Entre vermelhos e amarelos
A Academia de Letras de Lorena fez reunião virtual dia 21 de agosto, com lançamento de livro sobre educomunicação e lembrando mais um aniversário. Sem a festa, com a coletânea anual planejada, seguimos no cultivo das letras lorenenses e vale-paraibanas. O Instituto de Estudos Vale-paraibanos lançou novo informativo com artigos vários, incluindo um de minha autoria sobre a nova biografia de Euclydes da Cunha que já acumula controvérsias, uma vez que peca em omissões (https://bit.ly/3y77DbZ). A título de informação, o Simpósio de História do Vale do Paraíba começa nesta semana e eis o link para dele participar: https://www.sympla.com.br/simposio-de-historia-do-vale-do-paraiba__1280461. A quem tem dificuldades de encarar a leitura de Os Sertões, dizem que começar pelo final pode facilitar um pouco. Ou, como eu já fiz, ler outros textos de Euclydes, como seus ensaios sobre a Amazônia, e outros livros. Mas tudo é questão de estratégia ou estilo. Não somos obrigados a gostar de tudo, por mais importante que seja. Vemos no Arquivo Nacional que o livro foi elogiado pelos integralistas e Plínio Salgado exigiu que fosse lido por seus seguidores, os camisas-verdes, movimento fascista de outrora. Também aparece nas buscas uma "célula comunista Euclides da Cunha". Não por menos um dos livros a que fiz referência tem por título "Contrastes e confrontos". Seria visionário no sentido lato da palavra nosso patrono da Academia? Continuemos a crer no visível, não no risível.
A primavera antecipada com tantos ipês floridos faz lembrar a "Primavera silenciosa", a primeira grande denúncia ambiental feita pela bióloga Rachel Carson em 1962, que identificou a ausência de pássaros naquela estação. Os agroquímicos passaram a ser utilizados em larga escala e a consequência ambiental foi rapidamente sentida. É muito difícil a busca pelo equilíbrio, conceito fundamental da química, que interfere nas reações entre as substâncias, buscando outras situações para esse equilíbrio, sempre dinâmico. O tempo muito seco faz isso, força a beleza inusitada das árvores. O aumento das queimadas atinge patamares além do crime ambiental, com destruição criminosa ainda maior do pouco que estamos tentando preservar. Nas regiões metropolitanas está difícil até respirar à noite. No conjunto, vemos a efêmera florada do ipê, maravilha feito o canto do cisne.
Com a dificuldade de dormir pela vermelhidão no céu devido a essas queimadas, madrugadas insones são aproveitadas para ver os paratletas. Tenho dificuldades com essa junção de vogais, crase moderna que transforma a paraolimpíada em paralimpíada. Fica faltando algo no meu sentir. Sim, é crase, já quase esquecida com o significado de fusão. O sinal colocado sobre a letra é consequência disso, um alerta para entender que há dois aa escritos sobrepostos. Se o poeta já disse que ela não era para humilhar ninguém, sejamos humildes até para aceitar a humidade - ou melhor, baixa humidade - com h na tv. A grafia lusitana aceita pelo acordo ortográfico não causou espécie, em tempos em que tudo se queima, de matos a pessoas, de paixões a princípios. Não deveria ser assim tão cruel a necessidade de sobrevivência de todos.
Parabéns por esta capacidade incrível de unir conteúdos inusitados. Da Gramática ao Léxico, da Literatura ao livro. Eu, pessoalmente, li Euclides da Cunha muito antes; sorte minha, pois gostei. Se o tivesse feito após, jamais teria gostado. Li A"Guerra do Fim do Mundo" de Mario Vargas Lhosa, sobre a Saga de Canudos, muitos anos depois de "Os Sertões".
ResponderExcluirExcelente o blog desta semana.
ResponderExcluirMas foi o texto sobre a Primavera que me remeteu à minha juventude e à Primavera de Praga, logo destruída, não pelas alterações climáticas, mas pelo totalitarismo. Até hoje, decorridos mais de 50 anos e eu em plena velhice, isso me choca!
Oi Adilson, gosto muito de seu blog e fico aguardando novas postagens.
ResponderExcluirGosto muito dos ipês amarelos :
Os animais ali vivem,
mesmo em mundo paralelo,
e em harmonia convivem
debaixo do ipê amarelo.
Magda Helena