Terremoto

O impacto da movimentação das placas tectônicas é medido pela escala Richter, relacionada à energia envolvida e possui uma escala logarítmica de base 10, ou seja, uma unidade a mais na escala significa um tremor com intensidade multiplicada por 10. Escalas logaritmicas são comuns nas ciências para evitar que diferenças muito grandes sejam difíceis de escrever. Em química, a escala de pH (potencial hidrogeniônico) é uma das mais conhecidas, mas todas as medidas cinéticas e termodinâmicas envolvem equações que usam logaritmos. O problema nessas escalas é querer fazer comparações diretas, por exemplo, um tremor de 4 pontos na escala Richter e outro de 8 pontos não significa que uma teve o dobro de intensidade do outro, mas dez mil vezes! O número de mortes e impactados pela destruição, por outro lado, é imensurável. No início das notícias falava-se em centenas de mortos e, que passaram a milhares nos dois dias seguintes e, até agora, já passam de 11 mil pessoas. Os arcos de maiores tremores são aqueles de impactos das placas, um estudo interessante que nos revela que não existe terra firme. Estamos sobre placas que se movem pela superfície da Terra. Mesmo o chamado reino mineral possui uma dinâmica de transformações. A diferença é serem mais lentas do que as de nossas vidas, por isso as sentimos em menor intensidade.

A experiência brasileira com terremotos e vulcões é pequena e deu margem a muita anedota, contrapondo a questão natural com a sócio-política. Anedota injusta, por certo. Não sabemos o que fazer quando colocados frente a essas convulsões planetárias. Senti meu primeiro tremor de terra quando estudante em Göttingen, na Alemanha, acordado de madrugada com a cama chacoalhando e batendo contra a parede. Os colegas chilenos, ressabiados e mais experientes, saíram rapidamente do dormitório e foram para o meio da rua ou ficaram embaixo dos batentes das portas. A comunidade de estrangeiros era grande por se tratar de alunos com bolsas de estudos para não alemães. Após o susto, soubemos que nada havia desabado por perto, o tremor foi um repique de outro terromoto, do qual não tivemos notícia. Eram os anos 1990: a comunicação era segura, porém lenta. Nas constuções, uma das partes mais reforçadas são os batentes das portas, assim nos falaram. Guardei a informação e nunca precisei usar. Na internet é possível encontrar alguns eventos daquela época e um deles pode ter sido o que eu e a turma sentimos. Fica na memória a experiência.

Usamos a palavra terremoto também como metáfora para designar grandes transformações. Exagero, por certo, desculpado pela nossa inocência e inexperiência. Outras catástrofes ainda chamadas de naturais rotulam as enxurradas de processos ou erupções de ideias. Sem contar as avalanches, tsunamis, vendavais e outras tantas movimentações dos elementos com muita energia envolvida. Terra e terror parecem de mesma origem, mas distanciam-se, e muito, conforme os linguistas. A primordial deusa Terra dá nome ao planeta, mas as quatro letras iniciais que levam ao terror têm etimologia diferente. Segundo o Houaiss, distanciam-se em dois séculos quanto à introdução na língua, o planeta anterior ao pavor. Os poetas brincam com palavras e letras que advêm de si, mas são dos intestinos do planeta as causas para os tremores e abalos sísmicos. De qualquer forma, é terror que faz cair por terra parte da civilização.

Comentários

  1. Luiz Antonio Alves de Souza9 de fevereiro de 2023 às 15:10

    Os terremotos na Turquia e Síria tiveram suas consequências catastróficas, em razão do descuidos das prefeituras, quanto aos métodos de construção. Vejamos o exemplos do Chile.

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  2. Excelente, Adilson, quanto ensinamento. Adorei sua análise. Parabéns

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  3. Não temos aqui terremotos, mas temos certos politicos…

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  4. Muito boa análise Adilson. De vez em quando a terra precisa chacoalhar para nos lembrarmos que somos mortais e pouco sociais. Exemplo dá a Russia, que salva em progressão aritmética na Turquia e Síria e mata em progressão geométrica na Ucrânia.

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