O cronista

Cronista. Assim chamavam o jornalista Otto Lara Resende. Seu centenário foi coincidente com o primeiro de maio, festa antes do trabalhador, usurpada por criminosos e brutamontes. A Folha de S. Paulo lembrou a data com artigos e análises profundos no domingo de feriado, mas foi o Estadão quem publicou meu comentário, na versão online: Otto Lara Resende é outro que precisa ter sua vasta e múltipla obra resgatada e novamente editada. Quiçá até inéditos sejam encontrados, à semelhança de muitos outros escritores. Em ano de seu centenário, coincidente com o de José Saramago e o da morte de Lima Barreto, material para uma profunda análise de literatura comparada não falta. Apenas cutuquei o leitor para ir conhecer esse cronista. As pessoas têm dificuldades para diferenciar entre ficção e realidade. O cronista fica inseguro. Se trouxer a realidade nua e crua como é, dirão que é um texto ficcional. Se pautar a coluna do dia pelo que as redes (anti)sociais contam, transportará aquela narrativa inventada, cheia de teorias da conspiração, ódio e ameaça à harmonização da sociedade, a um espaço reservado para o mínimo de realidade. Não é simples sua tarefa, reconheçamos.

Sergio Castanho é um cronista do jornal Correio Popular na área cultural, escritos quinzenais, agradáveis, profundos e reflexivos. Por vezes, utilizei-me de suas ponderações para rascunhar as minhas, até comparando com outros Sérgios... Recentemente ele falou de Ernestos, incluindo o Arnesto de Adoniran Barbosa, sem ouvidar do da ditadura e de famigerados políticos, mas focando nos da literatura, traduzindo ou não algum Ernest original. Sobre as poetas de Campinas foi a crônica mais recente, generosamente compartilhando suas experiências pessoais com elas. As poetas, mesmo contrariando o vocabulário ortográfico oficial, para esclarecer a forma como essas autoras preferem ser chamadas, subvertendo levemente o que já é consenso, ao não ser necessário usar o termo poetisa. Arte é subversão por natureza, ainda mais a poesia! Se o mestre Castanho assim diz, dito é. Leiamos os mestres e com eles aprendamos.

Neste Dia Internacional da Língua Portuguesa, a ferramenta que utilizamos todos nós, cronistas e aprendizes, faço arrumação de meus escritos opinativos publicados em papel e me deparo com algumas cartas que incluíam foto na capa no jornal. Pitoresco, talvez ajudasse nas vendas, não sei, mas guardei-as, uma vez que agora são passado, pois o jornal mudou de editores e nova diagramação foi implementada. O jornal, por certo, está longe de ser um dos mais conceituados e importantes veículos de imprensa do mundo, mas estar na capa resgata um pouco da autoestima. Antecedendo esta data, foi o dia dedicado à saga Star Wars, completando também quatro anos do blog neste endereço (http://adilson3paragrafos.blogspot.com/2018/05/forca-das-financas.html). Leio que fantasiados com personagens daqueles filmes tiveram prioridade de embarque em certos voos nos EUA. Nosso carnaval foi adiado, mas não tanto para que as fantasias chegassem até o 4 de maio (May, the Fourth = may the force). Que a força esteja conosco!

Comentários

  1. A crônica é um gênero delicioso, e parece que brasileiros se destacam nele. Comentar o dia-a-dia sem cair na banalidade exige talento. Este blogueiro é um belo exemplo...

    ResponderExcluir
  2. Parabéns!
    Como sempre, uma boa leitura.
    Magda Helena.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Letras que dizem

Finalizando

Pedaços quebrados