O uso de celebridades

As celebridades são usadas - e, às vezes, abusadas - para a venda de produtos. Isso é patente, uma relação ganha-ganha, pois a celebridade pode ter boletos além dos suportados pela função principal que desempenham. Tomo alguns exemplos, sem pensar em quantas curtidas tiveram nas redes (anti)sociais, apenas um exercício de memória. Continuam as discussões em relação ao "meme" que viralizou nessas redes e em outros recantos cibernéticos no momento, refletindo o deepfake da Elis Regina. Reconstituições são frequentes em peças publicitárias. Com o avanço da tecnologia, mais e mais pseudorrealidade é trazida às imagens. Subverter posições políticas e a própria história também é típico de quem quer vender, pois o lucro fica acima de escrúpulos. São muitos os exemplos, desde um Vinícius de Moraes tomando cerveja ao piano (quem se lembra?) até uma Elis Regina dirigindo uma Kombi. Mas ninguém pensou em usar inteligência artificial para reconstruir meu pai colocando calhas pela cidade. Ao final das contas, qual a importância de quem tenha sido ele? 

O meio literário, em menor escala, também produz autores em evidência usados para promover outros produtos e ideias. Por exemplo, no diálogo acerca do racismo, a obra de Itamar Vieira Júnior tem sido apresentada como vítima de avaliação preconceituosa ou racista. Seu livro de estreia, Torto Arado, é muito bom (fiz uma resenha no blog: https://adilson3paragrafos.blogspot.com/2021/04/pedras-no-caminho.html). Cito Michael França, que usou o nome do escritor para atiçar a curiosidade da leitura de seu texto acerca de viés de confirmação, em que avaliações não são isentas (veja aqui: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/michael-franca/2023/07/itamar-vieira-junior-e-a-critica-literaria-nos-tristes-tropicos.shtml). Para mim, ele quase nada disse e desprezou que Itamar foi lançado ao sucesso após os prêmios que conquistou, esses sim com análise crítica às cegas, ou seja, sem saber quem era o autor. O citado boca-a-boca veio depois. Concordo que refutar uma crítica sem argumentos robustos pode ser deletéria para o próprio autor, mas é bom se ater a fatos antes de tentar fazer uma. Em outra tentativa de divulgar a questão do racismo estrutural no Brasil, foi feita a comparação de Itamar com Machado de Assis, sem considerar que o embranquecimento do Bruxo do Cosme Velho se deu ao longo de décadas e sua negritude "revelada" apenas recentemente.

Nas inserções por campos de estudo alheios que resultam em cartas publicadas em jornais e revistas, sou criticado. Pensei muito se estaria vestindo a carapuça ao refutar uma dessas críticas, mas entendo que estou muito longe de ser um dos "sabichões de balcão" assim rotulado. Fato é que o espaço de cartas - que continua sendo meu primeiro deleite com a leitura de tais veículo - tem sido sistematicamente reduzido. A seleção será mais acirrada e creio que meu índice de sucesso não seguirá alto, perto de 80% no caso específico da revista piauí, uma das minhas preferidas em leitura e contribuição missivística. O índice é próximo ao do aproveitamento de Wilma Petrillo, a companheira de Gal Costa, em relação aos golpes e situações constrangedoras que tem praticado em benefício próprio, segundo uma reportagem de Thallys Braga para essa revista (A viúva, julho, https://piaui.folha.uol.com.br/materia/a-viuva/). Vemos o quão longe da idealidade vivem nossos ídolos e Gal Costa parece ter sido uma vítima, uma celebridade usada às escondidas (https://adilson3paragrafos.blogspot.com/2022/11/que-seja-arte.html). Não por menos há os que estão reivindicando a exumação de seu corpo para tentar determinar a causa da morte.

Comentários

  1. Só uma observação sobre o Bruxo do Cosme Velho a respeito de sua negritude: a mãe de Machado de Assis era uma senhora portuguesa de pele bem clara e seu pai era negro, talvez de uma etnia não tão escura como alguns africanos. Isso talvez explique o fato de sua negritude ter passado desapercebida por tanto tempo. Há também o fato de que uma grande parte da população carioca tivesse esse mesmo biotipo, fruto da miscigenação ocorrida na época. Não sei ao certo sobre isso, mas é a impressão que tenho. A conferir.

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