Superando barreiras linguísticas

Há tempos somos chamados a internacionalizar nossas atividades de pesquisa. Reflito se tal procedimento começa por aprender outra língua ou seria pelo aprendizado de outra cultura? Deve ser uma mescla das situações como sói acontecer em questões complexas. Nunca fiz curso de inglês, mas tento me virar com o pouco vocabulário e pequena versatilidade na fala da língua de Shakespeare. Ler é mais fácil, escrever textos técnico-científicos ainda não tão difícil, mas a fluência no idioma me falta. Na língua alemã sou versado por ter estudado na terra de Goethe e obtido proficiência. Porém, daquele remoto passado de um quarto de século atrás faltam, hoje, as oportunidades para treiná-la. E a língua da ciência moderna - enquanto existir ciência - é o inglês. Tais barreiras não me impedem de ministrar curso internacional na pós-graduação e a comunicação é algo além da língua e das mãos, como bom meio-descendente de italianos. Desta vez, a aluna polonesa Martyna que veio para um estágio de dois meses em meu laboratório foi colocada como ouvinte e testemunha de meu improviso. A gentileza da menina aprovou minha alocução.

Por isso falar em português é tão maravilhoso. Língua harmônica, flutuante pela poesia das expressões, saborosa nos significados e forte no conteúdo semântico. A Dona Nivaldete, o Professor Modesto e o Professor Paulo Franchetti foram os artesãos de meu aprendizado linguístico na escola, muito forte em análise sintática. Eu adorava! Sei que não é pela teoria da posição das palavras que se aprende a ler e escrever bem, mas foi um diferencial estar com Mestres dessa arte. Foi um complemento à comunicação, pois aprendi muito mais que isso e sabia a ferramenta que usava. Livros vieram nessa sopa de conhecimento, junto com gibis, jornais velhos e toda celulose impregnada com letras. Ao longo do tempo, na defesa de uma melhor escrita nos modelos educacionais, parece que não apenas a teoria foi abandonada, restando textos minúsculos em redes sociais que pouco dizem ou se contradizem.

A ciência à luz da língua tem feito um papel aquém do necessário. As instituições públicas de ensino e pesquisa no Brasil fazem um trabalho de alta qualidade, com esmero. Sim, essa é a verdade, por mais que a ignorância oficial diga o contrário. Porém, a universidade pública não foi capaz de dizer a esse público tudo o que faz de forma clara, objetiva, direta, realista e de forma interessante. Isso porque é o jornalismo científico o canal mais adequado para tal empreitada. Amadorismo pode levar a um dano maior, beirando a propaganda ou a uma divulgação científica apenas para seus pares. Isso já fazemos e, novamente, é a língua inglesa de artigos científicos em revistas internacionais especializadas o meio mais utilizado. A Unesp faz por estes dias um encontro de cultura e cidadania e um dos temas em discussão é o letramento científico. Participam, dentre outros, o Professor Carlos Vogt, idealizador do Labjor da Unicamp, e a Alexandra Almeida, que é diretora de redação da revista Pesquisa Fapesp, dois exemplos sérios da divulgação científica. Sigamos discutindo e fazendo a melhor forma de dizer o que é realmente feito, pois nuvens escuras costumam passar e precisamos retomar a sanidade interrompida com a melhor expressão do pensamento. Palavra não é, palavra somos. #IniCiencias

Comentários

  1. Tem razão! Nós somos o que pensamos e expressamos. O idioma é de fato ferramenta do pensamento, portanto vital. Nossa pátria é a Língua Portuguesa!
    É de espantar, em pleno século 21, com tantas conquistas tecnológicas e sociais, que não se adote de vez o Esperanto como segunda língua de cada povo. Evitaria isso a submissão e até eliminação de valores culturais de povos de menor potencial econômico e bélico, em nome de uma dominação linguística baseada em dominação. O Esperanto é uma solução democrática e justa.

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