O certo e as incertezas

Li estudiosos da comunicação discorrendo sobre o corte de adjetivos, advérbios e palavras supostamente desnecessárias de textos para torná-los mais objetivos. Por outro lado, artigo recente no Correio Popular, de Campinas, discorre sobre a questão em outra direção, a da necessidade de deixar claro qual o lado que se está tomando ao fazer um relato. Eu acho que empobrece muito fazer a auto censura de algumas classes gramaticais em detrimento de outras. Por que somente o substantivo carrega a objetividade? Um feliz colocado ao lado de um coração dirá muito mais do que apenas afirmar que a bomba de sangue está funcionando. E se for um muito feliz, então, aqueles analistas vão entrar em colapso, um advérbio de intensidade junto ao adjetivo! Particularmente pouco atentei, até agora, para o resultado final dos meus escritos, se carrega muita ou pouca dessa subjetividade. Nos artigos científicos é outra história, pois o objetivo da comunicação é distinto. Mesmo lá aparecem um bom ou ruim junto a dados obtidos experimentalmente.

Subjetividade não implica diretamente em negar o conhecimento. Na literatura ela é usada magistralmente pelos grandes escritores para dar ritmo, forma e conteúdo a seus escritos. Romancistas modernos têm usado a proximidade com fatos científicos para elaborar seus enredos. Mas continuam sendo ficção, não confundir com a distorção da realidade que muitos querem nos impor. Alguns comentários sobre o momento triste pelo qual nosso país passa, que tentam defender o negacionismo palaciano sabe-se lá por qual interesse ou compromisso, levam em consideração que a ciência estabelecida teria um lado, se assemelhando à ficção. O fato científico existe independente da sua ou da minha opinião. A terra é redonda, vacinas protegem, aquecimento global e evolução são fatos comprovados e o universo surgiu há 13,8 bilhões de anos. Pode querer argumentar contra, dizer que não acredita, que sua fé aponta em outra direção ou até apresentar um charlatão bem apessoado para lhe dar razão. Não adianta.

Certo mesmo é que pouco mais de 8.400 horas nos separam de uma nova condição social, assim esperamos. O ano segue em desafios e desaforos, já sabíamos. Tunéscio, meu personagem apresentado em "Lutos e lutas" (http://adilson3paragrafos.blogspot.com/2021/03/lutos-e-lutas.html), voltou a publicar comentários nos jornais. Ele não desiste de pregar sua distopia deletéria como uma suposta utopia. Assina-se como advogado, mas suas elucubrações anacrônicas e retrógradas não deveriam estar mais em voga. Voltamos também com pesquisas eleitorais, números em cima de números, descobrindo que poucos sabem o real significado de margem de erro e intervalo de confiança. As porcentagens aqui não podem ser vistas de modo absoluto; assim, 40% e 38%, com uma margem de erro de 2 pontos porcentuais, são dois valores estatisticamente indistintos. Não se pode falar que há tendência de um ser maior que o outro, como insistem os analistas de plantão televisivos e jornalísticos. Mesmo com dois anos pandêmicos defendendo a ciência - pelo menos por aqueles que podem ser chamados de humanos -, muita incerteza há na compreensão dessas ferramentas. Seguimos, portanto, com a divulgação científica intensa. #IniCiencias

Comentários


  1. Excelente artigo, cientificamente comentado, como as previsões estatísticas apresentadas na última eleição.

    ResponderExcluir
  2. Texto e assuntos muito pertinentes e super bem escritos. Que nossa língua portuguesa seja respeitada e preservada no todo e nas particularidades para que não perca sua riqueza, quando bem usada.

    ResponderExcluir
  3. Seu estilo é muito seu...gosto de ver vc ensaiar afirmativas e rebater subjeções de modo que o leitor não tome partido e sim raciocine. Obrigada por compartilhar.

    ResponderExcluir
  4. Ótimo texto . Muito boa a reflexão sobre a objetividade e a importância de colocar ou cortar os artigos e adjetivos.
    Parabéns. Magda Helena

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

É Praga!

Desfrutando

Bomba natalina