Engolindo letras e sapos

Por esses dias, centenárias referências se apresentam. Quanta coisa escreveu e matutou Ruth Guimarães, nascida no mesmo dia em que Santo Antônio é celebrado. Os filhos mantêm sua memória viva com eventos em sua cidade, Cachoeira Paulista. Acompanho, de longe, os louvores à madrinha de nossa Academia de Letras de Lorena (ALL). Professor Nelson Pesciotta, outro centenário já falecido, será homenageado na nova edição da coletânea da ALL a ser lançada em agosto, no aniversário. O compromisso de publicar todo ano está sendo levado a cabo ininterruptamente. Resgatei dos arquivos públicos o fichamento do professor quando da ditadura cívico-militar, rotulado de comunista, como todos os que ousam clamar por um mundo melhor. Em minha época estudantil sabíamos do paradoxo da expressão inteligência militar e hoje parece que a falta de sinapses se estendeu para vários cantos (e antros) povoados por alguns que avocam sapiência. Só se mudaram a etimologia para algo raso, com origem no sapo, o batráquio. Há vários eventos culturais no fim de semana que se aproxima, faço questão de informar. A União Brasileira dos Trovadores, seção Campinas, fará encontro no sábado, 17/6, às 10h na Biblioteca Municipal. A Academia de Letras de Lorena se reunirá no mesmo dia às 16h, na Biblioteca Municipal de lá. Bibliotecas como templos do saber.

A digitação falha que troca letras ou as faz sumir é comum a quem escreve, salvo, muitas vezes, pelos corretores já incorporados aos editores de texto. Neste blog a ferramenta não é usada e aparecem gralhas publicadas, justificadas pela dislexia em progresso. Ah, essa idade que rima com maldade. Alguns me alertam, outros criticam. Uma vez saiu eminente ao invés de iminente, em explícita mistura de lapso com erro. Corrigi, não sem antes explicar ao crítico que, se ele traçava meu perfil intelectual pela falha, pouco mais restaria para justificar-me. Ele amenizou o tom. Letras trocadas fazem-me lembrar das cartas trocadas, não aquelas das correspondências entre missivistas, mas os documentos que são substituídos por outros, por confusão ou fraude. As cartas que escrevo encontram às vezes seu contumaz destinatário que é o editor do jornal ou da revista. Aglutinadas viram artigos, tal qual este sobre o preço sendo cobrado pelo Congresso Nacional: https://www.brasil247.com/blog/o-preco-do-centro, um outro tipo de troca, ou mesmo este outro, não composto por cartas, mas aqui citado por ser a estreia no Jornal de Barão: https://jornaldebarao.com.br/2023/06/14/lixo-e-lixeiras/.

Lembrando de letras e de alguns sapos a engolir, volto ao tempo das aulas na lousa em que escrevi xileno. Um aluno alerta que a palavra é escrita com ch. Mudo a chave cerebral para entender o que ele dizia e informo que o nome da substância tem a mesma raiz que xilogravura e xilofone, ou seja, madeira. Não se relaciona com o país vizinho, não fronteiriço ao nosso. E aproveito para dizer que em química algumas substâncias possuem nomes peculiares, como o cubano, que nada tem a ver com a ilha na América Central, mas sim porque sua estrutura com oito átomos de carbono se assemelha a um cubo, cada um desses átomos em um vértice. E por que não cúbico? Porque seria um adjetivo e não o substantivo que pretende ser o nome da substância. Creio que ele entendeu. A nomenclatura foi desenvolvida para evitar confusões, mas as piadas escatológicas prosperam, ao menos em português. Isso sem contar as comidas de letras do gerúndio de verbos que se confundem com outras substâncias, tais como benzeno, cumeno e o grupo meteno. Química é também distração linguística.

Comentários

  1. A "química da sua intelectualidade" resulta numa leveza gostosa na leitura de temas importantes e interessantes, entrelaçados.
    Maria Felim

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  2. Console-se, blogueiro: “Lutar com as palavras é a luta mais vã…” E o que mais há neste mundo são malentendidos, e não só por trapalhafas da linguas e dos corretores… Continue a sua escrita, como caravana que passa…

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