Dependência da sorte

A rima é proposital e nela se baseiam trovas e outras poesias clássicas. Vida rima com sorte, não há dúvidas. O que nos fez chegar até aqui é um misto de muita termodinâmica e acaso. A matéria e a energia em transformação. É feriado, mas a internet não para com tantos textos a escrever, assuntos a tratar e uma suposta importância para dar à própria existência. Sim, somos matéria cibernética complexa que temos de nos alimentar de alguma coisa. Poeira de estrelas que somos, acreditamos que ainda temos algum brilho. Juntando comida com cor, surge uma filosofia bananeira, sem ainda aludir a suposta republiqueta. A casca da banana madura absorve a luz visível na região de 470 nm, assim é mostrado nos livros de Física. Quando ainda não amadureceu, mantém a mesma cor das folhas de uma planta, da clorofila, cuja absorção máxima se dá perto de 700 nm. Esses valores também se relacionam com energia e a chamada cor complementar é aquela refletida pelo objeto, a que nós realmente vemos. Assim, é muito significativo que a cor complementar do verde seja o vermelho, aquele da brasa que deu nome à árvore e, depois, ao nosso país. Qualquer outra postulação histórica ou mítica de apropriação de fragmentos do espectro luminoso é conversa para literais bois dormirem.
 
Adentramos setembro meio no susto, sem perceber que ele chegou. Passaram o Dia do Educador Físico - homenagem a minha irmã -, o Dia do Biólogo, lembrando os vários profissionais e alunos dessa área com quem convivi e convivo, todos ficando próximos ao Dia da Amazônia e ao do fim do mundo. Aguardei um dia para saber se o mundo ia acabar. Parece que não, pois nem a realeza britânica se encerra com a triste - mas já esperada - morte da Rainha Elizabeth II. Certa vez discorri sobre o fim do mundo, de forma real, não metafórica, mas isso é uma daquelas certezas cósmicas citadas acima com as quais não devemos nos preocupar por inexorável que é. A sorte é que a natureza costuma se livrar de tudo o que é ruim, espécie humana aí incluída, mas dentro de um tempo pequeno para a eternidade, mas muito grande para nós. Porém, na dependência mundana de um calendário finito e minimalíssimo frente ao que o universo nos apresenta, a independência acontecerá em 25 dias, em contagem regressiva e ansiosa.

Das estatísticas que comandam a imprevisibilidade das coisas, saindo das leis naturais, certeiras, chegamos àquelas forjadas pela dita civilização. Essa lei, no entanto, parece existir para duas funções: ser desrespeitada e ser revogada. A prática do desrespeito leva à suposta necessidade da revogação e a revogação justifica-se porque tal lei já não cumpre os desígnios de uma sociedade que imagina ser civilizada. Um paradoxo em moto contínuo. A frequência do desrespeito aos ditames legais nos induz a crer que o erro é constância e não deve ser coibido. Na ciência e na educação, errando se aprende; na sociedade, errando, perde-se. O mestre à frente de discípulos mostra o caminho para o saber, ainda que tortuoso e não indolor. Sabe que precisa ser exemplo, dentro de sua complexa imperfeição humana. Quando não acerta, também sabe o que fez e, daí, novo exemplo de aprendizagem surge. Nas esferas palacianas não é o que acontece e o mau exemplo continua a jorrar de cima a baixo, com vulgaridades nunca antes vistas ou ouvidas. Fico aqui, aguardando a setembrada que, com alguma sorte, espero que não venha.

Comentários

  1. Meus cumprimentos pelos bem escritos parágrafos! Conhecimento e opinião mesclados com um pouco da alma poética deste brilhante autor,meu amigo Adilson.
    Maria Felim

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