Dezoito meses

Último dia do mês, exatamente metade do ano alcançada - na verdade, quase, pois dos 365 dias foram 181, já que o primeiro semestre congrega o curtíssimo mês de fevereiro. A metade será ao meio-dia de sexta-feira, dia 2/7 (descontando aquelas horas e minutos a mais, segundo a astronomia), véspera da importante data para importantes acontecimentos. O acúmulo de afazeres já grande em qualquer fim de mês parece se engrandecer quando se refere ao mês que marca a metade do ano. Pior se o 30 de junho caísse numa sexta-feira, o dia da semana em que todas as ideias surgem para poderem ser executadas somente na semana seguinte. Fim de semana é útil para muita coisa, apesar da confusão que se faz agora nesta época de pandemia. Dias úteis ainda seguem uma acepção burocrática de se restringirem a cinco dias, ainda que há muito tempo tudo acontece 24x7. Os términos de calendários se impõem à nossa perda de paciência e de fôlego para dar conta. Números estampados na folhinha que escravizam. Sim, sei que não há mais folhinhas por aí, apenas o "google agenda". Acreditem: é a mesma coisa.

Fiz pouco nesse semestre, confesso. Artigos previstos para publicar não completaram as sinapses cerebrais para passarem aos músculos braquiais e acionarem mãos e dedos para viabilizarem a digitação. Digo que produção intelectual é uma falácia, pois se ficar apenas no cérebro não será avaliada pelos pares. Num momento ímpar - perdão para o trocadilho - dirão facilmente que não me empenho em realizar. A mente não para e a preguiça está no percurso até a tela do computador. Nem tudo é criado e produzido em rompantes, e uma publicação científica necessita de gestação de elefante para ser levada a bom termo. Pelo menos 18 meses, um ano e meio, no limite inferior para produzir um elefantinho, segundo as enciclopédias. Fica o alerta para não se comparar com as publicações científicas e análises epidemiológicas sobre a pandemia do novo coronavírus em curso e da doença a ele associada, a Covid-19. As necessidades e estímulos são muito distintas da vivência da maioria das outras áreas de conhecimento. Por mais nobre que seja, a química tem sua dinâmica própria. E como tudo é baseado em energia, com este frio congelante, então, mais motivos para usar as articulações para segurar uma boa caneca de chá ou café ao invés de digitar.

Contagem regressiva é angustiante até para astronautas treinados para o estresse pré-traumático, digamos. Eles sabem que tudo vai explodir ali embaixo e seguem sentadinhos e comportados, aguardando. Restam dezoito meses, no máximo, para encerrar o conjunto de efeméride de centenários importantes e um ciclo político trágico. Ao menos é a esperança das boas pessoas. Há sempre os nefastos vestidos de bons velhinhos que optam pelo pior, sabemos e lamentamos. Voltando à explosão, para um foguete espacial ela é devidamente controlada, diferente da que vimos nesta quarta-feira em Rio Claro no posto de combustível à margem da rodovia Washington Luiz, que corta a cidade, local em que sempre abasteço. Até agora, foram noticiados 15 pessoas feridas, sendo que uma faleceu. Foi um acontecimento simultâneo a uma live sobre covid-19 da qual participavam especialistas da cidade. Podem assistir aqui: https://www.youtube.com/watch?v=FwHSwgo9KLU. Haverá outra para esclarecer sobre vacinas, nesta sexta-feira, 2/7, promovida pela Unesp com os professores Carlos Fortaleza e Eduardo Kokubun (link aqui: https://www.youtube.com/watch?v=upYtAkKJmes). Assim, terminada esta leitura restarão 17 meses, 29 dias e poucas horas ... e contando.

Comentários

  1. Adilson, parabéns.
    Seus textos sempre bem escritos e interessantes.

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  2. O Tempo não perdoa!
    Parece que com a pandemia ele ficou, de uma só vez, mais longo e mais curto. Paradoxos de um cérebro que só vislumbra as paisagens vistas da janela..
    Adorei seu texto. Enfrento as mesmas dificuldades, embora não escreva mais textos científicos.

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  3. Não só em fins de ano e começos de ano se fazem reavaliações da vida. Também no meio e, se calhar, a cada estação. Mas a vida ignora solenemente os nossos calendários, ainda que sejam do Google. Ela corre por si.

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  4. Muito bom, Adilson. Gostei da análise. Esperança de dias melhores.

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  5. Estamos hoje na "metade" do ano, mas lhe dou o "dobro" de parabéns pelos excelentes três parágrafos de encerramento do mês de junho/21, já esperando os parágrafos vindouros. Temas muito bem escolhidos e muitíssimo bem escritos, diga-se de passagem: como sempre!

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  6. Parabéns, confrade. Também estou escrevendo sobre ciclo que se encerra. No meu caso, a trajetória do Cine Clube. Continuo na esperança que apesar da " mente não parar preciso domar a preguiça no percurso até a tela do computador".

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  7. Ótima análise, como todas as outras que você fez.
    Aparecida Militao Kugelmeier

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