Pontes entre a vida e a arte

A arte é necessária porque a vida não basta, dirá o poeta. Imitam-se mutuamente até a cópia ter mais valor do que o original, indistintos que ficam. Pontes que se fundem aos elementos ligados, feito os átomos em uma molécula, pois os elétrons envolvidos e compartilhados são partes intrínsecas da matéria. É, um pouco de química não poderia faltar em um mundo com constantes transformações. Dentro das artes, a poesia na música de Caetano Veloso, por mais contundente que seja, é suave e preenche espaços sonoros, começando por nossos ouvidos. O especial em comemoração aos 80 anos do cantor e poeta fez baixar a audiência do debate entre os postulantes a governos estaduais. Fiz um breve comentário sobre o desempenho nervoso deste primeiro embate em São Paulo, sem ferir a poética das canções de Caetano (https://www.brasil247.com/blog/debates-em-sp). Com a temporada de pesca do voto, coloquei alguns peixes miúdos e graúdos para se debelarem em picuinhas jornalísticas, arriscando usar o alfabeto cirílico para justificar argumentos (https://port.pravda.ru/sociedade/55875-peixes_piaui/). Publicado está, feito uma colcha de retalhos, mal alinhavados com costuras mambembes. Não há clima para letras em rima.

Mesmo evitando, um pouco, restringir a crônica aos que morreram nos últimos dias, não há como deixar de mencionar o grande artista, humorista e escritor Jô Soares. Ele parece ter se tornado uma unanimidade, contrariando a burrice rodriguiana, pois vejo e leio até a extrema direita lamentando sua morte e postando comentários sobre suas célebres e inteligentes entrevistas e escritos. A arte é uma ponte rebelde e revolucionária, que deveria, por definição, afastar a opinião e a estética únicas. Resgatei o nome de Jô Soares em meus escritos, especialmente quando ilustrou as páginas da Folha de S. Paulo com cartas ao despresidente, assinando-se 'influenciador analógico', escritos esses comentados e publicados alhures (https://www.jcnet.com.br/opiniao/articulistas/2022/08/811258-jo-soares.html). Mais um acontecimento a pontuar o mês de agosto, lembrando que estamos na semana euclidiana, dedicada à lembrança da morte do escritor de Os Sertões. Euclydes da Cunha fez pontes reais, não apenas as metafóricas, com vida e com arte.

Creio que Sara Ribeiro ficará contente em saber dessas conexões aqui apresentadas, ativista cultural em Campinas que é, presente em todos os eventos literários e artísticos da cidade, engajada nas redes sociais divulgando acontecimentos e efemérides, além de torcer para a Ponte Preta. O time campineiro completa anos neste dia consagrado ao início dos cursos jurídicos no Brasil, aquele decreto que, mal interpretado, dá título de doutor a quem somente é advogado. Dia em que todos brasileiros esclarecidos saem às ruas para defender o óbvio: a democracia e o Estado de Direito. Sim, subscrevemos a carta oriunda da USP e aplaudimos a iniciativa das entidades sindicais, patronais, culturais, estudantis e universitárias para combater os atentados à Carta Magna diuturnamente ocorridos no país, promovidos pelo desgoverno que aí está. É da vida que se trata, uma ponte que não pode ruir.

Comentários

  1. Excelente como sempre! Parabéns

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  2. A arte imita a vida ou a vida imita a arte? Estará certo o poeta, ao dizer que "imitam-se mutuamente"? Confesso que...concordo com ele.
    Parabéns pelos inteligentes e bem escritos parágrafos. Creio que seus textos, pelo grau de conhecimento e informação que passam, sejam apreciados por todos, independentemente das convicções políticas, que em geral, tendem a separar as pessoas.
    Maria Felim

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