na estrada, bloqueou todas as pistas de rodagem e espalhou a carga. Caos matinal na cidade. Mas o repórter tentou achar sinônimos com os quais tivesse mais familiaridade, pois cavaco era-lhe estranho. Lascas de madeira foi o termo encontrado. Cavaco não. Consultei outros ouvintes e parece que cavaco não é mesmo um termo comum. Associam o diminutivo ao instrumento musical, mas não aos pedaços resultantes do corte de toras de madeira, que serão usados na polpação para obter papel ao final do processo. Papel de múltiplos usos, até para escrever cartas, não podemos deixar de registrar. Foi com uma dessas ao jornal que iniciei minha trajetória de missivista contumaz e foi com outra, de amor, que a cultura lorenense me descobriu. Até cartas manuscritas mantêm seu espaço, diminuto, mas existente ( https://correio.rac.com.br/campinasermc/habito-de-escrever-cartas-so...

Saberes reflexivos

Minha irmã gêmea de Academia Campinense de Letras, Maria Cristina de Oliveira, disse que os textos do blog estão ficando mais reflexivos e filosóficos. A filosofia é-me disciplina estranha, por pouco contato que pude ter com ela em meus anos de formação, nos quais grassava a ditatura militar que nos ocultou quase todos os saberes das Humanidades, além dos corpos assassinados em porões. O pouco que passei a saber na época do colégio foi devido ao Orestes, militante revolucionário, que conseguia subverter a ordem e nos apresentar e ofertar os livros da coleção Primeiros Passos  ("O que é...") para leitura. Reflexão, sim, creio que é uma constante na lavra do escritor, uma vez que é de si que ele fala ao mundo, mesmo quando é ficção - tanto o eu quanto o mundo retratado. Se há pouco mundo interno ou externo nesse retrato, tornará o escrito retraído, não retratado. A Maria Cristina esbanja gentileza nos comentários, tanto quanto esbanja talento em seus escritos, a começar pelo pr...

Semana pós-ambiental

A semana inicial de junho desperta os instintos mais primitivos ao completar mais uma voltinha ao redor do sol e comer bolo recheado de abacaxi. A trajetória é inevitável, o conforto da viagem é que pode ser trabalhado. Não há lugar reservado na janelinha, nem no corredor com mais espaço para esticar as pernas, apenas um seguro voo de um planeta pelo espaço. Mas, pelos acontecimentos recentes, foi grande a tentação de escrever apocalipse no título, em vez de semana. Ao que tudo indica, apesar de haver dia para comemorá-lo (junto com o aniversário), o meio ambiente continuará a ser pela metade, não por inteiro. Longe de ser uma anedota pronta, chinfrim, é questão de sobrevivência geral e irrestrita. Não poderia deixar de registrar a indignação com a passagem da boiada da devastação no Senado Federal em função da aprovação do indevido projeto de lei que "flexibiliza" a fiscalização ambiental. A publicação é tardia, porém necessária. Também na mesma semana, o folclore local gero...

Retratos em branco e preto

Foi-se Sebastião Salgado e sua doce e amarga interpretação da realidade. Basta o artista morrer para aflorar a lembrança de sua obra. Triste, mas real. Parece que nos retraímos ao referenciar os intérpretes do mundo quando ainda vivem. Precisamos reverter tal tendência, pois, por mais inexorável e abundante que a morte seja, há tempo para viver. E são muitas as vidas vividas e vívidas que tornam símbolos, como foi a de nosso cosmopolita fotógrafo brasileiro. Nas redes sociais pipocam anônimos ao lado de Sebastião Salgado, provando que lá estiveram e um átimo de tempo puderam com ele compartilhar. Não tenho fotos com ele, nunca me aproximei, mas tenho as fotos dele em belos livros e intensas memórias. Das minhas anotações - em cadernos, rascunhos e arquivos digitais - constato que fui admirador totalmente passivo de sua obra, uma vez que não encontrei sequer uma linha de comentário a algum lançamento ou reportagem. Essa ausência de palavras não joga nenhuma luz sobre a importância dele ...

Tempo de amor

Sou viajante do tempo, revelo a todos neste testamento, uma vez que descobriram essa minha faculdade pelas verdadeiras redes sociais nas quais mostro as imagens das viagens. Viajo todos os dias em direção ao futuro, afastando-me do passado. Pressinto aquele sem esquecer deste. Por vezes, inúmeras vezes, confesso que faço longas viagens ao passado, quando leio os clássicos da literatura ou assisto a excelentes filmes. Antecipar as viagens ao futuro eu também pratico, com os livros de ficção científica - que também são boa literatura-, mas, nesse caso, a garantia de legitimidade é menor. Bem, quem leu Júlio Verne, de mais de um século e meio atrás, fez viagens garantidas ao futuro, sabendo o sucesso da empreitada apenas depois, bem depois. Já com Isaac Asimov, nos anos 1950-1980, a viagem ainda está por ser certificada. Creio que, em breve, Asimov será mais um futurista concretizado, como o fora Verne. Todos esses escritores ficcionais viveram proximamente à ciência para garantir a veros...

Fusca azul

Na correria de juntar os documentos de meu falecido pai, esquecidos em antigas caixas de camisa feitas de papel, apareceu uma tirinha verde e amarelada, lembrando o título de eleitor de antigamente. Não era. Era o documento de propriedade do fusca vermelho que ele teve décadas atrás. Certificado de registro e licenciamento de veículo é o nome correto e não havia versão digital como hoje. Aliás, sem o celular em mãos, não é mais possível se identificar ou comprovar quem somos e por onde vamos. Já somos um código binário impresso em nossos telefones. Conheci bem aquele carrinho, pois foi nele que aprendi a dirigir pouco depois de fazer 18 anos. Não tive muito interesse em seguir adiante com a habilidade e somente perto dos 30 anos é que usei o aprendizado para tirar a carteira de motorista (ou carta, como dizem muitos motoristas aqui em Campinas, mesmo não trabalhando nos correios e não remetendo o documento a ninguém). Ainda acreditava que a bicicleta era o melhor transporte para curtas...

A mãe dos fatos

Eis a sequência selecionada de efemérides no pós-feriado: 4 de maio é o dia Star Wars, coisa dos amantes da saga ( May, the fourth ); dia 5 é o da Língua Portuguesa; e o 6 é dia da Matemática. Somente aqui temos uma tríade de peso semanal e seminal. O de nossa língua foi instituído pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, e o da matemática é homenagem ao nascimento de Malba Tahan, nosso escritor Júlio César de Mello e Souza, que viveu a infância em Queluz, no Vale do Paraíba. Os acontecimentos diários são a origem de lembranças para os próprios fatos e suas consequências e circunstâncias. Se vivemos, acontecemos. Deixaria tais efemérides óbvias de lado, pois o mundo católico escolheu um novo Papa por estes dias, de olho na cor dos produtos de combustão que saíam das chaminés do Vaticano. Na sucessão de Bento XVI eu até me candidatei, com carta publicada e cheio de intenções. Desta vez, na sucessão de Francisco, abri mão. Pelo jeito, conseguiram escolher uma fera para a posição....

Trabalho científico e cultural

Nos tempos de Lorena, o Primeiro de Maio era invariavelmente passado nos Estados Unidos participando de congresso científico anual na área de biocombustíveis. Outros tempos, mesmos interesses. Naquele país não é feriado, o que foi surpresa no início das participações, acreditando tratar-se de uma comemoração mundial, tal como é o Natal. De presente, apenas nossa presença nas três sessões diárias - manhã, tarde e noite - em que o evento era organizado. O grupo de brasileiros sempre foi significativo, e alguns alunos meus de doutorado tiveram seus resultados lá divulgados, aproveitando oportunidades para desenvolver estágios em outros laboratórios. A internacionalização da ciência serve para isso também. Os encontros científicos de hoje foram reduzidos no tempo, mas não na importância. Vinte anos atrás, o estabelecimento de combustíveis advindos de fontes renováveis era questão primordial na pesquisa científica para o combate ao aquecimento global e mudanças climáticas, com o protagonism...

Português de leituras

O cientista viaja quando a participação em congressos internacionais assim o permite. Estive no Algarve de Portugal, cidade de Albufeira, em que os polímeros foram o tema principal do encontro. O projeto financiado pela Fapesp voltado à biorrefinaria de frutas financiou a viagem. Pagar tudo em euros, incluindo uma simples passagem em ônibus urbano, é desagradável ao bolso quando se converte o valor para nossa suada moeda. Recomenda-se ao viajante não fazer esse martírio, mas acaba por ser inevitável. A água fria que banha a cidade convidou para uma molhada no pé, nada mais. O tempo foi curto. As crianças na praia se divertiam em mergulhos congelantes, talvez porque o gene nórdico do termostato regula-se pela latitude, não pela idade, nem pela atitude. Se não se nada, nada melhor que comer. O peixe servido conserva o sabor do mar e as energias gastas pelo pescador para tirá-lo de lá. Uma delícia de espadarte for servida no jantar da quinta, meio de feriado para brasileiros e creio que t...

Malhação do blog

Um dos textos mais bonitos de Euclydes da Cunha é Judas Asverus , que relata a malhação do boneco representando o traidor mais conhecido de norte a sul, de leste a oeste, de muçulmanos a católicos, passando por judeus e venerandos ateus. Não é à toa que o Judas é assim considerado e seu nome virou sinônimo do que é. Pude ler alguns trechos da crônica de Euclydes nas palestras que dei este ano sobre o autor de Os Sertões , ressaltando que estava apresentando outros textos dele, incluindo estudos sobre a Amazônia, a geopolítica mundial (de um século atrás e que se mantém grosso modo  até hoje) e a forma como a República havia sido plasmada de forma conturbada a partir de um Império já claudicante. A professora Anabelle Loivos Considera, da UFRJ, defende em seu grupo de estudos sobre Euclydes da Cunha que falta na formação de professores de literatura o estímulo à leitura. Assisti a uma leitura dela de Judas Asverus e foi arrepiante. Discutimos muito e lemos pouco nossos autores. E a...

Jogo da verdade

A jornalista Giovana Madalosso anunciou que faria uma coluna escrita por robô (para quem tem acesso:  https://www1.folha.uol.com.br/colunas/giovana-maladosso/2025/04/pedi-para-ia-escrever-esta-coluna.shtml ). Seria um crime? Ela desconversa e revela que não o fez para não ser demitida do jornal, que deve pagar por colunas originais e não plasmadas no nebuloso mundo cibernético, mas a articulista incorporou alguns trechos da resposta da inteligência artificial que foi indagada a elaborar um texto nos moldes que a própria articulista escreveria. Ou seja, ela fez o teste e não gostou muito. Crime menor, sem cores. Melhor ainda: ela publicou alguns trechos que lembram seu estilo, com a ressalva de que não havia gostado e os usou como exercício de entendimento sobre o que é essa ferramenta tão falada e afamada. Tudo registrado em aspas, tal qual a fala de uma fonte anônima escondida em algum órgão suspeito de falcatruas ou do infiltrado em manifestações criminosas pelas avenidas. O resu...

Mentiras virtuais

O primeiro de abril não é aceito pelo computador. Escrevo 1/4 e ele altera para a fração um quarto. Mentiroso artefato eletrônico! Não sabe ele que a data foi estabelecida para lembrar o dia de um dos golpes (não o mais recente e, pelo que vemos, não será o último), retroagido em algumas horas para dizer que foi no último dia de março? Até nisso a mentira prevalece e nos convence. O usuário atento sabe que é a configuração do redator de texto que transforma a digitação em símbolos, mas foi uma boa mentirinha dizer que é a máquina a responsável por aquilo que eu deixei de fazer. Os bytes e bits computacionais podem nos enganam. Foi pensando nisso que recebi uma proposta da operadora de celular que parecia trote de primeiro de abril. Dizia que fui escolhido para aderir à promoção dos sonhos e ter mais "mega no meu plano". O prefixo que indica quantidade, ou melhor, um fator de multiplicação, virou a própria unidade de medida e objeto da negociação. Mega é igual a multiplicar po...

Regência republicana

Regência gramatical é algo que já não existe mais. 'A coletânea que participo' foi assim anunciada por um escritor, solicitando colaboração para bancar a edição, o que me faz pensar o quanto ele domina a linguagem com a qual quer comunicar sua visão de mundo, seus sentimentos e pedidos de ajuda financeira. Se é falha na origem, o que dizer do que é perdido no caminho até chegar a quem lê. No longo trajeto entre as ideias e os ouvidos, as frases e sentenças se deterioram em fases e sensos. Ou será que a aposta é na semelhança de nível literário, ou seja, quem for ler é tão privado das regras gramaticais mais simples que não fará diferença usá-las ou não? Deve ser essa a explicação e a irritação é somente minha, ranzinzo de palavras ditas&malditas. Não, não sou afiado na escrita, nem formado em línguas não sensoriais, muito menos sabedor dos estilos e da linguagem, mas tento, ao menos, corrigir o que escrevo. Os dicionários e gramáticas estão aí para isso, ainda mais agora ac...

Segredos que fazem água

A semana iniciou com a ansiedade pelo levantamento do sigilo de documentos referentes ao assassinato de JFK. Parece que nada de novo dali aflorará, mas a expectativa era de que, enfim, esclareceriam o trajeto da bala mágica que matou John F. Kennedy, ou que a CIA, KGB e não sem mais o quê poderiam estar envolvidas em seu assassinato e no assassinato do assassino dias depois. Um prato cheio para teorias da conspiração e adorei assistir ao filme de Oliver Stone JFK - A pergunta que não quer calar , de 1991, que trata de outras versões do crime, além do mostrar o assédio a Abraham Zapruder e seu filme caseiro, considerado o único registro detalhado dos tiros na comitiva em Dallas, naquele 22 de novembro de 1963. Outro filme, Parkland , de 2013 dirigido por Peter Landesman, realça as inconsistências na autópsia do presidente morto. Os mais de 2 mil documentos, com 60 mil páginas, agora liberados, podem ser consultados aqui:  https://www.archives.gov/research/jfk/release-2025 . Vou agua...

Sentimentos em círculos

Sentir a falta de alguém com quem não se conviveu ou lamentar a morte de quem não se conheceu. Sentimentos ilógicos, talvez. Outros dirão que são apenas parte de nossa condição humana. Minhas lágrimas são apenas salgadas e não sei o quanto elas contribuem para apaziguar o sofrimento alheio. Mas são acontecimentos com sujeitos determinados, ainda que queiram nos fazer crer que é o acaso que determina certas mortes. O motorista que morre pela queda da árvore, fruto da falta de manutenção da prefeitura, sensibiliza. Querem convencer que é a malvada chuva a culpada. A menina que é arrastada pela enchente e desaparece, isso porque não houve ações de combate às mudanças climáticas extremas, comove. Novamente, imputam apenas à água que cai a razão da tragédia. Travamos muitas guerras no ambiente urbano, parecendo que todos querem ser xerifes, mas não há um gerente. Em uma guerra, ainda mais na urbana, depois da verdade, as vítimas mais tristes são as crianças. E também morremos de doenças e c...

Festa imodesta

Usando um pouquinho de Chico Buarque, com a devida vênia, as festas do fim de semana foram espetaculares. Ganhamos o Oscar de melhor filme internacional com Ainda estou aqui ! E a consagração de Fernanda Torres mostrou uma atriz expressiva, madura, carismática e pronta para papéis mais ousados ainda. Walter Salles finaliza um filme/documentário sobre o jogador Sócrates e Fernandinha tem sido sondada por diretores de Hollywood. Que o Oscar seja como as medalhas olímpicas e paralímpicas: aconteçam sempre. Ou pelo menos, que apareçam às vezes nos ciclos olímpicos, pois sabemos que as oscilações, tanto no esporte quanto na arte, fazem parte. Quiçá, um dia, até uma final de futebol vire algo tão engajado e empolgante quanto uma disputa pelo Oscar! Sei, exagerei em meu entusiasmo. Fiquemos com as certezas de empolgação mais pé-no-chão do voleibol e do tênis. Esses estão acontecendo a pleno vapor com as últimas rodadas da fase de classificação das superligas de voleibol, masculina e feminina,...

Sonhos

Vivemos um carnaval de sonhos, não apenas pela possibilidade real de ganharmos um Oscar, de forma direta, pela primeira vez, mas também por outros acontecimentos políticos que podem ser concretizados. Esperemos. Digo de forma direta porque já ganhamos o Oscar uma vez com Orfeu Negro (também chamado de Orfeu do Carnaval ), mas a titularidade de prêmio ficou com a França, uma vez que a produção foi deles. Quem paga é dono, não importa se por um lote de terra ou por uma obra cinematográfica. O filme é de 1959, ganhou o Oscar em 1960, e foi dirigido por Marcel Camus. Ele é baseado na peça teatral Orfeu da Conceição , de Vinícius de Moraes, e totalmente falado na versão tropical sul-americana da língua de Camões. É importante localizar bem as coisas, pois os mapas geográficos estão ficando obsoletos, à mercê de doidivanas que comandam países poderosos. A Europa uma vez já foi dividida entre o Terceiro Reich e o resto. A América volta a seguir um rumo extremamente perigoso, um pesadelo para...

Mudança de direção

Reler escritos antigos leva a refletir sobre o seu conteúdo. Opiniões mudam com o tempo. A base moral é sempre a mesma, é apenas aperfeiçoada, lapidada. A pessoa não muda e, por isso, julgo ser difícil que mudanças drásticas nessa base moral aconteçam. As surpresas que nos acontecem são fruto de não conhecermos a fundo a índole alheia - talvez nem entendamos por completo a nossa própria. Por isso é bom explicar para si o que vai pela mente. Eu uso da escrita há um bom tempo, não apenas o que compartilho e publico, mas aquilo que segue em cadernos de capa dura, feito a intimidade de um diário que nunca ninguém lerá. Gosto de rever os escritos antigos para explicar para mim o que mudou, se tenho justificativa para uma ou outra posição que seja criticada, ou se é fruto do transcurso esperado no desenvolvimento humano. Lauro Péricles Gonçalves faleceu nesta semana e foram muitas as homenagens e lembranças a sua vida e a seu legado, em particular à valorização da cultura campineira. Meu res...