Semana pós-ambiental
A semana inicial de junho desperta os instintos mais primitivos ao completar mais uma voltinha ao redor do sol e comer bolo recheado de abacaxi. A trajetória é inevitável, o conforto da viagem é que pode ser trabalhado. Não há lugar reservado na janelinha, nem no corredor com mais espaço para esticar as pernas, apenas um seguro voo de um planeta pelo espaço. Mas, pelos acontecimentos recentes, foi grande a tentação de escrever apocalipse no título, em vez de semana. Ao que tudo indica, apesar de haver dia para comemorá-lo (junto com o aniversário), o meio ambiente continuará a ser pela metade, não por inteiro. Longe de ser uma anedota pronta, chinfrim, é questão de sobrevivência geral e irrestrita. Não poderia deixar de registrar a indignação com a passagem da boiada da devastação no Senado Federal em função da aprovação do indevido projeto de lei que "flexibiliza" a fiscalização ambiental. A publicação é tardia, porém necessária.
Também na mesma semana, o folclore local gerou a Medeia tupiniquim, que trai seu povo, foi abandonada por ignorantes mentores, e fugiu. Fuga perpassando supostamente mais de um país, com destino europeu, e usando artifícios que deixaria o recém falecido escritor inglês Frederick Forsyth intrigado e instigado a gerar um novo romance de espionagem e crimes internacionais. Aliás, O Dia do Chacal, que ele produziu em 1971, foi um dos primeiro livros de ficção com personagens reais que li. Virou filmes com qualidades variadas, mas a imagem do espião datilografando os detalhes de sua vigilância e plano de ação, usando papel carbono para a cópia, é revelada apenas na leitura da obra. Não adianta ver os filmes, pois essa cena não está lá. A obra fez parte da coleção "Grandes Sucessos", da Abril Cultural, livros de capa branca vendidos em bancas de jornais e revistas, lançados nos anos 1980, a preços acessíveis para estudantes como eu. Foi um deleite entrar nesse mundo de mistério e várias obras clássicas alimentaram minha juventude com esse tipo de romance. Outro exemplar impactante daquela coleção foi A Sangue Frio, de Truman Capote (de 1966). Belas histórias, mas a realidade ainda é mais sangrenta e indigesta.
Atrasada, a publicação do blog calhou de ser no dia dos oito anos da morte de meu pai. Ausências são presenças de memórias, quando o luto virou saudade. Ou quando o fato entrou para a História, ou o ato, para os anais. Provavelmente também em um 10 de junho, há 445 anos, morria Luís Vaz de Camões, aquele cujo busto ilustra nossa Academia Campinense de Letras e é inspiração para versos heroicos de viagens marinhas e outros, tão apaixonados quanto o amor à indignação. Diz-se que a morte do escritor português é mais um dos dias em que se comemora a Língua Portuguesa. Já tivemos o 5 de maio, virá o 5 de novembro e sei lá quantos dias mais. Festejá-la-emos assiduamente, pois, por mais bela, inculta e minha Pátria que seja, por tudo que possa, que queira, mátria ou frátria (permita-me, caro Caetano). Com ela escrevemos, com ela sentimos e por ela diuturnamente lutamos para que todos a possam conhecer e saber. Os sabores da língua são necessários para a boa leitura, para chorar o planeta e, ainda, para sentir a saudade de um pai.
Beleza
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirEstou curtindo bastante estas publicações mais reflexivas e filosóficas. Acredito que é um estilo que veio para ficar e nos agradar mais ainda. Parabéns!
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