Bibliotecas

A Biblioteca Nacional, com terraplanista à frente, substituído por outro de igual naipe, não consegue mais atualizar o acesso ao acervo digital. Preocupada que está em diplomar os indignos, deixa de cumprir função primordial de preservação e disseminação do acervo, no caso, de sua vasta e completa hemeroteca. A digitalização da revista Fon-Fon, do final de 1907, por exemplo, prometida há anos, continua tal qual. É um período de quatro meses que pode conter inéditos importantes, especificamente de Lima Barreto, que existe de forma impressa, mas que não foi digitalizado porque estaria em condições mais precárias que o restante da coleção e necessitaria de tratamento mais cuidadoso. São informações de quase quatro anos atrás, com promessa recente de atualização, não concretizada. No momento é necessário fazer uma acrobacia digital, primeiramente acessando a aba "acervo digital" e, depois, "hemeroteca digital" para possibilitar a pesquisa nos jornais e revistas, caso contrário o sistema fica em contínua e infinita espera, sem solução (https://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/).

A agência de notícias BBC informa que quase 800 bibliotecas públicas fecharam no país em cinco anos, o que se lamenta pelo significado e abrangência prática (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62142015). Bibliotecas são lugares de conhecimento; estar em uma delas eleva a mente a outro patamar, mesmo que não se consultem os livros ou não se use o espaço para estudo. Ao mesmo tempo, milhares de clubes de tiro foram abertos, o que diz muito sobre a forma como se conduzem as políticas públicas atualmente. O número de bibliotecas fechadas pode ser muito maior porque o levantamento é frágil, atualizado somente até 2020, uma vez que não há mais um Ministério da Cultura e apenas uma secretaria que cuida de tão importante setor da sociedade, atrelado ao turismo. E há ainda os que apoiam tais medidas e desgovernantes que conduzem assassinatos culturais e se dizem intelectuais. Não, não são. São oportunistas de má-fé travestidos de senhores e senhoras do saber. No lugar de peles de carneiro podem até carregar um livro na mão. Apenas isso.

Um antigo diretor de unidade universitária dizia não entender por que se reivindicava espaço para acomodar e ampliar a biblioteca daquela instituição. O argumento dele, justo até certo ponto, baseava-se no fato de que já não era necessária a consulta constante a títulos por meios físicos, disponíveis no meio digital e no computador de cada um. Não foi contrário às obras que ampliaram a biblioteca e seus anexos, é bom deixar claro. Esquecia-se o nobre dirigente que o ambiente contribui e muito para o desenvolvimento científico e intelectual, não sendo apenas um local de depósito de livros e outras obras impressas. Cultuo o meu espaço, para lembrar que um outro mundo é possível, ciente que já não resta o mesmo tempo de leitura do que aquele usado para escreverem tantas obras. Vale a máxima de que tenho numa mão uma biblioteca que não cabe em uma sala ampla, referindo-se à transformação de conteúdos impressos em arquivos acomodados em discos ópticos, os famosos CDs e DVDs de outro dia, ou nas inchovíveis nuvens cibernéticas. Mas que ler diretamente sobre a celulose impregnada pelo grafite é muito melhor, isso é inegável.

Comentários

  1. Tenho frequentado semanalmente uma biblioteca municipal em São Paulo, a Viriato Correa, e é um prazer indescritível passar horas lá, em um silêncio cada vez mais raro nessa cidade. Fico me perguntando onde fecharam 800 biblioteca púbicas, como é que se faz pra fechar, quem dá a ordem, etc... Inconcebível! Porém sinal desses tristes tempos.

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  2. Fecham-se bibliotecas e usa-se a maior delas para distinção de gente indistinta. Alguma coisa está muito errada no país.

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  3. Muito bom, como sempre. Parabéns!

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  4. Parabéns meu amigo por mais uma vez nos trazer conhecimento.

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