Trânsito pelo tempo

Subvertendo o ditado, dê um volante e um motor possante a uma pessoa para ver sua verdadeira índole. No trânsito, já devo ter anunciado, a ignorância alheia não pode determinar meu comportamento. Nestes dias de forte chuva pelas estradas, em que até caminhões e ônibus hesitam continuar rodando, a surpresa fica por conta dos que não sabem a relação entre atrito, velocidade, pista molhada e força centrífuga. Os bólidos seguem pelo rio que se forma e lá dentro, imagino, deveria haver ao menos um ser pensante. Veículos autônomos ainda não são vistos por aí e talvez eles teriam uma programação que impedisse externar a ignorância, eivados de "inteligência" que são. Direção defensiva passou a ser item obrigatório no trânsito, junto com pneus, faróis e setas indicadoras. Quer dizer, não aqui, em que motoristas vivem em sociedade secreta e não revelam para onde estão conduzindo seus veículos. Ou seja, não dão seta!

Resolvi, finalmente, ler PT, uma história, de Celso Rocha de Barros. O livro me surpreendeu por contar boa parte da história recente do país e as direções que ele tomou, não se limitando ao partido do título. Alguns bastidores são revelados pelo autor que entrevistou muita gente para compor a obra, não se restringindo ao que é sabido pelas notícias publicadas. Uma leitura quase obrigatória para hoje entender como se deram e como se dão os arranjos institucionais que levam à governabilidade e à condução do país. Também revelam-se os motivos pelos quais aqueles que se dizem anti-política, na verdade são anti-sociedade. Uma história desse porte não poderia ser feita somente com acertos. Os erros são inúmeros e vemos como o PT lidou com eles para ir se consolidando como o grande partido que é. As mudanças ideológicas no resto do mundo impactaram muito a natureza do que seria uma social-democracia tropical e o livro adentra essa análise. A leitura vai pela metade e estou em 1990, início do governo Collor. Celso Rocha de Barros possui boa pena para conduzir o leitor pela aventura da história, sem cansá-lo e sem perder a precisão dos fatos e fontes.

O mês acabou, o prazo expirou, e agora José? As pedras do caminho são muitas, não apenas aquela individualizada pelo poeta, magnânimo Drummond. O tempo consome e some. Mas o calendário apresenta um novo mês e parece que tudo se transforma em novo trânsito planetário pelo espaço, inaugurando outro ciclo lunar. O tempo é real, os físicos já comprovaram, mas o efeito psicológico que ele possui em nossas mentes é algo espantoso. Basta uma nova imagem para representar o último mês do ano, com flocos de neve e enfeites em verde e vermelho, para revigorar anseios. Isso não muda minha angústia com a época em que tudo e todos querem resolver e ser resolvidos em três semanas. Há tempo para a cultura e a Academia Campineira de Letras e Artes traz exibição de filmes do Ecocine - Festival Internacional de Cinema Ambiental e Direitos Humanos - com homenagem a Ariane Porto, Acadêmica e cineasta (https://web.facebook.com/Acla.Campinas/). Há tempo também para vários outros trânsitos culturais, simultâneos e encavalados, uma vez que a alta velocidade de acontecimentos nesta época é onipresente.

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