Ativismo no esporte e na história

A semana começou com datas de triste lembrança, mas está finalizando com alguma esperança democrática. No turbilhão de registros a serem transferidos para artigos, fugiu-me o que anotei em relação ao tênis. O US Open é um dos torneios mais famosos e na partida da semi-final entre a jovem norte-americana Coco Gauff, que veio a ser a campeã deste ano, e Karolina Muchova houve um protesto por parte de um pequeno grupo contra os combustíveis fósseis. É, o assunto caberia melhor em O Regional, semanário de São Pedro em que publico mensalmente algo para falar de biocombustíveis e energia da biomassa. Esqueci! Um dos ativistas colou os próprios pés no piso da arquibancada e levaram 50 minutos para retirá-lo de lá. Meu questionamento é se o poderoso adesivo era feito de matéria-prima renovável, o que acho pouco provável. Os seguranças, dentro de todo o cuidado para não machucar o rapaz, ao dissolver a cola tiveram de usar solventes, provavelmente thinner, uma poderosa mistura de hidrocarbonetos originados do petróleo. A observação integraria o artigo sobre "mercado de carbono", em que se paga pelo direito de poluir  (https://online.pubhtml5.com/yapw/ptiq/  p.24). Registro que Coco Gauff, em nobre atitude, não criticou os ativistas, dizendo que não poderia ser contrária ao que eles defendem.

A postagem de quatro anos atrás referente às efemérides desses dias foi mais curta e melancólica (https://adilson3paragrafos.blogspot.com/2019/09/justica-e-democracia.html). Hoje os 50 anos do golpe no Chile que derrubou e matou Salvador Allende são falados de forma mais explícita, e até a Globo News passou um documentário sobre a participação do Brasil naquele ato sangrento. Um aprendizado, ainda que bem tardio. A história pode ser contada pelos que não venceram no momento, mas que resistiram e sobreviveram. Tornando-nos responsáveis pelo que cativamos, é salutar conhecer os fatos e suas causas e consequências. Não é tarefa simples, vimos até por parte dos que maquiavelicamente defendem o indefensável, que não conseguem sustentar mais de dois dedos de prosa ou de falsas narrativas, ainda que regiamente remunerados para tanto. Se aos holofotes da mídia, o ridículo é propalado sem constrangimentos, o que devemos encontrar nos arquivos de tribunais que julgaram gentes e acontecimentos apenas na fria folha do processo? Os sigilos estão sendo levantados para os tempos de chumbo de ditaduras, mas não podemos esperar meio século para entender o presente.

Campinas passa por uma série de atos de vandalismo, destruindo símbolos históricos e espaços públicos. Foi ateado fogo em parte da área verde do parque em volta da Lagoa do Taquaral e o monumento-túmulo do maestro Carlos Gomes foi depredado, com retirada de todos os florões de bronze que ladeavam o pedestal, no centro da cidade. A indignação é grande, ainda mais que em setembro comemora-se o mês dedicado ao maestro campineiro, o maior compositor das Américas. Nos vários eventos culturais, cobranças por mais segurança para os monumentos têm sido feitas e representantes da Prefeitura comunicaram uma ação conjunta emergencial para coibir a destruição da memória histórica e dos espaços públicos. Esses são apenas dois exemplos recentes e o apagamento da memória se dá em todos os locais, com incêndios criminosos em espaços de cultura de origem africana, corte de árvores de grande porte e símbolos de bairros e regiões sem laudos comprobatórios da necessidade e por aí vai. Curiosamente, os defensores dos monumentos campineiros tomam por injustas as condenações dos vândalos que atuaram contra os Poderes da República na capital do país no início do ano. Não todos, por certo, mas são muitos, um número estatisticamente bem significativo.

Comentários

  1. Cumprimentos à inteligência, sensatez e coragem do blog dos 3 Parágrafos ao nos trazer essas reflexões. Temos que nos postar, intransigentemente, ao lado do que é certo, do que é o bem de Campinas e do País, e repelir todo extremismo porque a virtude está no equilíbrio e no bom senso. Admiro você, Adilson, que tem substância e conteúdo para apontar caminhos.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Só posso aliar o meu modesto comentário ao de CideACosta. Portanto, venho elogiar a concisão na exposição de idéias múltiplas que denunciam a aflição sofrida por nosso Estado. E eu nem soube do vandalismo ao túmulo do ilustre maestro Carlos Gomes! Infelizmente, um bando de ignorantes ainda se une contra o desenvolvimento, o progresso, o conhecimento. Eles preferem as trevas, a mesma cegueira alegada pelo advogado em uma corte de "príncipes" amalucados. Sua crônica ajuda muito, pois denuncia os atopelos que queremos e precisamos superar.

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  3. Só posso assinar embaixo de tudo que acabou de colocar neste texto.

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  4. Excelentes reflexões, como sempre

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