Cobranças e desilusões

Desconfio que não sou mais pesquisador, a depender da quantificação de indicadores em parecer atrasado que chega. Ciência é feita com pesados investimentos, fontes de fomento são procuradas constantemente. Governos ardilosamente mudam suas propostas orçamentárias querendo destruir o pouco que existe de consolidação da área, como o faz no nível federal desde 2016, intensificado ao extremo em 2019, e também no estadual, primeiramente querendo intervir nas Universidades Paulistas e na Fapesp e, agora, mudar a dotação de recursos para essa principal agência de fomento. No entanto, não coordenar um projeto de pesquisa não deveria significar falta de recursos. Apenas houve redirecionamento de esforços para projetos conjuntos liderados por outros. 

A pandemia é coisa do passado? Nem a da gripe espanhola é, como vemos pelos inúmeros estudos que ainda continuam... Porém, acompanhei técnicos instalando equipamentos esta semana - adquiridos com projetos institucionais - e a conversa entre eles era sobre "na pandemia, eu fazia isso", "antes de sair da pandemia, acontecia aquilo", e por aí segue. O índice de mortes diárias que temos hoje é o mesmo de maio e estamos em plena pandemia, saibam todos, gostem ou não. Há um pouco mais de precaução com o uso de máscaras por uma parcela da população que também evita aglomerações. Evitar não significa que todos adiram. Vejam os tristes casos nas praias, ruas de comércio, apresentações musicais e, agora, atos de campanha política. Ainda que a esperada onda de contaminados do feriado de Sete de Setembro não tenha acontecido, a falta de uma vacina, o número diário ainda alto de contaminados e as más notícias que nos chegam da Europa são alertas seriíssimos de que a ilusão governamental não pode ser a realidade da batalha contra a Covid-19. Se faltam os que dignamente comandem, que o esclarecimento prevaleça entre a população. E verificamos que o contágio por proximidade é de alta probabilidade, porém estar próximo ou mesmo dentro do maior artefato de ciência e tecnologia do país não contamina quem deveria com conhecimento ou um pouco de inteligência.

Quinze dias depois da submissão e após duas cobranças, meu artigo comparando propostas de governo quanto ao tema "cultura" foi censurado, ou melhor, preterido devido à citação a candidatos e partidos, mesmo sendo assinado e já conter uma ressalva sobre as eventuais críticas que viriam. Tentei em outro veículo, dando seta à esquerda e entrando rapidamente (https://port.pravda.ru/cplp/brasil/22-10-2020/51600-candidatos_cultura-0/). Fiz ainda outra abordagem removendo toda e qualquer menção aos digníssimos nomes e legendas, apesar de tudo estar explícito no site do TSE. Veremos o que daí resulta. O Jornal Cidade de Bauru não fez qualquer oposição à publicação sobre as propostas de governos dos candidatos à Prefeitura daquela cidade (https://www.jcnet.com.br/opiniao/articulistas/2020/10/738848-cultura-nas-candidaturas-de-bauru.html). Assim, uma singela avaliação da presença de um termo já me rendeu três versões de texto e com a possibilidade de dupla publicação. Coloco no meu currículo? Para os avaliadores das atividades de pesquisador, isso nada vale. Cultura, extensão e divulgação científica nem sequer ao segundo plano pertencem. São excluídos sumariamente da análise. Insisto porém: #IniCiencias

Comentários

  1. Ruim na pesquisa científica, ruim na cidadania, ruim de valores culturais. Que país é esse? Extensa é a tarefa dos Educadores. Em frente!

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  2. Na Unicamp se falava no tripé "Pesquisa, Ensino e Extensão", mas somente davam prêmio anual para pesquisa. Tempo depois, para ensino, que não podia ser obtido mais de uma vez, já diferenciando, e agora, somente agora, de Extensão, em momentos em que não se premia com dinheiro. A FAPESP não dá apoio à Extensão, e agora se pretende que que a população apoie a reclamação contra o novo corte (PL 627/2020) é bom lembrá-la de que nunca saiu do acadêmico para então chegar na população.

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