Lamas literais e oficiais
A visível e tóxica lama de Brumadinho não é suficiente para condenações. Não possui a mesma convicção de outros ditames, não apareceu por delação premiada, nem tirou da competição candidatos à presidência. É apenas a escória de um sistema extrativista que dispensa pelo menos 40% da montanha de ferro. Vidas significam apenas alguns milhares de reais que serão doados - sim, esse é o termo usado pela empresa assassina - às famílias remanescentes em sua dor pelos ausentes e busca por sobreviventes. Pelos relatos de alertas emitidos ao longo dos últimos meses sobre os riscos de rompimento daquela barragem de resíduos de mineração, conclui-se que a ação não foi apenas criminosa, mas também premeditada, devendo ser julgada com todos os agravantes correspondentes. Sabemos que a impunidade para esses casos impera e a empresa já está se recuperando na Bolsa de Valores, o que é o que mais importa: privatizar os lucros, socializando os prejuízos. Restam-nos as palavras e os gritos do poeta Drummond, em sua triste rima de ferro com berro.
A marca deste governo é o vai-e-vem, mas o maior sigilo de informações não é um "estelionato à vista" (termo usado pela Folha de S. Paulo), mas sim uma estratégia militar, tal qual a de 1964: a corrupção que não se vê, não existe. Por outro lado, Mourão teve a chance de voltar atrás com a cirurgia do presidente, lembrando que é o momento daquela bactéria oportunista levar o vice a assumir a presidência definitivamente. Esse foi um comentário ao jornal, não publicado. Tola teoria da conspiração? Pode ser. O presidente representa o país e, quando ele se ausenta de compromissos, está dizendo que a população está se lixando para o evento. É praticamente um crime de lesa-pátria, mas aos que tomaram o poder em Brasília os conceitos de certo e errado parecem invertidos. Deve-se ler mais a Constituição Federal e menos livros míticos para entender o que é comandar e representar o Brasil. De qualquer forma, a lei deveria ser igual para todos, mas quando princípios mínimos de respeito humano a encarcerados não são seguidos, sabemos que estamos à beira da extinção do chamado Estado Democrático de Direito. O comparecimento a velório de parentes próximos é um desses direitos, concordemos ou não.
Para lavar-nos a lama da alma inexistente, escrever ainda é preciso, ainda que impreciso. Foi uma surpresa agradável ver meu texto "Cores mudas" contemplado com o primeiro lugar do IX Concurso Externo Literário “Acadêmica Judith Mazella de Moura”, da Academia Taubateana de Letras, cujo tema foi "conversa ao pé do ouvido". A notícia vem com a tristeza da ausência da Conceição Fenille Molinaro, falecida ano passado, membro daquela Academia e também de nossa Academia de Letras de Lorena. Foi ela que me incentivou a participar do concurso e a ela dedico o prêmio.
A marca deste governo é o vai-e-vem, mas o maior sigilo de informações não é um "estelionato à vista" (termo usado pela Folha de S. Paulo), mas sim uma estratégia militar, tal qual a de 1964: a corrupção que não se vê, não existe. Por outro lado, Mourão teve a chance de voltar atrás com a cirurgia do presidente, lembrando que é o momento daquela bactéria oportunista levar o vice a assumir a presidência definitivamente. Esse foi um comentário ao jornal, não publicado. Tola teoria da conspiração? Pode ser. O presidente representa o país e, quando ele se ausenta de compromissos, está dizendo que a população está se lixando para o evento. É praticamente um crime de lesa-pátria, mas aos que tomaram o poder em Brasília os conceitos de certo e errado parecem invertidos. Deve-se ler mais a Constituição Federal e menos livros míticos para entender o que é comandar e representar o Brasil. De qualquer forma, a lei deveria ser igual para todos, mas quando princípios mínimos de respeito humano a encarcerados não são seguidos, sabemos que estamos à beira da extinção do chamado Estado Democrático de Direito. O comparecimento a velório de parentes próximos é um desses direitos, concordemos ou não.
Para lavar-nos a lama da alma inexistente, escrever ainda é preciso, ainda que impreciso. Foi uma surpresa agradável ver meu texto "Cores mudas" contemplado com o primeiro lugar do IX Concurso Externo Literário “Acadêmica Judith Mazella de Moura”, da Academia Taubateana de Letras, cujo tema foi "conversa ao pé do ouvido". A notícia vem com a tristeza da ausência da Conceição Fenille Molinaro, falecida ano passado, membro daquela Academia e também de nossa Academia de Letras de Lorena. Foi ela que me incentivou a participar do concurso e a ela dedico o prêmio.
A LAMA JÁ EXISTIA, ELA APENAS,
ResponderExcluirROMPEU SUA BARREIRA DIVISÓRIA
TRAZENDO A TONA EM NOSSAS ARENAS
O PODRE DO FUNDO DE NOSSA HISTÓRIA.
E A LAMA ESPALHADA EM VÁRIAS CENAS
IRÁ FICAR RETIDA NA MEMÓRIA,
PODENDO ATÉ CAUSAR SÉRIAS GANGRENAS
NESTE O ROMPER DO MURO DAS ESCÓRIAS.
É BEM COMUM EM NOME DA GANÂNCIA
O FAZ DE CONTA, A NÃO OBSERVÂNCIA,
O IGNORAR, O FALSO, O MAU EXAME.
QUE OS RESPONSÁVEIS TENHAM EM SUAS VEIAS
O SENTIMENTO QUE ELAS ESTÃO MAIS CHEIAS
DE LAMA CAUSADORA DE UM DERRAME.
Flávio Levy
Parabéns pelo profundo e representativo soneto, Flávio Levy.
ResponderExcluirAs decepções do mundo político e do descaso do Brasil por seus cidadãos vem tomando conta do blogueiro e de todos nós. Que fazer? Escrever, elaborar o pensamento, trocar ideias, manter a lucidez, longe de todo radicalismo e extremismo. Nosso país tem um longo e penoso percurso até a civilização.
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