Bruxas carecas
O tempo das bruxas se aproxima. Quero uma para mim! Não precisa surgir pilotando uma vassoura, como nos clássicos contos da literatura mágica. Caminhando pela rua seria suficiente. Um boa bruxa teria uma vassoura robusta, mas tal meio de transporte, claro, é fictício. Quer dizer, bruxa, vassoura, uma ou outra ou ambas, não existe, não existem. A vassoura-de-bruxa é também nome de infestação que dá nos cacaueiros. Isso remete a um interessante trabalho do pesquisador Paulo Teixeira, da USP, que estudou a imunidade de certas plantas (https://www.youtube.com/watch?v=2m6R0AW7jYs), umas que resistem a essa praga, e outras, não. Porém, seria importante relacionar o caso da vassoura-de-bruxa que infestou propositadamente os cacaueiros da Bahia décadas atrás, como sendo o primeiro caso de bioterrorismo exitoso em nosso país. E digo isso com as informações que tal contaminação proposital fora feita por grupos supostamente progressistas. Os vegetais, assim, dominam o espaço científico e tecnológico, real, e até um dos Prêmios IgNobel deste ano foi para um brasileiro que estuda uma possível comunicação entre plantas diferentes (https://www.instagram.com/p/DAbRVrDpOYV/?img_index=1). Em assunto correlato, fui inquerido sobre uma matéria publicada na revista ComCiência de divulgação científica, abordando sistemas nervosos em constante evolução, que será usada em livro didático (https://www.comciencia.br/sistemas-nervosos-em-constante-evolucao/).
Serão todas as bruxas cabeludas, como foram pintadas nos quadros da Idade Média? Ou as de cabelo mais curto ou mesmo carecas não eram classificadas como feiticeiras? Um estudo mais profundo precisaria investigar todos os meandros dos órgãos inquisitórios e punitivos da época, que chegavam às conclusões que, quase sempre, resultavam em evento pirotécnico e queima em fogueiras, isso para desviar a atenção das causas naturais de fenômenos e atribuí-los às artes ocultas. "O Nome da Rosa", de Umberto Eco, dá um pincelada nesses embates. Voltando às investigações, falta um estudo com mais capilaridade, com o perdão ao trocadilho de quinta série. Modernamente - já que dizem que as bruxas não existem - uma correlação valiosa é a de sucesso eleitoral com a calvície. Visitando Rio Claro com alunas de Hortolândia que fizeram iniciação científica comigo, ainda durante a campanha eleitoral para prefeito, chamou a atenção delas que as propagandas nas ruas (os aviõezinhos ou windbanners) mostravam o candidato à reeleição com a careca em evidência. Prontamente, nós relembramos outros prefeitos de aparente sucesso eleitoral sem cabelo e ficou a dúvida: é dos carecas que o eleitor gosta mais?
Fogueiras lá, queima total aqui. Literalmente estamos gastando energia para combater uma ação que tem sido criminosa, antes de ambiental. Os incêndios espalhados pelo país foram acesos pelo extremismo de direita, com apitos de cachorro despertados da mesma forma que foram os golpistas do 8 de Janeiro e os caminhoneiros que pararam o país em novembro de 2022. A seca pela qual passamos é inédita nas últimas décadas, isso é verdade, mas o fogo acontece e é alimentado devido a três fatores: combustível, comburente e iniciador. Se os dois primeiros estão mais disponíveis, sem o palito de fósforo aceso a chama não se forma. Nem nas matas, nem nas bruxas. Suicídio ambiental é outro termo apropriado para a situação, ainda que devamos evitar os possíveis gatilhos que a palavra suscite. Já a eutanásia assistida é ilegal no Brasil, mesmo que aquele que queira a ela se submeter deixe registrado em cartório o desejo da morte quando não há mais chance de vida. O poeta que dignificou a palavra e a música quis morrer também de forma digna. Assim fez Antonio Cícero. Ele não escreveu sobre bruxas nem cabelos, pelo que me lembro. Mas fez arrepiar os pelos da nuca com sua interpretação da natureza humana.
Admiro muito seus textos inspiradores, meu caro. Gratidão. Feliz final de semana.
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