Engenho e Arte

Na ressaca eleitoral, pipocam eventos de estudos acadêmicos em várias universidades, boa parte promovida por estudantes de graduação. Na Unesp de Rio Claro, por exemplo, é a Semana de Estudos da Biologia e a Semana do Livro e das Bibliotecas. Algumas das apresentações podem ser vistas no canal da Biblioteca no youtube (https://www.youtube.com/c/BibliotecaUnespRC). Nos dois eventos pude fazer apresentações, mostrando o que é nosso Instituto de Pesquisa em Bioenergia (IPBEN) para alunos de gradução, incentivando-os a nos conhecer e realizar trabalhos de pesquisa e de extensão conosco. O IPBEN (https://www.ipben.unesp.br/) está na mesma cidade, mas administrativamente não é ligado ao campus, o que faz com que muitos da comunidade não nos conheçam. A bibliotecária Márcia Correa Bueno Degasperi, responsável pela biblioteca do câmpus, me convidou para falar da experiência de escrita e divulgação científica dentro de meu projeto "Engenho e Arte", que também foi usado para dar nome a esta postagem. Tentamos levar um pouco do conhecimento científico a quem não é da área e parece que estamos no rumo certo, porém com a velocidade inadequada. O negacionismo científico ainda impera, haja vista os guardiões anti-vacina que foram eleitos! #IniCiencias

A ciência política faz parte dessa mescla do engenho dos que se debruçam para estudar um problema com a arte de interpretá-lo. Após a rápida apuração dos votos das eleições de domingo, confirmando a eficiência e a confiabilidade de nosso sistema de urnas eletrônicas, as pesquisas de intenção de voto dos institutos especializados (Datafolha e Ipec, principalmente) passaram a ser questionadas. A questão principal é diferenciar prognóstico de diagnóstico. Os institutos nunca fizeram prognóstico, apesar de se vangloriarem quando tais diagnósticos se aproximam dos resultados finais. Ao longo dos anos, a interação do eleitor com agentes que obtêm informação tem se modificado, criando a figura da falsa informação, a qual também alimenta crenças, crendices e as chamadas fakenews. Passamos a viver uma distopia imaginada longe de uma realidade sofrida. Se todos fizeram suas avaliações sobre as eleições, a minha segue aqui, no site Brasil 247 (https://www.brasil247.com/blog/algumas-avaliacoes-apos-o-primeiro-turno).

Sem recursos não se faz nem engenho nem arte. A notícia de mais um corte no orçamento das universidades e institutos federais é um escárnio com a sociedade. Tergiversam para dizer que é apenas um pequena fração do recurso que ficou indisponível ou que todos estão fazendo sacrifícios, mas o principal não é mostrado. Há uma política de desmonte do pensamento crítico para que prevaleça apenas uma visão anacrônica de sociedade que reflita a parte dominante financeiramente. Em São Paulo já vivemos experiências desagradáveis e parece que colocaremos a existência das três universidades paulistas de excelência em risco, juntamente com a Fapesp, que até agora nunca esteve a serviço de governos, e, sim, da população. O que era para ser um exemplo de novas políticas científicas, tecnológicas e de inovação para o país, com a proteção constitucional, pode se tornar a próxima vítima dos incautos no poder. As alternativas são frágeis: reversão da eleição do retrocesso importado ou torcer para que um novo governo paulista se submeta aos ditames estabelecidos pela comunidade científica do estado.