Ambiente favorável à contestação

Foram mais, bem mais de dez vezes que usei os textos de Washington Novaes como base para meus argumentos, especialmente em missivas e artigos com conteúdo sobre meio ambiente. Assisti a alguns programas e reportagens que ele conduziu na tv, mas era o Estadão minha fonte principal de suas opiniões. Seus artigos eram recheados de citações e referências baseadas em estudos técnicos e científicos, o que enriquecia o argumento e motivava a leitura e até a concordar com ele. Nem sempre, é claro, e pude tecer alguns parágrafos de crítica e elogios, ora publicados no espaço dos leitores, ora em meu blog anterior. Ele me respondeu diretamente algumas vezes. Essa fundamentação foi o que interessou o então Diretor da Escola de Engenharia de Lorena, Prof. Dr. Nei Fernandes de Oliveira Jr, para que escrevêssemos, eu e um colega de departamento, uma matéria explicativa sobre a importância das atividades de pesquisa com bagaço de cana-de-açúcar e outros subprodutos dessa gramínea para submeter a algum jornal. Elaborei o texto, mas o parceiro não seguiu com as correções necessárias, houve mudança de interesse e tal arquivo ainda dorme em meu computador. Um dia talvez o traga à luz como elemento de caráter histórico daquela outra vida que vivi. Hoje fica apenas a homenagem ao jornalista Washington Novaes, falecido nesta semana (24/8), após lutar contra um câncer.

Meu principal leitor do blog, o Acadêmico Paulo Sérgio Viana, está preocupado com minha depressão, médico que é. Quero deixá-lo menos aflito - não que a depressão tenha se sublevado -, mas foi a casualidade de eventos que tornou a morte tema contínuo ao longo dos parágrafos da semana passada. Não continuemos a trilhar esse caminho à la Saramago, pois. A contestação que fazemos, sempre sadia, deve possuir como objetivo principal a defesa da vida. Em época de pandemia em curso, com um pouco mais de aceitação das pessoas para retomar algumas atividades, os cuidados são redobrados. A saúde mental não pode ser resgatada apenas com ótimas leituras que fazemos, uma vez que a prática social é necessidade de todos nós, seres políticos que somos. As telechamadas, conversas virtuais e uso da parafernália digital não substituem 'os abraços, os beijinhos e carinhos sem ter fim', como diz o querido poeta. Algumas constatações da realidade podem ser desgostosas, indigestas e nocivas, mas inevitáveis. A natureza sócio-política do ser humano é uma delas, a outra, a materialidade físico-química da existência. Reafirmo, pois, que, na verdade, um mundo sem química e sem política seria qualquer outra coisa, menos um mundo. #IniCiencias

O professor José Lunazzi acertou na identificação do astrônomo citado na última postagem. O problema mais profundo é a constatação do nível de crimes praticados pelos leitores dos jornais impressos ainda existentes. Já era muito comum a apologia ao fascismo e o ataque às instituições democráticas duramente conquistadas pelo povo brasileiro e, agora, surge o apoio a criminosos sexuais, particularmente ao pedófilo que estuprou uma menina de 10 anos, colocando a criança - e vítima - como culpada! Sem vergonha, sem constrangimento e a certeza da impunidade, como reflexo do que está acontecendo com procuradores, ex-juízes e supostos ex-integrantes das forças armadas do país. Como educadores, dizemos que as pessoas não têm culpa da própria ignorância, mas o discurso oficial de ódio deveria ser exemplarmente punido. Os veículos de imprensa procuram se apresentar com um verniz plural e democrático, como já discorri outras vezes. A falácia de tal ação fica cada vez mais explícita com seus apoios a meia-verdades e ausência de reconhecimento de sua parcela de culpa na guinada retrógrada ocorrida no país.

Comentários

  1. Muito grato pelo adjetivo "principal", querido blogueiro. Você tem razão, de novo. O homem é um ser político, no verdadeiro sentido da palavra. Ler, estudar, pensar, e conviver. E valorizar a diferença e a divergência, que nos enriquece mais que as concordâncias acomodadas. Podemos ficar assim?
    Em tempo: o Prof. José Lunazzi, que também frequenta este blog, é o brilhante Esperantista que eu conheço?

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    1. Meu caro Paulo, grato pela presença constante aqui. Sim, o 'principal' é um dos poucos rótulos sem divergência. O Prof. Lunazzi é o que você conhece sim, ele até já manifestou a admiração por você e creio que devem retomar os contatos, se ainda não o fizeram. Abraços.

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  2. Caro Adilson, resulta difícil eu próprio acreditar, mas sempre digo às pessoas que perdem alguém querido, ou que influenciou positivamente em sua vida: agradeça a sorte de te-lo conhecido e compartilhado algo de sua vida com ele, e não pense na dor da perda. E aproveito para pedir um apoio à memória deste ser querido com quem não mais posso interagir: pela ciência, assine depois de ler https://www.ifi.unicamp.br/~lunazzi/CarlosAlfredoArguello.html Agora, o Paulo, me chamar de brilhante, com tantas estrelas verdes brilhando em nosso céu esperantista, ajuda a levantar meu ánimo. Kara Paulo, fortan brakumon!.

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