Agridoces palavras
A palavra serve para alegrar ainda que alegria seja anagrama de alergia, com uma singela troca de letras. Joguinhos à parte, a atração pela literatura seria infinita, se fisicamente plausível, mas a imaginação nos dá a liberdade de poder ler tudo o que já foi escrito e pensado. Não apenas as alegrias, mas as insatisfações, dúvidas e não vou me alongar nos manjados substantivos e adjetivos que dizem o que é a literatura. De crônicas a romances, a literatura pode estar nos mais curtos versos escritos numa trova até nos poemas épicos. Ou na chamada prosa poética, premiada agora com o Nobel de Literatura para a sul-coreana Han Kang. Confesso que a única obra em coreano que possuo é um exemplar do Novo Testamento, de linda capa vermelha, que tomei emprestado por tempo indeterminado do hotel em que estive em Seul, muito tempo atrás. Empréstimo porque comuniquei ao atendente que estava levando o livro comigo. A expressão dele - ou falta de expressão - disse muito sobre o fato inusitado. É um exemplar bilíngue, coreano e inglês. Não que eu vá aprender novos velhos ensinamentos, mas admirar a forma dos caracteres daquele idioma é instigante.
Todos viraram fenômenos instantâneos, aumentando seus índices, números e valores. Eu, por exemplo, em menos de 10 anos, saí da idade de 50 para me aproximar dos 60! Não, não é meu aniversário, e a frase foi um impulsionador de engajamento no Facebook. Saí de duas curtidas para mais de 40! O uso das redes antissociais para auferir vantagens financeiras mostrou a verdadeira face do espaço que se dizia ser a essência da democracia e em que eu imaginava colocar minha palavras que chegariam a todos os rincões planetários. Se não pagar por isso, ficarei com aquelas poucas dezenas de engajados. Tanto é que há muita gente dizendo-se poderosa por passar o dia reenviando mensagens de origem duvidosa para seus grupos, aumentando o lucro que outros ganham. Nada é checado, apenas textos e imagens veiculados de forma espalhafatosa como "verdades". Novamente, quando desmascarados, evidenciando que se trata de um boato ou mentira deslavada, resta apenas o silêncio dos covardes, como se nada tivesse acontecido.
Além da Literatura, a semana foi de anúncio dos demais Prêmio Nobel, incluindo o de Medicina e o da Paz. Tanto o Nobel de Física como o de Química de 2024 premiaram pesquisas envolvendo a inteligência artificial (IA). Ferramenta perigosa, um dos ganhadores assim afirmou. O ChatGPT, por exemplo, pode criar textos longos, estruturados, que imitam bem a escrita de um blogueiro. De madrugada, e encafifado com a possibilidade, falei para a tal IA gerar um texto usando a frase que começa o parágrafo anterior. E não é que o bichinho fez bonitinho! Eu até ia copiar aqui - ia, não IA - e não copiei. Não sei de quem é o direito autoral, pois deve ter se baseado em alguém que já escreveu sobre o assunto, ou é tão lugar-comum que a banalidade ficou escondida pela maravilha da ferramenta. Semelhante à banalização do mal disfarçada de tigrinho ou coach. Os jornais que publicam artigos traduzidos de outros veículos estão colocando a observação de ter usado IA. Pelo menos assim faz o Estadão. Teremos, nós pretensos escritores, de incluir uma observação que este texto foi escrito exclusivamente usando nossas mãos, o teclado e as angústias que corroem nosso corpo, não tendo participação consciente dos vomitadores digitais de palavras.
Deu erro
ResponderExcluirPrecisa acrescentar: sem participação do IA.
ResponderExcluirAdilson, adorei a parte de IA. Também acho uma ferramenta perigosa. Um
ResponderExcluirMundo cada vez mais artificial e superficial me assusta. Parabéns!