Cultura da vida e da morte

No meio do feriado, o blog não para, mas também não é lido. Deve haver outras coisas a serem feitas além de pensar em cultura e, portanto, vai uma postagem mais curta. A leitura aquece o frio e alimenta reflexões e indignações. Neste período acontece a comemoração do Dia dos Profissionais da Química, antes chamado apenas de Dia do Químico, coincidente com o da morte do escritor português José Saramago. O Conselho Regional de Química da IV Região promove anualmente um prêmio para os melhores trabalhos na área realizados por alunos e orientados por profissionais lá registrados. Assim, é uma felicidade compartilhar a notícia de que, neste ano, alunos meus foram contemplados por projeto orientado por mim: https://www.crq4.org.br/pcrq_2022_resultado. O Conselho fará cerimônia para marcar a data, presencialmente, uma vez que houve alívio nas questões pandêmicas, com todos os protocolos de segurança e sanitários necessários. Ainda estamos morrendo de Covid-19, é bom lembrar. Química é vida! #IniCiencias

Um ano atrás já discorri sobre a data de hoje, 16 de junho, o Bloomsday, para os amantes (e também odiantes) de Joyce: http://adilson3paragrafos.blogspot.com/2021/06/o-buraco-leva-pneus-e-rodas-prefeitura.html. Para o Estadão enviei tal comentário, publicado apenas na versão online, pouco acessível: A celebração do Bloomsday, em homenagem ao personagem de Ulysses, de James Joyce, é marca indelével da importância da literatura na formação cultural, ainda que estrangeira. Poderíamos aproveitar o ensejo e introduzir homenagens aos doze anos da morte de José Saramago em 18/6, não brasileiro também, mas ao menos, até agora, o único representante da língua portuguesa no Nobel de Literatura, cujo centenário de nascimento segue por este ano. Saramago aí novamente citado. Cinco anos atrás ousei juntar o mago das letras com a química e, por meio da divulgação da Unesp, alguns veículos publicaram o delírio: https://www.campograndenews.com.br/artigos/-quimico-jose-saramago. Trilhar pelo inusitado é ação cultural.

Atividades culturais presenciais voltaram a acontecer e pude estar na reunião da Academia de Letras de Lorena depois de dois anos e meio sem viajar para o Vale do Paraíba. Fiquei decepcionado com a eliminação de todas as árvores do canteiro central da avenida de entrada da cidade, cerca de dois quilômetros lineares. No entanto, resgatei as coletâneas publicadas ao longo desse tempo e compartilhei abraços e saudades com os Acadêmicos. O ativismo tem de estar presente, ainda mais em um setor da sociedade que clama pela contestação. Ainda assim, torcem o nariz para textos literários e artísticos que contêm alguma crítica política. Símbolo de um tempo nebuloso pelo qual passamos e temos de nos virar, mesmo sem apoios que seriam óbvios. Dos conflitos urbanos em ocupações às ações criminosas do tráfico e exploração ilegal na floresta, passando pelos 15% dos que passam fome, o Estado não se faz presente. Quem o administra é o governo, e que se mude este para preservar o Estado, nunca o contrário, como estamos diuturnamente vendo e sofrendo. Pouco adianta enaltecer a cultura literária e artística deste rico país se é a cultura da morte a plataforma oficial.

Comentários

  1. Como sempre, um excelente texto!
    Estamos vivendo em um país sem empatia e muito dividido. Talvez pela idade, perdi a esperança.
    Mudando o rumo da prosa, parabéns pelo Dia do Químico e mais ainda pelos trabalhos premiados! Árvore boa dá bons frutos!

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  2. Ao contrário, blogueiro! Em feriados sobra mais tempo para ler e refletir. Alimentar a lucidez, como neste blog. Sim, como Saramago que foi talvez alquimista, mago das palavras.

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  3. Maria Cristina de Oliveira20 de junho de 2022 às 21:05

    Li Saramago nos tempos da Faculdade de Letras e me apaixonei pelo seu tipo de escrita. Em seus livros observa-se várias críticas ao Portugal da época e assuntos como política, religião e problemas sociais eram bem representados pelos seus personagens. Viva a liberdade de expressão. Viva Saramago!
    Parabéns pelo Dia do Químico e pelo sucesso de seu pupilo.

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