O todo com suas partes

É uma semana importante em que tento ser independente e publicando os parágrafos sem atraso. O prazo é meu, gostaria de me disciplinar melhor, mas somente o possível acontece. O impossível fica por conta da imaginação. Ainda que atrasada e com poucas visualizações, a postagem da semana passada levou a comentários, e agradeço à sensível escritora Clarice Villac por um deles sobre baús e fotos (https://adilson3paragrafos.blogspot.com/2023/08/memorias-e-esquecimentos.html). Levando aquelas reflexões um pouco mais adiante, digo que os fragmentos de lembranças são muito bem reconstituídos pelas fotografias, impressas, é bom ressaltar, uma vez que hoje o registro de imagens é quase todo digital, dispensando o uso de caixas de sapatos e de camisas para guardá-las. Qual a chance de se deparar com um arquivo escondido em celular esquecido da mesma forma que pode acontecer com uma fotografia ou bilhete amarelado perdido no meio de um livro no fundo de uma gaveta ou de um caderno já destinado para a reciclagem?

Pedaços e a necessidade de juntá-los são o mote de quem está feriadando recortando jornais para guardar matérias publicadas. Sim, guardo também todas as cartinhas publicadas nos jornais que persistem nesses dias de informação fútil e volúvel. Mas não só da celulose impregnada pelo grafite que as reflexões sobrevivem, pois os zeros e uns digitais são onipresentes, este blog é um exemplo disso. Também motivado pela discussão acerca da doação e transplante de órgãos, fiz um comentário na forma de texto no site Chumbo Gordo, defendendo que a escolha do indivíduo doador seja imperativa sobre o da família (https://www.chumbogordo.com.br/433278-doacao-de-orgaos-por-adilson-roberto-goncalves/). Parte de nós que pode continuar existindo, sabendo que o fim é o fim. Como disse Primo Levi em relação à matéria, qualquer matéria, "tudo ressurge renovado". Referia-se aos sistemas desumanizantes como o nazismo, o fascismo e, mais recentemente, à nova extrema-direita racista e contrária a imigrantes, e fazendo analogia à química, sua ciência de formação e de sobrevivência.

A química extravasou a postagem anterior e foi integrar um artigo curto sobre sua presença nos alimentos (https://port.pravda.ru/science/58247-quimica_alimentos/). E eu continuo a defender a mais linda e nobre das ciências. Nesse texto repeti um parágrafo que havia integrado outra manifestação. O autoplágio consciente, nas palavras de Paulo Franchetti, deveria ser punido? O linguista e meu professor de Português em outros tempos trouxe essa discussão para o Facebook (https://web.facebook.com/paulo.franchetti/). As linhas escritas em duplicidade contarão menos em uma avaliação? A descrição é a mesma, mas a inserção do comentário foi com ênfase distinta, isso eu sei, pois fui o autor de ambos. Em tempos em que temos de pagar para publicar toda e qualquer descoberta científica, ficando à mercê dos avaliadores/vendedores de espaço, fica a pergunta se não bastaria a universidade pública e de excelência manter um site com as publicações. O espaço seria de livre acesso e todos poderiam saber e opinar sobre o que foi pesquisado e investigado. Já publiquei mais no passado e hoje reconheço o enorme descompasso entre o que é feito do laboratório e o que sai nos "papers". O todo visível não representa as partes envolvidas.

Comentários

  1. Apesar de estarmos na era digital e meu celular cheio de fotos, ainda prefiro escolher as fotos mais importantes e revelar colocando-as em um álbum ou em porta-retratos. Pois no celular elas podem se perder e ao imprimir registro as memórias que não quero perder.

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  2. Depois de ler este seu blog e o anterior, me pergunto: o que será de mim e de tantas outras pessoas, que já viveram mais de meio século, curtindo a evolução da história, amando guardar memórias palpáveis e agora mergulhadas (querendo ou não) no "mundo virtual", onde tudo está e muito pouco se vê. Odeio dizer isto... mas acho que estou ficando velha. kkkk melhor rir, que chorar. Maria Felim

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  3. Muita verdade em seus comentários.

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