O velho e o novo sempre vêm
Uma senhora espanhola de 117 anos morreu. Era a pessoa mais idosa viva. Diferentemente dos esportes, o recorde de pessoa mais velha só pode ser ultrapassado com a morte! Viver demais não é competitivo. No Brasil, temos mais idosos do que jovens entre 15 e 24 anos, segundo os novos dados do IBGE, a partir do Censo de 2022. Passamos a ter o padrão europeu na composição de nossa população. A primeira questão que os economistas trazem é se a previdência se sustenta com essa inversão da pirâmide etária, esquecendo que os aposentados de hoje contribuíram ontem. O problema é que parte do recurso arrecadado pelo trabalho que os idosos realizaram não foi aplicado no próprio sistema, e querem nos convencer que a fórmula de cálculo do "rombo previdenciário" é uma conta de armazém, tal qual uma das candidatas à prefeitura de São Paulo externou em recente entrevista. Não, não podemos apenas nos limitar à aritmética do quanto entrou e o quanto sai. O componente tempo aqui é muito importante, não apenas uma grandeza física que alimenta sonhos astronômicos. Os crimes de desvios dos recursos são praticados no espaço e no tempo, roubando energia e matéria de todos.
Na trova, velho não rima com espelho, este fechado, aquele aberto. O idoso se abre para um novo mundo que se descortina trazendo o antigo junto a si. Vários mundos, vasta experiência, grande frustração. Se nos tempos universitários dizíamos e cantávamos não confiar em ninguém com mais de 30, depois passamos a duvidar dos que têm menos de 30 e aceitar que velho é sempre quem tem pelo menos 20 anos a mais. Por esses dias morreram alguns famosos com mais de 90 anos e não se pode dizer que houve comoção. Viveram e viveram bem. A morte é esperada, uma das duas únicas certezas da vida (a outra são os impostos, complementando o comentário da fiel leitora do blog Maria Cristina de Oliveira, educadora e poeta, que também mantém o seu espaço de reflexões: https://mkolliver.blogspot.com/). As trovas vivas continuam a ser feitas e os trovadores de Campinas se reúnem neste sábado, 24 de agosto, às 10h, na Biblioteca Municipal de Campinas para fazer uma das mais nobres e difíceis artes poéticas. Convidados estão todos, poetas escritos e sentidos, gente nova e madura.
Quase respondi errado à questão sobre etarismo no grande concurso unificado do fim de semana. Fiquei na dúvida, não quanto ao conceito, mas se seria um crime como estabelecia o enunciado. Armadilhas e pegadinhas são comuns nos certames, mas, nesse caso, a resposta era a direta e óbvia. Ridiculizar pessoas mais antigas em funções ou ambientes pensados para mais jovens é crime de etarismo. Idadismo e ageísmo eram outros termos que apareciam nas respostas, daí a dúvida original. Subvertendo um pouquinho a música, tanto o velho como o novo vêm. Não adianta evitar, mesmo que não vivamos mais de cem anos e sejamos velhos para todos os que têm 80 ou menos. Tendo menos de 60, o idoso já se apresenta no horizonte. Se ainda for para usar "gratuitamente" o transporte público, ainda vai. As aspas, por óbvio, é para lembrar que "não existe almoço (nem ônibus) grátis", pois o imposto está pagando tudo. Retornando aos recordes, há uma outra senhora, japonesa, de 116 anos que é, agora, a mais velha entre os humanos viventes.
Muito boa e assertiva sua publicação.
ResponderExcluirBoa reflexão sobre a vida, o tempo e a idade.
ResponderExcluirMinha mãe chegou aos 100 anos !
Mas, achava 100 anos muita idade e nem acreditava que faria 100 anos.
Meu nome: Magda Helena.
ExcluirNILZA AMARAL
ExcluirTenho 90 completos e as vezes não acredito.
ResponderExcluirMeus pais viveram mais de 90 anos, muito lúcidos e com a memória intacta. Pelos comentários que faziam, no entanto, ficava evidente a insatisfação com a condição física insuficiente para realizar muitas tarefas simples do dia a dia. "Mens sana in corpore sano" deve-se pedir em oração, canta o poeta latino.
ResponderExcluirLuís Eduardo Salvucci Rodrigues
ExcluirParabéns pelo trabalho.
ResponderExcluirMuito bom. Real e triste num país em que ter "maior idade" é ser ridículo.
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