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Manga e topázio

Talvez o conteúdo do blog tenha mudado a fim de acomodar o ritmo acelerado do momento, o que também compensa atrasos e frustrações. Como dizem os "coaches" charlatães, vamos trazer o positivo e expulsar o negativo, como se a natureza assim o permitisse. De qualquer forma, devemos falar mais de vida do que de morte, ainda que uma seja consequência da outra. Ao nos posicionarmos no mundo, física e politicamente, engolimos muita coisa, de sapos a microplásticos, de alimentos a venenos, mas uma joia guardada em estômago seria mais nociva de que a chance de contrabando, pergunta que faço. Já engoli uma bolinha de gude, que, lisa e placidamente, saiu por onde tinha de sair, sem necessidade de intervenção interna. A mãe dirá que rezou, mas, mesmo que assim fosse, não foi ajuda interna. A intervenção do além não conta. Alguns alimentos podem ter sido ingeridos para facilitar a movimentação. Isso já não lembro. Mas saiu. O vidro esférico não era um topázio, ou qualquer outra pedra val...

E novembro começa

Dia dos mortos, de santos, de fadas, de bruxas e de sacis. Cosmicamente, estamos aproximadamente entre o equinócio da primavera e o solstício de verão, talvez por isso os ancestrais tenham dedicado o período à interlocução mística e mítica com o mundo real. Sim, quase tudo o que rege as crenças e religiões modernas possui uma raiz em um passado não muito distante. Cada crença, da mesma forma que cada conhecimento, é construída sobre algo que já estava ali, aprimorando-o ou deturpando-o. Isso serve para mundos reais e imaginários. A Idade Média - retrógrada em termos religiosos, por exemplo - foi profícua no desenvolvimento científico em outras partes do mundo que não a Europa central. Hoje o retrocesso religioso parece mais amplo e intenso, penetrando de forma explícita na vida cotidiana de todos. Nunca antes foi disseminado tanto ódio por meio de instrumentos tidos como do amor. E o conhecimento tem sido outra vítima, além dos que vestem peles escuras e moram em periferias, levando a ...

Guerra e paz

A obra "Guerra e paz", de Leon (ou Liev) Tolstói, é um catatau de mais de 1500 páginas, considerando uma edição mais recente de capa dura. Foi lido há um bom tempo e não está na lista para releitura, por enquanto. Concluído em 1869, conta a história das guerras europeias do início do século XIX, tendo Napoleão Bonaparte como um dos personagens, mas não é sobre ele o enredo, mas, sim, de famílias aristocráticas e suas incursões bélicas, com as inúmeras consequências. Uma obra desse porte possui várias versões e parece que o autor manteve os originais com outro final que foi publicado bem recentemente, além da primeira versão, que começou a sair em fascículos em jornal, como era comum na época. O filme, baseado no livro, em intermináveis três horas e meia, é outra obra prima. Feito em 1956, com Audrey Hepburn, Henry Fonda e grande - no duplo sentido - elenco, foi dirigido por King Vidor e creio que passou na televisão na forma de capítulos, como uma minissérie. Também tenho mem...

No ritmo do algoritmo

A liberdade é determinada pelo algoritmo, eis o resultado de nossas escolhas modernas. Na minha time line aparecem sites de literatura, de escrita criativa, de matemática, de curiosidades científicas e dos meus amigos mesmo, ou, ao menos, conhecidos ao longo da vida. Mas quando aparece algo inusitado, como uma propaganda da extrema direita ou um site de pseudociência vendendo cura quântica, eu fico preocupado se o algoritmo encontrou em algum clique meu aquela tendência. Sim, somos produtos de nossas buscas frenéticas pelo mundo cibernético, queiramos ou não. Quando fiz a especialização em Jornalismo Científico, há oito anos, foi a primeira vez que fui apresentado ao poder computacional de ler nossas mentes e lábios. Se conversamos sobre um assunto próximo a uma dessas máquinas, não tarda para que apareçam propagandas com alguma referência ao que falamos. Se comenta-se que hoje pode estar chovendo e que não tem guarda-chuva, nem capa plástica de proteção, em alguns minutos aparecerá u...

Guardando segredos

Creio que o dia da secretária é pouco lembrado. Comemorado a 30 de setembro, era a ocasião em que se dava um cumprimento especial àquelas - sim, eram quase todas mulheres - que faziam funcionar os escritórios e departamentos, por meio de sua organização e atendimentos. Não chegava a lhes dar flores, mas deixava uma frase para registrar a data. Portadoras dos segredos, segundo a etimologia, partilhavam os anseios para que a burocracia funcionasse, ainda mais no tempo em que o papel era o elemento crucial de despachos, memorandos, processos e que tais. Hoje é o dedo trêmulo sobre o teclado, mouses e telas que decide para onde vai o documento, também virtualmente escrito, quiçá por alguma ferramenta da inteligência dita artificial. Os verbos estão no passado porque não acompanhei a modernização de secretarias na última década e talvez faça injustiças. Ser injusto é condição humana piorada quando resultado da falta de conhecimento.  Elas e todos nós realizamos funções nem sempre valori...

Te amo

É primavera e Tim Maia perfuma o ambiente com seus graves sons coloridos. A mudança de estação faz agitar as árvores, os pássaros e nós humanos em nossos ninhos e nichos, exacerbando os fluidos naturais que carregam o amor que nunca nos abandona. Falar-te-ia amo-me, caso a mesóclise fosse algo palatável para a egoísta relação. Mas vamos usar outras relações gramaticais, com orações mais coordenadas e menos subordinadas. E mais simples. Nossa língua é saborosa, soube-me muito bem com as inserções que se mesclam por glotes e glandes. O corpo fala, e fala mais na estação das flores, e paro aqui os trocadilhos para não ser censurado com rótulo de 18+ nos escritos do blog. Não é necessária a pornografia para a plena grafia. No âmbito acadêmico e literário, registro a felicidade de ver o Daniel Munduruku eleito para a Academia Paulista de Letras, o primeiro indígena a adentrar a agremiação ( https://www.academiapaulistadeletras.org.br/noticias.asp?temp=10&materia=5857 ). Meu colega da Ac...

O motor e o som

Todos os homens do ex-presidente tramaram ao longo da semana e o filme que consagrou os bastidores que levaram ao escândalo de Watergate foi relembrado devido à morte de Robert Redford, um dos protagonistas. Foi no mesmo dia em que lembramos os 129 anos de morte do campineiro Antônio Carlos Gomes, o maior compositor das Américas, em 16 de setembro. O carro na oficina, de novo, impediu a ida à bela cerimônia no monumento-túmulo e a outras apresentações musicais na cidade, que respira um mês destinado à memória do maestro. Ainda há eventos acontecendo nesta última semana, cuja programação pode ser conferida aqui: https://campinas.sp.gov.br/noticias/mes-carlos-gomes-2025-tem-programacao-especial-em-campinas-confira-as-atividades-128547 . De certa forma, a resignação doméstica foi injustificável, pois transporte não falta. O resguardo vai além de uma falha mecânica automotiva, uma vez que são outras as disfunções. Estou doente, uma tosse tratada a xarope, que deve ser consequência de algo ...

Placares

O gol é o objetivo do futebol. Um jogo que termina em zero a zero deveria, da mesma forma, não dar ponto nenhum aos dois times. Se não deram alegria ao jogo, por que obter alguma premiação? Dirão que, mesmo com o placar imaculado, um time atacou mais e o outro conseguiu se defender bem e, por isso, não houve gols. Sim, mas outros jogos são mais francos e os gols aparecem. Na minha ingenuidade futebolística, isso estimularia o time a sair para o ataque, pois perder o jogo teria o mesmo peso de empatar em zero a zero. Mas parece que os torcedores, os cartolas, os comentaristas e os patrocinadores somente estão preocupados com a ficha policial de cada um, envolvidos que estão com brigas, desvios de dinheiro, bilionários contratos publicitários e de transmissão, corrupção e uso de sistemas ilegais de apostas. Continuo preferindo as bolas mais rápidas do vôlei e do tênis, não que sejam isentas das brigas e fluxos financeiros. Elas não me dão sono. Saindo do esporte e indo para uma palestra ...

Cartas

É um pleonasmo redundante a cotidiana missiva diária do dia-a-dia que me faz interagir com o mundo frio ao redor. Se não aquece a inexistente alma, esquenta o teclado derivado da máquina de escrever, lembrando o tempo das aulas de datilografia. A Folha de S. Paulo me presenteou com a dedicação, abrindo espaço para publicar "Missivista contumaz" por ocasião de seu aniversário deste ano ( https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/02/missivista-contumaz.shtml ). Não que o jornal publique tudo o que lá chega, mas alguma coisa fica estampada naquelas páginas. Chamamos de cartas, mas estão longe daqueles papéis pautados ou não, com letra cursiva em que o pensamento vinha antes da expressão, pois não se admitiam rasuras. Algumas eram perfumadas, como as que recebia naquele longínquo mês de março de 1994 quando estava ainda só na Europa. As missivas podem render prêmios inusitados. Já ganhei dois anos de assinatura da revista CartaCapital pela seleção de cartinhas lá publicadas, ain...

Não tenho roupa para a festa

Nos tempos de Faenquil, a Faculdade de Engenharia Química de Lorena, antecessora da Escola de Engenharia de Lorena, hoje um campus da USP naquela prestigiosa cidade vale-paraibana, estudamos os resíduos agroindustriais de várias maneiras. Certa vez fomos procurados por uma jornalista voluntariosa que queria investigar a possibilidade das fibras de bagaço de cana comporem tecidos finos a serem usados em desfile de modas. Ela tinha contatos e a ideia de compor uma bandeira - um pedaço de tecido que seria usado para costurar um vestido, por exemplo. Conseguimos um financiamento para bancar um pré-estudo que incluiu alunos de graduação. Batizamos a empreitada de "bagaço-fashion", não sem a devida ironia. Usando a semelhança fonética, dizia-se que eu era fashion: fechem os olhos para o que visto. O que de mim é visto não é o que visto. Nunca tive preocupação ou interesse para o vestir. Meus dois ternos são os mesmos comprados e usados pela primeira vez no casamento de meu irmão, ...

Narrando o imaginário

No final de semana foi a festa de aniversário dos 16 anos da Academia de Letras de Lorena (ALL), com excelentes palestras, bolo e o lançamento da coletânea contendo a produção de todos os integrantes de nossa entidade. Sumários acerca do acontecimento pipocam por aí e o caminho primeiro para ver as fotos e ler comentários é o Instagram ( https://www.instagram.com/academiadeletrasdelorena/ ). A parte musical ficou por conta dos Acadêmicos Guto Domingues e Joffre Capucho, que fizeram duetos e apresentaram o Hino da ALL, composto pelo Joffre e pelo também Acadêmico Luís Otávio Cardoso; vejam só, temos um hino! Meu artigo na coletânea relata a história deste jovem Blog dos Três Parágrafos, com seus frutos, acidentes, agruras e a conclusão de que é meu principal lugar de fala e de refúgio. A narrativa que empreguei foi a mais próxima da realidade, mas, escritor que todos somos, o imaginário adentra toda e qualquer página escrita. Por isso preciso atualizar o Blog, pois quero ficar pronto pa...

Escolha de palavras

Cada palavra possui um significado único. Mesmo no caso de sinônimos, a escolha entre um e outro leva em consideração uma série de vontades e verdades pessoais, fato que os dicionários escondem. Há vocábulos efêmeros, que simbolizam acontecimentos momentâneos que o tempo apaga. E existe o que é sem ter um rótulo específico. O que há algum tempo tem sido denunciado pelo mau uso das redes sociais envolvendo crianças, ressurge com o nome de adultização, termo que aparece já no final dos anos 1960, sendo mais frequente nos anos 1980, mas sem constar dos dicionários até hoje. Curioso que o verbo do qual é originário não aparece em consulta à hemeroteca digital da Biblioteca Nacional. Ou seja, Aurélio e Houaiss não se interessaram por aquilo que representava a supressão criminosa da infância de crianças. Sérgio Rodrigues, na Folha de S. Paulo, é quem está atento ao jogo de palavras no qual estamos inseridos, mesmo sem o querer. Além da adultização, dia desses ele falou da origem da traição, ...

Felinicidade

Gatos é o assunto, pois sua felinicidade é contagiante. Somente após os 40 anos é que passamos a ter gatos em casa. Ou melhor, eles chegaram aqui para ficar. Na casa de meus pais, minha irmã teve um gato quando criança, mas era o Xaninho dela, que a esperava quando chegava da escola, escondido em locais diferentes a cada dia. O gato é esperto e instigante e creio que por isso tem sido associado a questões esotéricas e até científicas de difícil compreensão. As bruxas sempre tinham um felino por perto - adoráveis sejam todas essas 'gatas' - e Schroedinger usou um bichano para ilustrar seu conceito de superposição quântica. O oráculo do google diz que neste 8 de agosto foi o Dia Internacional do Gato. Aqui em casa, todo dia e o dia todo é do gato. Dos gatos, já que são quatro felinos que convivem com os quatro humanos e a cachorra. Sem contar o Sassá, o saruê que por vezes adentra a área de serviço para comer a ração dos gatos. Os macaquinhos ficam mais longe, no muro, alimentand...

Vale de sorrisos

O resumo do encontro vale-paraibano de academias culturais de semana passada gerou comentários, elogios e alguma apreensão pelo que escolhi dizer - e pelo que omiti ( https://adilson3paragrafos.blogspot.com/2025/07/encontro-de-academicos.html ). O espaço é um dos limitantes, pois o mundo cibernético é supostamente ilimitado até chegar ao cansaço do leitor. Entenda-se aqui como leitor aquele que consegue vencer a barreira das primeiras três linhas, elemento raro no mundo moderno, em que apenas a lacração de títulos é que dá cliques e 'engajamento'. Deixei de fora, por exemplo, falar do querido professor Alexandre Barbosa, que está debilitado, em tratamento médico, e, mesmo assim, compareceu em cadeira de rodas no evento para apresentar os dois volumes já lançados sobre os perfis de escritores vale-paraibanos, que ainda não consegui adquirir. Na festa de aniversário da Academia de Letras de Lorena, daqui a duas semanas, assim o farei. Também deixei de mencionar o jovem Acadêmico ...

Encontro de Acadêmicos

O fim de semana de dez dias atrás foi de júbilo, com o encontro das Academias Literárias e de Artes do Vale do Paraíba, em minha Lorena querida, promovido por nossa Academia amada. Estive lá acumulando a presença como membro fundador da Academia de Letras de Lorena e representando os presidentes das duas Academias de Campinas às quais pertenço. Ana Maria de Melo Negrão, presidente da Academia Campinense de Letras, e Sérgio Caponi, da Academia Campineira de Letras e Artes, delegaram-me o nobre mister. No passado, houve dissabores entre fundadores de uma e de outra instituição campineira, mas que com o tempo - o onipresente senhor da razão - foram extintos. Tanto é que muitos de nós somos membros de ambas. Em minha contagem, oito acadêmicos mantêm a dupla filiação, à semelhança do que ocorre em outras cidades. A cultura deve ser maior do que o ego dos que querem constituir uma academia apenas para chamar de sua. Por isso a Academia de Letras de Lorena é nossa instituição cultural. Surpre...

Trânsito em transe

O irritadiço condutor do automóvel moderno fez ultrapassagem pela direita, acelerou mais do que permitia a regra humana, buzinou, deu farol alto e espalhou seu mau humor por toda a parte, aos demais motoristas da via expressa. Não sabemos se estava trajando luto, ou engravatado para o mister empresarial em um escritório do prédio envidraçado da famosa avenida. Conseguiu adiantar-se valiosos cinco minutos para chegar, mesmo assim, atrasado ao local de trabalho, com a triste finalidade de alimentar um sistema capitalista em que é iludido na função de ser algo além do produtor de riquezas para outros. Não é nada além de assalariado. Lá atrás, meia hora antes, ao ver o bólido prateado errante em alta velocidade atrás de si, a senhora agarrada ao volante de um pequeno carro de passeio - assim é chamado - pensou se deveria reduzir seu ritmo, uma vez que dar passagem estava fora de cogitação por já estar trafegando na pista intermediária, abaixo do limite máximo e acima do limite mínimo, que ...

Brio e calafrio na festa

No Facebook consta o aniversário da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no dia 8 de julho porque é o dia da ciência e do pesquisador. Foi pouco lembrado talvez porque dia de ciência e como dia de respirar. De toda forma, juntando as datas comemorativas dessas duas últimas semanas, há uma mescla de civismo com festa e irritação. O aniversário de Campinas é coincidente com o da Queda - ou Tomada - da Bastilha, marco dos princípios republicanos e democráticos da chamada sociedade ocidental. A revolução é, portanto, feita de caídas e reconstruções. Aqui na Terra das Andorinhas houve a reinauguração do Centro de Convivência Cultural, com apresentação da orquestra sinfônica municipal. O complexo leva o nome do maestro Carlos Gomes e ficou 14 anos fechado devido a infiltrações e risco de ruir. Muito dinheiro foi utilizado no restauro, realocando parte dos recursos que seriam usados para a construção de um teatro de ópera na cidade. O Centro de Convivência possui um teatro ...

Beleza

O belo é estético, é íntimo, é relativo, é interativo. O belo é único e é insano porque é meu. O seu belo também será seu, não se preocupe. Mas também o belo é bélico nas guerras insanas. Há muito me incomoda a origem da beleza e da guerra resultarem homógrafos homófonos tão distintos, tão opostos. Coisas de uma rica língua neolatina. A belonave é de triste guerra, não de nobre paz. Pena que a paz não seja tão ligeira como seu palíndromo, o zap, em que mensagens fluem em velocidade próxima à da luz, arrastando coisas das mais diversas, incluindo a beleza. Sim, muito lixo é transportado pelas ondas cibernéticas, mas aos olhos e ouvidos atentos restará uma boa dose de boniteza ali. E nem precisa ser um quadro de Renoir ou uma sinfonia de Beethoven, nem mesmo um poema de Leminski, nem uma escultura de Rodin. A arte é bela pelo que desperta, não pelo que é. O ser belo é predicado, restando ao sujeito da observação a responsabilidade pelo verbo que lhe dará existência. Pureza rima com belez...

Ano ao meio

Acabei de sair de uma "Riobaldia" na Biblioteca Municipal Prof. Ernesto Manoel Zink, dentro das comemorações do aniversário de João Guimarães Rosa. A experiência em quase êxtase com a oralidade do escritor e suas palavras reflexivas e profundas faz com que integrem um estudo mais coeso e longe destes parágrafos. O período desses dias foi marcado pelas festas juninas chegando ao fim, dias em que consegui ir a algumas quermesses e saborear um quentão com pastel e cachorro-quente. O gastro não deve ler essa confissão e poderei dizer que está tudo bem, depois de uma endoscopia conjunta com uma colonoscopia para aproveitar a sedação. Também foi feriado em Rio Claro, no mesmo dia do São João, emendado com o anterior, de Corpus Christi, o que resultou seis dias sem atividade de trabalho, mas que nada mudou na diminuição da lista de afazeres. O tempo é igual para todos, mas a maneira como ele é preenchido é o que dá a dimensão do prazer ou não de usá-lo. Há tempo para tudo e tudo tem...

Química aos pedaços

Surpreendi-me com o desconhecimento do repórter da rádio CBN Campinas quanto à palavra cavaco. Um caminhão carregado deles tombou na estrada, bloqueou todas as pistas de rodagem e espalhou a carga. Caos matinal na cidade. Mas o repórter tentou achar sinônimos com os quais tivesse mais familiaridade, pois cavaco era-lhe estranho. Lascas de madeira foi o termo encontrado. Cavaco não. Consultei outros ouvintes e parece que cavaco não é mesmo um termo comum. Associam o diminutivo ao instrumento musical, mas não aos pedaços resultantes do corte de toras de madeira, que serão usados na polpação para obter papel ao final do processo. Papel de múltiplos usos, até para escrever cartas, não podemos deixar de registrar. Foi com uma dessas ao jornal que iniciei minha trajetória de missivista contumaz e foi com outra, de amor, que a cultura lorenense me descobriu. Até cartas manuscritas mantêm seu espaço, diminuto, mas existente ( https://correio.rac.com.br/campinasermc/habito-de-escrever-cartas-so...