Versos e reversos do conhecimento

Quinta-feira pós-solstício de inverno para os meridionais habitantes deste mundo. Depois da noite mais longa, o sol volta a migrar para o sul. O frio não dará sossego tão cedo e apenas as questões mundanas políticas e eleitorais aquecem o ambiente. Pouco mais de 100 dias! Aguentemos, pois. O desejável seria sem dias sob estes cem dias. Três anos atrás o uso do homófono fazia parte do título de artigo publicado tanto no jornal campineiro quanto no de Bauru. Lá no centro geográfico do estado de São Paulo o editor fez questão de colocar "sem" entre aspas para o realce, desnecessário para o jornal daqui. São sons idênticos que se tornam um assunto sério na formulação das rimas de trovas, ainda que haja os que não conseguem ou não querem entender o que os manuais explicitamente explicam. Sim, há regras definidas e constantemente reavaliadas para a arte sucedânea da quadrinha portuguesa. Sei que os amantes da poesia livre - ou seriam os poetas do amor livre? - poderão elevar seus nasos em descaso, mas repito que aprendi a admirar e praticar tal arte. Parece simples e fácil registrar um sentimento, ideia ou conhecimento em quatro linhas, mas não é!

As palavras construídas fazem parte de uma ciência social interessante e importante. Há boa discussão entre os linguistas nessa seara, talvez com Noam Chomsky como um dos principais estudiosos modernos do assunto. Sergio Rodrigues em sua coluna semanal da Folha de S. Paulo adentrou os vocábulos com conotações políticas e históricas, derivados de um ambiente fortemente misógino, machista e patriarcal. Ele cita a substituição de homenagem por femenagem e seminário por ovulário (para quem tem acesso, eis o link: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/sergio-rodrigues/2022/06/vamos-femenagear-o-ovulario.shtml). Sem base argumentativa para tomar partido, cito um dos comentários feitos à publicação dizendo que a artificialidade não faz parte da linguagem, sem chances de sobrevivência, dando o esperanto como exemplo. Discordo e deixo para meus esperantistas leitores do blog, Paulo Viana e José Lunazzi, dentre outros, a argumentação balizada, se quiserem se manifestar. Em versos e prosa em esperanto, o médico e acadêmico traduz tantas imagens lindas que julgo improcedente tal afirmação. Uma amostra aqui: http://blogdopaulosergioviana.blogspot.com/.

A ciência está a incentivar jovens. Ainda que programas federais com projeção internacional há muito deixaram de existir ou subsistem de forma muito rudimentar, os programas de pós-graduação e de iniciação científica continuam a selecionar alunos para desenvolverem projetos de interesse tecnológico, social, ambiental e econômico. Mesmo aqueles jovens que estão dentro de uma universidade de ponta, como o Unesp, não têm pleno acesso a todos equipamentos, facilidades e projetos lá desenvolvidos. Dando alguma oportunidade para terem contato com o ambiente da pesquisa científica, o deslumbre acontece e nasce um ou uma cientista. A esperança é o retorno a condições mínimas de valorização do segmento e propostas são feitas para alguma garantia constitucional para o orçamento dos órgãos públicos de fomento, tal como esta que integra importante programa de governo: https://www.programajuntospelobrasil.com.br/eixo-2/ciencia-tecnologia-e-inovacao/garantia-constitucional-do-fomento-a-ciencia-tecnologia-e-inovacao/. Incentivos da mesma natureza são dados a estudantes do ensino médio de escolas públicas e, novamente, faremos propostas para acomodar tais alunos em nossos laboratórios. #IniCiencias

Comentários

  1. Não há muito o que argumentar. Quem usa o Esperanto sabe que é língua viva, independente de qualquer teorização. Aliás, nunca foi língua “artificial”, mas “planejada”. Obrigado, grande blogueiro!

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  2. Muito bom artigo. Parabéns Adilson👏👏👏

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  3. Há muitos anos atrás li um comentário sobre o Chomsky. Dizia que as tentativas de formalização e a ideia da *deep structure* no cérebro atrasaram a pesquisa em linguística em 10 anos. O Chomsky deu uma contribuição fenomenal à ciência da computação, ao definir os 4 tipos de linguagens formais. Dois deles são largamente usados na área de compilação (tradução de programas escritos em uma linguagem de um nível mais alto do que a linguagem de máquina, para esta última).
    Mas aprecio os seus comentários políticos. As críticas dele são muito abalizadas. Acho que ele é um grande exemplo de pensamento independente.

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