Vozes em silêncio


Paulo Henrique Amorim não tinha seus méritos pelo programa televisivo que comandava, do qual foi afastado por pressão do governo federal. O bom trabalho jornalístico e opinativo que fazia estava principalmente nos canais de vídeos e outros locais na internet. Pude assistir a palestra dele ano passado, com forte discussão e questionamento sobre o jornalismo que é praticado no Brasil, e possuo um livro autografado. Bem, a assinatura é apenas um quase círculo, rudimentar diria, mas foi de sua pena - como se isso ainda existisse. O silêncio paira sobre a aridez da forma como as notícias estão sendo propaladas na atualidade, quando até uma mentira mal contada é mais aceita do que um fato documentado, apurado e aprofundado.

Aprendi a cantar Chega de Saudade no ônibus fretado que me trazia da escola técnica à noite, quase já virando o dia, isso no primeiro ano de estudos. O bairro dos Amarais em Campinas era muito longe da casa de meus pais e não havia transporte público direto. O nome de João Gilberto, porém, apenas se tornou conhecido para mim ao longo dos anos universitários, mesmo porque música sempre me foi algo para ser ouvido, nunca praticado (ainda bem, dirão todos que conheço!). Para se observar melhor o todo, é necessário afastamento, tanto físico, como temporal. A importância da Bossa Nova descobri na Alemanha, em apresentação musical de estudantes, quando uma francesa entoou perfeitamente Garota de Ipanema em português. João Gilberto já estava doente há um bom tempo e a materialidade da existência é finita. Mais um de nossos expoentes que é homenageado oficialmente fora do Brasil e, por aqui, resta-nos a ignomínia oficial.

A FLIP vai de vento em popa. Euclydes da Cunha é, antes de tudo, um forte para resistir por mais de um século. No ano em que se completam 110 anos de seu assassinato é bom ouvir que "Os Sertões" devam ser lidos e relidos para melhor entender nossa situação social do momento. Além da Academia de Letras de Lorena, Euclydes é também o patrono da cadeira 19 do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas, à qual assentarei com muita honra neste domingo, 14 de julho. Resta, porém, o silêncio de publicações que não divulgam o quanto de mistério ainda existe por trás desse escritor, parcialmente traduzido em entrevista feita e que dorme nas gavetas dos editores. #IniCiencias 

Comentários

  1. Belíssimo texto. Em três personagens (maiores), expressa com exatidão os que perdemos nesses últimos tempos. Abraços e parabéns pela posse.

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