Trânsito cultural

O fim de semana passado beirou a exaustão cultural, se é que isso seja possível. Mescla de canto à capella em homenagem aos educadores, conversa sobre contação de estórias e a história dos entalhadores sacros pelo vale do Paraíba, a fundação de Lorena, inéditos de Lima Barreto, obra escultural de Felícia Leirner. Houve um diálogo mudo e não revelado entre a apresentação da Acadêmica Juraci de Faria Condé em Lorena e o trio de especialistas e também Acadêmicos do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas, que na sexta-feira anterior discorreram sobre a arte cemiterial, conforme divulgado neste espaço (https://adilson3paragrafos.blogspot.com/2019/10/suavidade-nas-obras-das-academias.html). A reprodução da obra europeia em espaços brasileiros é objeto desses estudos, cujo valor é tão rico e abstrato que não se sabe a melhor forma de preservá-la, se a céu aberto, com o risco de destruição e roubo, ou se enclausurada em museus, com acesso restrito a um público que cada vez menos se importa com a arte.

Continuo com minha entrega de livros nos pedágios das regiões do vale do Paraíba e de Campinas, meu trânsito habitual. Os atendentes que trabalham à noite estão bem solitários e vi muitos deles lendo enquanto aguardavam a aproximação do próximo veículo. Por que não contribuir com sua leitura e, ao mesmo tempo, divulgar nossas obras? Vários volumes de meu livro de crônicas "Transformações na Terra das Goiabeiras" e do agregado de poemas "O Eu e o Outro" foram assim distribuídos, além de coletâneas da Academia de Letras de Lorena, gerando uma interlocução temporal interessante. O caminho sendo rotineiro, tive oportunidade de perguntar a eles o que achavam da leitura. No último fim de semana de volta de Lorena, ao oferecer meu livro de poemas, perguntei antes se ela gostava de ler poesia. A resposta foi incisiva: depende, pois há poesias muito chatas e ruins de se ler! O poeta se contorce, mas a consciência adverte que ela está certa, os dizeres internos estampados em grafite impresso sobre a celulose não são necessariamente aqueles lidos por quem tem outros olhos e outra mente.

vou pelo trânsito sem saber destino / feito sonho intenso / quando repenso / que o caminho em velocidade / é apenas ilusão. Um último parágrafo, inspirado pela relembrança do texto poético. E um convite para a reunião da Academia Campineira de Letras e Artes, dia 26 de outubro, às 15h30, quando falará Eduardo Coelho sobre "Rumos e falta de rumo da educação", além de exposição artística, recital de piano e contrabaixo e minha curta fala sobre o centenário de Primo Levi.

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