Ambiente da arte

Se fizeram a COP-30 coincidir com os dias próximos ao do aniversário da República ou com o impacto devastador do tornado em nosso país, não sei. Encontros humanos podemos marcar no calendário e receber as visitas com o toque da campainha. Os eventos naturais, não. Fenômenos climáticos extremos seriam combatidos com ações políticas complexas, para usar chavões em voga. A natureza não se vinga, lembremos, ela apenas responde termodinamicamente às ininterruptas interferências aos sistemas que, redundantemente por natureza, buscam o equilíbrio, seja como for. A escala é que muda e torna-se significativa. Para o universo, o aquecimento global em curso na Terra absolutamente nada representa; para a microflora de vários ecossistemas, já foi causa da extinção. Para nós, ditos humanos e sábios, o impacto já se faz notar e o vento que venta aqui não é mais o mesmo que venta lá, distorcendo a canção de João Mulato e Douradinho, que escutei bastante na voz de Elis Regina.

A arte segue em alta, com a indicação de Caetano Veloso e Maria Bethânia para o Grammy, aquele internacional, não a variante latina que já premia naturalmente brasileiros. Itamar Vieira Junior concluiu sua Trilogia da Terra, com a publicação de "Coração sem Medo", ainda que os críticos digam que a literatura que ele faz não é literatura. Sei que não basta escrever para agradar, ou que a literatura seja algo além de palavras juntadas em frases. Mas o que muitos escritores fazem, mesmo não sendo inovador ou diferente, mexe com o íntimo e o âmago. Já não seria suficiente para ser literatura? A correção na forma não significa que a cada novo autor, uma novidade deva ser apresentada. Uma discussão a esse respeito saiu na edição deste mês da revista piauí, em matéria assinada por José Falero (Murro em ponta de faca). Nem todos são José Saramago, com seu estilo ímpar. Talvez Machado de Assis, Clarice Lispector, Lima Barreto e Cora Coralina não tenham feito literatura, apenas escritos vagos...

Para alcances mais próximos, e ainda no ambiente dos povos originários, foi notável o diálogo entre uma entrevista com o escritor Daniel Munduruku e o artigo da ativista Txai Suruí que saíram na mesma edição de 8/11 da Folha de S. Paulo (sim, o jornal continua a ser editado, impresso e lido). Eles nos mostraram que não basta a letra da lei para garantir o meio ambiente sustentável, mas que as ações sejam concretas, além do discurso. No momento em que o mundo se volta para Belém-PA e para a COP-30, que ouçamos os protagonistas da floresta para melhor entendê-la. Cabe destacar a multiplicidade de ações do também vereador indígena Daniel Munduruku, vencedor do Prêmio Jabuti desde ano na categoria livro infantil - o terceiro da carreira -, em ano de consagração, após ter sido eleito para a Academia Paulista de Letras. Que falemos de Lorena para o mundo, doce cidade no Vale do Paraíba cujo aniversário foi na véspera do dia da República.

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