Dias idos

Foi o dia da ciência e do pesquisador científico em 8 de julho, data da fundação da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência, uma comemoração com viés de volta à civilidade. O aniversário de Campinas e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico da mesma cidade é neste 14 de julho, que não é feriado; Marcel Proust nasceu num 10 de julho, Guilherme de Almeida morreu num 11 de julho, Carlos Gomes nasceu nesse mesmo dia, 11, em outro século. O dia "mundial" do rock é comemorado somente no Brasil em 13 de julho e minha comadre aniversariou no 12. Novamente, o volume de efemérides é muito grande em relação ao número de dias de um ano. As coincidências são inevitáveis pela lógica probabilística. E o tempo, esse que uns buscam e poucos encontram, segue inexorável e vence todos os prazos e derrota os compromissos. Os dias vão pelos desvãos da existência.

O elogiado historiador abdica da gramática e não faz distinção entre o uso do verbo haver, para representar o passado, e a preposição mais singela, para indicar o futuro. O som é o mesmo, dúvida de muitos estudantes da educação básica, mas a distinção entre "há" e "a" deveria ser questão resolvida para os que lidam com evidências para determinar o acontecimento pretérito com a intenção de auxiliar no entendimento do tempo presente. Da confusão resta um ah exclamativo, misto de estarrecimento com descoberta. Se mais seco e curto, é assustado; alongando-se a vogal no tempo conota um "então é assim" substituto do eureka grego. Eureka também é passado, no caso, do verbo descobrir. Já é difícil transferir para letras e palavras o que se quer dizer, e quando uns não representam adequadamente os outros, ficamos com solução de continuidade, como diz o erudito.

Um último parágrafo completa esta postagem, com um quê de amargor interno. Na plateia dos dias que passam, muita gente deixa de existir e já afirmei que não é intenção transformar este blog em necrológio. Cada uma das referências de nossas vidas deixam um lamento adicional quando morrem. Podem ser famosos que ilustram várias páginas de jornais e sites, podem ser aqueles que conosco conviveram. Contamos nossos dias em dias, mais curtos no inverno que vai, igualmente curto na extensão das palavras de hoje.

Comentários

  1. Os dias passam, datados ou não; carpe diem, blogueiro! (PSViana)

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  2. Um brinde à presença encantada e inspiradora de duas grandes pessoas que nesta semana viraram estrelinha, Jane Birkin e João Donato.
    A contemporaneidade com pessoas assim especiais, tem esse quê de magia.
    Dias vívidos, vividos.

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