Espaço para a vida

Dei-me conta de várias pessoas importantes para mim e famosas para muitos que nasceram ou morreram em datas que fazem aniversário nestas semanas iniciais de dezembro. Parentes e não parentes também, uns vivos, outros falecidos. Não os apresentarei aqui, a lista seria muito longa e o blog, definitivamente, não é a miniatura do Google. No entanto, apenas resgato Clarice Lispector, que tem a data de nascimento um dia após a de falecimento, distanciadas em meros 57 anos. Pensar que ela viveu apenas dois anos a mais do que eu já vivi! Lembra-me o escritor que tece suas reflexões existenciais sobre o túmulo do pai, visitando-o quando ambos tinham a mesma idade, ou seja, os restos mortais embaixo da terra foram de um ser que viveu o mesmo que o escritor ali, de pé. Poucos dias à frente, o filho estaria mais velho do que o pai morto. Perder um familiar precocemente dá a muitos essa "oportunidade" única de dialogar consigo mesmo sobre efemeridade, singularidade e pequenez da existência. Tão profunda discussão faria com que a política até ficasse de fora, diante da nobreza das reflexões. Ficaria, repito.

O pó de estrelas de que todos somos feitos resulta também em consciência e atividade cerebral, usadas para admirir a própria essência do universo. Astronomia e astronáutica nos colocam um pouco acima do plano planetário para admirar os bilhões de anos em que o todo existe. Preciso explicar que plano planetário não é alusão à pseudociência, apenas uma figura de linguagem. Como parte pequena dessa aventura, a cápsula Orion, do programa Artemis, chegou de volta à Terra. Ela foi dar umas voltas ao redor da Lua, preparando medidas e condições para a volta de pessoas àquele satélite. Não dizemos que ela aterrisou porque o pouso foi na água. Sim, assisti a tudo ao vivo, com imagens inéditas de dentro da nave se aproximando de nosso planeta. Muito dinheiro investido nessa empreitada, dirão. Uma verdade indiscutível, tal como é a existência do forno de microondas, do GPS e de outras tecnologias que somente foram desenvolvidas porque houve, em algum momento, um salto no conhecimento para se sair do lugar-comum. Quando tais projetos bilionários trazem benefícios para a sociedade temos de aceitá-los como orçamentos secretos do bem.

Sem políticas públicas, não há, portanto, investimento no conhecimento. Ah, mas e a iniciativa privada? Está aí desde sempre, mas seu objetivo é o lucro e não o bem-estar. Esse deve ser negociado entre todos os atores para acontecer para além do assistencialismo. Pelas grotescas atividades criminosas que ainda permanecem em nosso país em lugares públicos, vemos que o equilíbrio social está longe de acontecer. Pode ser golpismo? Sim, pode (https://www.brasil247.com/blog/golpismo-f2vmcwyl). Zumbis tais criminosos não são, uma vez que muito vivos - e vívidos -, ficanciados por vocês sabem quem. Por mais que atuemos para um mundo melhor, há espaço para a desconstrução das árduas conquistas. A esperança tem alguma origem comum com o espaço, ao menos as letras iniciais. Esperamos mudar o calendário, aquele feito pelas observações dos astros no céu, para que a vida reaconteça.