Semana do solstício

Efemérides são o que acontecem com destaque ou são consideradas importantes, às vezes de forma rara, outras, totalmente previstas. Aniversário é uma delas, um evento anual que se repete na mesma data, monotonamente para muitos. Quando a quantidade de anos acumulada é redonda, lembramos mais facilmente e deixa uma marca a ser comemorada. Nestes meados de junho temos muitas efemérides dignas de nota. Legais, eu diria. O aniversário do Chico Buarque de Hollanda, 80 anos, com lançamento de vários livros, foi uma delas. O livro do André Simões foi um desses. Estive lá, apreciando e tietando o autor de "Chico Buarque em 80 canções" e o Fernando de Barros e Silva, apresentador do Foro de Teresina e repórter da revista piauí, que participou da conversa com o autor. Tasquei-lhe o registro de uma foto e pedi autógrafo no livro comprado, uma vez que o Fernando também assinou a orelha da obra. (https://cultura.uol.com.br/radio/programas/vozes-do-brasil/2024/06/21/88_chico-buarque-em-80-cancoes.html). Tais registros estão no instagram (@adilson3paragrafos), pois este espaço é exclusivo para as palavras.

O químico comemora seu dia coincidente com o do falecimento de José Saramago, em 18 de junho. Um dia para chamar de nosso. Machado de Assis completa 185 anos de existência neste 21 de junho, dia do solstício - de inverno nesta parte meridional do planeta. Sim, Machado continua vivo, ainda que tenha havido um "verme que primeiro roeu as frias carnes do [seu] cadáver", segundo Brás Cubas. A lua também parou no céu, em noite chamada de lunistício, visto no hemisfério norte em que o satélite atravessa a abóboda ficando lá por tempo maior, parecendo que fica parado. Mesmo que não vimos o efeito desta vez, a lua cheia ilumina a noite majestosamente. Lembro a majestade, mas não falarei de FHC, outro de 18 de junho, nem da proximidade dos 30 anos do lançamento do Plano Real. E os demais aniversários do período? O Facebook informa que tenho cerca de 100 amigos que completaram anos nesta semana, o equivalente a 1/50 do total, ou 2%. No mundo todo há 22 milhões de pessoas que aniversariam no mesmo dia, pois 365 dias (ou 366 neste ano bissexto) são insuficientes para impedir a coincidência. Basta fazer umas continhas de dividir.

Mas o que não é dependente de data é a admiração da natureza e a tentativa de converter esse fenômeno em palavras entendíveis por quem escreve e por quem as lê. O colunista precisa saber a diferença entre sua opinião e a dos interlocutores, mesmo que se baseie em fatos e evidências. A interpretação costuma ser a base da criatividade. Piso em ovos aqui para não trair minha opinião a fim de agradar o público. Vemos que há limites aí, especialmente quando clamam por "narrativas" alternativas à realidade, sem deixar claro que se trata de ficção. Até um mestre das palavras como Sérgio Rodrigues, articulista da Folha de S. Paulo, se subverteu à admiração por Chico Buarque para fazer um agradecimento ao que o artista compôs e influenciou sua iniciação à linguagem. Voltamos ao velho Chico, o músico, bem entendido, não o rio. O curioso é que Sérgio pede desculpas por agradecer a Chico, desculpas indevidas, uma vez que o agora octogenário artista foi mestre na construção das palavras, permitindo o trocadilho. Além das palavras, vieram as melodias e a história, importante para todos os que tenham um mínimo de sensibilidade musical. Parabéns, mais uma vez, ao Chico e ao Sérgio pela homenagem.

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