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Mostrando postagens de janeiro, 2025

Um mês a menos

Gostei de rever anotações sobre a obra de Euclydes da Cunha para compor a apresentação na Academia Campinense de Letras. Além de Os Sertões , ele escreveu o que viu no país - e também fora dele - com uma estética particular, mesclando a precisão do engenheiro com a dura poesia de sua natureza. Natureza de Euclydes e do Brasil. Talvez tenha adoecido antes de completar a outra obra magnânima, que versaria provavelmente sobre a Amazônia, isso porque alguma doença pulmonar já o teria abatido, segundo alguns relatos de biógrafos. A fragilidade do corpo junto à mente inquieta talvez o tenham levado ao distanciamento familiar e, com isso, a provocar a própria morte nas mãos do amante da esposa. Especulações que beiram a fofoca e se distanciam da importância literária dos fatos. Buscamos detalhes ao redor do escritor para melhor estabelecer as circunstâncias de sua escrita e entender a escolha de temas, abordagens e até de vocabulário. No caso de Euclydes da Cunha, a maior parte de possíveis i...

Semana quente

O calorão em Campinas está mais intenso do que o da praia. Ao menos meu termostato de meia-idade assim indica. Não fossem os inúmeros buracos no asfalto em minha rua, daria para fritar ovos ali, segundo dizem. Falta asfalto decente, mas não falta corte de árvores, uma vez que a prefeitura se refina em dizer pomposamente que está subtraindo centenas - sim, centenas - de espécimes condenados ou em risco para a população. O risco maior não seria a falta de sombra e excesso de temperatura? Fato é que cortes são vistos, replantio, nenhum. Mas não devemos reclamar, o país é tropical e estamos adaptados a tal situação, certo? Meu suado corpo tende a discordar, tentando encontrar algum sofisma nas frases anteriores para refutá-lo científica e filosoficamente. O ventilador da sala assusta a gata, então as leituras&escritas de fim de férias se dão com toalha no ombro e água à mão, para o devido balanço de líquidos que entram e saem. Tudo para não molhar as páginas a serem lidas: o papel depo...

Lições das férias

Caminhando pela calçada à beira-mar, os transeuntes se cumprimentam. Bom dia! Gesto deplorável, segundo os jovens que me acompanham, sentindo até vergonha de estarem em minha companhia. Não aceitam a ideia de ser o mínimo que se espera entre pessoas que civilizadamente apenas estão dividindo, provisoriamente, o mesmo espaço. Mas são desconhecidos, argumenta uma das moças. Sim, mas é por isso que ficamos no bom dia, sem precisar entabular uma conversa sobre a vida mundana de cada um. No instagram, contudo, falam de si e colocam imagens de tudo o que presenciam - sem necessariamente vivenciar - para qualquer um ver e ler. Meu bom dia é mais inocente e seguro. Na malemolência de alguns dias na praia, o blog se encurta para respeitar a dimensão da quantidade de leitores. Quantidade, não intensidade, pois eles aí estão e lançam comentários à espera de resposta. A decisão por não responder diretamente foi para não poluir o espaço, mas vez ou outra cito esses abnegados frequentadores. Um dele...

O blog ainda está aqui

As férias começam, mas o blog insiste em ser capitalista passivo, ou seja, trabalha para que outros enriqueçam. É uma metáfora, pois não monetizei este espaço, como fazem por aí. Tornou-se uma forma de despassivar um pouco o proletário de palavras e imagens com o incômodo de fazer pipocar nas páginas aqueles anúncios que mais irritam do que propagandeiam algum produto ou serviço. Aqui no blog, se as reflexões e devaneios servem para que outros também reflitam, muito bem, a mais-valia terá valido a pena. Férias podem ser para descanso, imprescindível, mas a mente nunca para e até a escolha da praia é fruto de sinapses. Guarujá, com seu surto acima da média de contaminação viral ou bacteriana - ainda não se sabe ao certo - foi opção descartada, e a viagem é esticada um pouco mais, até o Litoral Norte paulista, reencontrando as praias de outrora, quando morava em Lorena. A decida pela serra é marcada pela sinuosidade que sempre seguiu o caminho dos ventos, desde os primeiros povos que aqu...

Listas

Ano novo e aparecem as listas de desejos, de promessas ou de simples afazeres. Gosto de listas e, mais ainda, de anotá-las em folhas de caderno espiral com caneta esferográfica azul. Minhas listas são mais as de livros desejados para ler, dos desafios científicos para resolver no trabalho e dos artigos de opinião para escrever, ainda mais agora que tenho uma dúzia de compromissos com milhares de caracteres diários que precisam alcançar algum veículo impresso ou virtual. Já virou clichê dizer que as listas de promessas escritas neste início de ano serão as mesmas das de aqui doze meses, da mesma forma que as de hoje não diferem daquelas do ano passado. Planejamos e organizamos, mas vem o destino e carrega a lista para lá, parodiando o magnífico Chico Buarque. De minha parte, limito-me a levantar planos passados e a constatar o mínimo que se conseguiu realizar. A realidade supera a realização, ou seja, a parte passiva da vida é predominante sobre a ativa. Assistimos ao que acontece sem c...