Escolhas e exclusões

Não gosto de curtir postagens com crianças. Nunca se sabe se é de quem realmente diz ser ou se é algum caça cliques para apenas angariar dinheiro. Fotos em poses engraçadinhas, associadas ou não a dizeres poéticos, com um apelo aos rostinhos bonitos. Pode ainda envolver pedofilia. Muitos dos exercícios de internet são apenas desvios para algoritmos coletarem dados e preferências e alimentar um bilionário mercado de informação. Não curto postagens religiosas pelo óbvio: é algo sagrado e íntimo e não deveria ser público. Sim, também não respondo quando me tratam como crente - penso que se eu chamasse crentes de blasfemos, ele ou ela não gostaria. Seria o mesmo sentimento que eu tenho quando assim me tratam. Na questão política, tenho minha evidente e clara posição. Há algum tempo criei o hábito de cumprimentar todos os amigos do Facebook na data natalícia, indicando a leitura deste blog como presente. Isso porque o malfadado algoritmo indica o aniversariante, não vem da minha memória. É cerca de uma dezena por dia e, por semana, perco uns dois ou três desses amigos que descobrem, creio eu, minha verdadeira face do mal! Mas eu sou gente de bem, dirá o outro, ao qual respondo que o 100% bom é obra de ficção ou de enganação. Escolha.

Na divulgação do blog, uso listas de e-mails, grupo do Google e postagens nas redes sociais. Já me pediram para retirar o nome da lista de destinatários por vários motivos. O mais comum é por não agradar. Solicitação sincera e prontamente atendida. Mas houve um que argumentou que não entende o português aqui escrito, por ser falante de espanhol. Isso porque estamos na era da pronta tradução por qualquer site na internet. O endereço foi retirado da lista, e apenas informei dessa ferramenta à pronta disposição que passamos a usar mais frequentemente. É uma escolha recorrer ao dicionário pesado e de papel ou clicar na palavra e, com o próprio mouse, ver uma sugestão de tradução. Sim, é sugestão da inteligência artificial que mais aprende quanto mais alimentamos o bicho. O computador ou a internet não aprendem sozinhos. Assim, nem todos lerão o blog, como eu também não leio tudo que me chega e entendo que os visitantes deste blog assim o façam: quando há algum chamariz, leem. Caso contrário, há sempre um bom livro para usar melhor o tempo.

Vou recorrer a uma publicação na Folha de S. Paulo para completar minhas escolhas e as exclusões alheias. Partilho das preocupações do escritor e jornalista Ruy Castro que escreveu "Meus colegas de limbo" no final de abril, revelando as inúmeras profissões que serão eliminadas no curto prazo, quando perguntado ao ChatGPT. O lamento do título é porque jornalistas e escritores estão na lista, junto a dezenas de outros, incluindo nós os professores. Porém, que operadores de telemarketing não fariam falta nenhuma, isso temos de admitir que é verdade. Pelo contrário, são um enorme estorvo moderno em irritantes ligações telefônicas. Por outro lado, quem fará pizza de verdade em um mundo sem pizzaiolos, segundo a ferramenta cibernética? Essa inteligência não precisa de carboidratos para se alimentar? Quem porá as juntas e os músculos no lugar sem fisioterapeuta? Um robozinho com software mequetrefe não dará conta!