Bomba natalina

O frentista já sabe que eu não peço o comprovante do cartão, mas quero a nota fiscal impressa, sem o CPF, para depois doar os eventuais créditos do imposto que eu pago. Sim, o ICMS é imposto pago pelo consumidor e recolhido pelo empresário que vende o produto, parece que nos esquecemos desse princípio básico, dando a impressão que é o pobre do empresário quem "paga" a conta. Se ele sonega, aí fica pior, pois pagamos e ele embolsou o imposto. Mas naquele dia era um pouco mais tarde que o habitual e o movimento no posto estava menor, o que deu chance para o frentista reclamar de outro freguês, sistemático, que só abastecia em uma das bombas e ficava esperando em fila, mesmo que outras estivessem vazias. E não gostava que lhe perguntassem qual combustível e o quanto pôr: a regra era gasolina e encher o tanque. O franco frentista continuou a digressão ao narrar o dia em que o freguês veio reclamar que puseram gasolina ruim no tanque, o carro falhou, precisou chamar mecânico. Todos estranharam e talvez tenha abastecido em outra bomba, sem perceber. Escândalo, confusão. Uma guerra por uma bomba indevida.

De minha parte, pensei no quanto também sou sistemático ou pragmático e o que o frentista carrega da experiência comigo para as conversas com outros clientes, quando o movimento é menor, que fique claro. Somente etanol - ou álcool etílico - entra no veículo que dirijo, desde que o motor seja flex ou um raro puro sangue a álcool. O etanol é o mais sustentável dos combustíveis líquidos que existem e somente não é difundido globalmente devido aos interesses locais de europeus, asiáticos, norte-americanos e congêneres. É melhor que o chamado hidrogênio verde e já discuti essa falácia alhures. Se é meu trabalho a pesquisa com bioenergia, ilógico seria colocar o que chamam de gasolina no tanque. O nome correto desse outro líquido é blenda etanol-gasolina, ou etanol-25%, porque não há mais gasolina no Brasil há muito tempo. Estivéssemos na Europa, a propaganda pelo combustível sustentável seria imediata. Aqui, dissemos que os ônibus rodam com biodiesel, mesmo sendo uma alíquota de 14% do biocombustível (feito de óleos vegetais e gorduras animais) no combustível fóssil, mas insistimos em chamar o outro combustível de gasolina, mesmo sendo mais de um quarto de etanol. A lógica comercial não contém ditames científicos.

Nos últimos meses, adentrei outros veículos para publicar artigos de opinião e de divulgação científica. O que era uma prática semanal, dez anos atrás quando escrevia para o Jornal Guaypacaré de Lorena, tornou-se uma cobrança diária. No instagram tento republicar o que saiu nas mídias impressas (@adilson3paragrafos), e no Facebook incluo alguns links para aquelas matérias que afugentam leitores, dado o viés explicitamente político (https://www.facebook.com/adilson.goncalves.9847/). Faltando dez dias para o final do ano, os leitores rareiam, mas o blog segue sua sina semanal. Não é a última postagem do ano, mas a festa da fogueira de mudança de estação se aproxima e é tempo de desejar Boas Festas. Uma pretensa crônica quase natalina foi escrita para o site Chumbo Gordo, habilmente administrado pela Marli Gonçalves: https://www.chumbogordo.com.br/450781-cronica-quase-natalina-por-adilson-roberto-goncalves/. Se nos esforçássemos por tempos de boa-venturança ao longo de todos os doze meses do ano, seríamos mais solidários, mais felizes e menos hipócritas.