Frieza na subjetividade

Qualificativos não resistem a um escrutínio numérico. Há uma necessidade incontida de dar o valor de tudo, não tentar explicar o que é melhor em palavras, mas em números. Em duas oportunidades nas olimpíadas que seguem em Tóquio tal subjetividade da avaliação quantitativa foi colocada em dúvida. Juízes deram notas menores para as manobras do surfista brasileiro Gabriel Medida em comparação com as do japonês Kanoa Igarashi e intrigas pulularam nas redes sociais. Depois, a judoca brasileira Maria Portela teria sido vítima do julgamento negativo quando um wazari a seu favor foi pontuado e, depois, retirado. Em esportes nos quais a qualidade do movimento é julgada com notas numéricas, tais falhas existirão sempre. Na avaliação de textos se dá a mesma situação. Como saber o que é melhor ou pior? A criação literária pode ser totalmente quantificada? Poetas e esportistas, entre décimos e centésimos, queremos ser os primeiros.

O frio veio com tudo, bem objetivo. O repórter na tv diz que fez um único e singelo grau no sul do país. A noção de grandeza torna a questão equivocada. Se fosse zero grau o que ele diria? Olhem, não fez nenhum grau lá. Os graus estão ausentes, fugiram, escafederam-se... Sem graus, o que será da temperatura? Em ciências aprendemos que valores são fixados em escalas relativas. A de temperatura que usamos é a centígrada ou Celsius. Ela usa dois valores base: atribui ao congelamento da água o valor de zero grau e a temperatura em que a água entra em ebulição, ou seja, passa de líquido para gás (também chamado de vapor) foi estabelecida como 100 graus. Não são valores absolutos, apenas uma faixa para ficar mais fácil de trabalhar, analisar, comparar e usar. Há muitas outras escalas e os norte-americanos usam Fahrenheit, estabelecendo 32 graus F para o congelamento e 212 graus F para a ebulição da água. São medidas bastante objetivas que precisam também ser bem compreendidas. Existe uma escala chamada absoluta, desenvolvida depois do entendimento de que a temperatura é fruto da movimentação das partículas e da energia ali existente, a escala Kelvin, na qual não existem valores negativos e por isso seu valor mínimo é chamado de zero absoluto, que corresponde a -273,15 graus Celsius.

Quanto a artifícios para lidar com o frio de forma prática e sem ter que fazer cálculos difíceis, fui consultado se sabia de fórmulas caseiras para impedir a formação de gelo nos para-brisas de automóveis. Seriam confiáveis? A formação de gelo na superfície de vidro evitada com detergente só vale se formar uma boa película (ou seja sujando o vidro), quando não se acumulam gotículas de água que vão originar o gelo. Eu não faria isso, porque pode ser mais difícil limpar o vidro depois. O derretimento do gelo pode ser feito pela adição de componentes, formando um amálgama, como é o sal jogado sobre a neve nos países nórdicos. A temperatura de congelamento desce e, mesmo com frio, não atinge o mínimo para congelar. O vinagre pode ser esse componente, mas também não é recomendo pela acidez que possui, podendo danificar partes do carro (é levemente corrosivo). Assim, imitando os europeus, o melhor meio é manter uma espátula plástica para remover fisicamente a camada de gelo que se forma. Água quente ajuda, mas não vai tirar o gelo de vez. É o mesmo que acontece no freezer quando acumula gelo. Para limpar, joga-se água quente e vai se raspando suavemente. A troca de calor não é rápida, por isso o gelo acumula mesmo quando a temperatura sobe um pouco. Ou seja, fórmula mágica nunca funciona no mundo real. #IniCiencias