Coisas na Educação

Quantitativos para a Educação carregam forte carga de incertezas. Ficar mais tempo na escola parece uma boa medida, mas não quer dizer que diretamente leve à melhoria da aprendizagem dos educandos. Com idas e vindas no que deveria ser o mais importante Ministério de um país que pressupõe cuidar de sua população, saí fazendo contas de algumas coisas. Se é bom mais tempo para o aluno, como avaliar o tempo de permanência de um ministro em sua Pasta? Dados de ocupação de órgãos públicos estão livremente disponíveis na internet e fiz uma conta do número de meses por troca de ministro nos governos recentes, após o período da triste e pesada ditadura militar. Paulo Renato Costa Souza foi a exceção nesse período, sendo o único a permanecer oito anos no cargo, durante todo o governo Fernando Henrique Cardoso. Tirando esse ponto fora da curva, o resumo que fiz por período e tipo de presidência é o seguinte: há um grupo com permanência média acima de 20 meses para cada titular do cargo, observado nos governos petistas (Lula e Dilma conjuntamente, de 2002 a 2016) e de Itamar Franco (1993-1994); o outro grupo é intermediário, dos que ficaram por volta de 15-17 meses em média, governos Sarney (1985-1990) e Temer (2016-2018); por fim os piores, com trocas todo ano, com média menor que 12 meses, governos Collor (1990-1992) e o atual período iniciado em 2019.

Continhas feitas, as conclusões são óbvias. Não encontrei parâmetros de qualidade educacional que cubram todo esse período para avaliar se houve alguma correspondência com o número de trocas. Fato é que se torna mais frágil a gestão com tantas mudanças, considerando que quem está no comando deva fazer algo que engrandeça o cargo que ocupa. A Educação almejada é a de qualidade para todos. Os progressistas apregoam que não vale a pena educar bem apenas alguns. A inclusão numérica tem sido feita, mas reflito em que velocidade teremos essa universalidade completa, quali e quantitativa. A minha formação foi integralmente pública pelo simples fato de que meus pais não tinham condições financeiras de outra possibilidade, nem deveria ser diferente, pois é o que dizem a Constituição e o bom senso. Tal questão de política pública eficiente é pouco entendida por parte dos governantes, especialmente daqueles que promovem alta rotatividade ministerial: serviço público é direito de todos, não benesses para uns poucos.

O Partido Comunista do Brasil completava 20 anos cinco dias antes de meu pai nascer. Outro centenário em curso ilustrado apenas para trazer à baila outra coisa, diretamente relacionada com a falta de educação que grassa pelo país. E não é de iletrados que falo, mas, sim, de supostos detentores de cultura e saber. Cito meu falecido pai porque convivi em casa com o uso de "coisa" como artifício genérico para designar tudo aquilo que não se quer ou não se sabe melhor definir. Até o verbo coisar era conjugado. Procurei afastar tal vício; no entanto, em alemão muitos substantivos são formados a partir da coisa: a coisa que voa, a coisa que acende, a coisa que anda, e por aí vai. Comunista é a nova coisa do momento, adjetivo pobremente usado por quem não se preocupou em se educar para entender sua história. Tudo aquilo que lhe incomoda - muitas vezes porque é melhor - é rotulado de comunista. Que coisa!

Comentários

  1. Atualmente sou diretora de uma de ensino fundamental de tempo integral e nesse pouco mais de um mês em que estou lá me fiz a mesma pergunta: ficar mais tempo na escola melhora a qualidade das aprendizagens?
    Notei que o grande desafio é manter a motivação da garotada saindo daquela aula dita "tradicional " e instigar a curiosidade deles. Por sorte vejo um grupo docente bem engajado com a proposta da escola e buscando constantemente superar esse problema, mas confesso que não é fácil, principalmente após a lacuna provocada pela suspensão das aulas presenciais devido a pandemia do coronavírus.

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  2. Parabéns por esta "coisa"... Excelente reflexão política, educacional. Teu texto me surpreende por reunir pesquisa, informação, humor e desvendar nos nós dos laços a verdade histórica.

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  3. É verdade, os governantes que mantiveram por maior tempo de permanência seus ministros de educação fizerem coisas que engrandeceram em muito a educação desse país, todis eles preocupadis com com a pluralidade de expressão e a qualidade de ensino, tempo em que até os sem terra tinham educação diferenciada, aprendendo o direito de tomar a coisa alheia. No todo, levaram a educacao do nosso país em patamares nunca vistos.
    Acho que seu pai teve sorte de nascer num país onde onde o comunismo tinha só 20 anos. Nossos cidadãos daquele tempo eram mais educados. Eu, ainda criança participei da "Marcha da Família", quando o comunismo quase foi implantado aqui, o que chamam de golpe da democracia, mas a volta não era pela democracia, era para implantação do comunismo. Hoje eles quase que estão conseguindo. Que coisa!

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  4. Adilson, concordo que não se possa esperar que todos tenham educação de qualidade, a depender apenas dos ministros da pasta. Mas há algumas iniciativas que poderiam ser adotadas que promoveriam melhoras no sistema educacional mais rapidamente. Em Joanesburgo, onde estive há pouco visitando minha filha e netos, cada bairro tem sua escola pública. Bairros ricos também têm, só que não são gratuitos: os pais pagam uma taxa, que nem é barata, organizam uma associação e decidem como aplicar melhor o dinheiro para que seus filhos tenham uma boa escola em tempo integral, onde fazem esportes, artes e outras coisas na escola. Nós bairros pobres, os pais recebem um vaucher para fazer o mesmo. Dessa forma as famílias participam muito da educação dos filhos e a escola acaba se tornando um centro comunitário. Isso poderia ser adotado no Brasil. Ah! Os professores acabam se empenhando muito mais, até porque se não o fizerem, os pais podem reclamar. E eu creio que lá, apesar de haver também grande desequilíbrio social como aqui, isso vem diminuindo bem mais rapidamente do que aqui no Brasil. É uma política pública e não pode ser mudada de acordo com o governante. Além disso, a comunidade ganha uma força muito maior.

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  5. Um ótimo texto , caro amigo Adilson, que nos leva a importante reflexão na arte de "educar" e a meu ver este é o ponto primordial para que um dia nosso Brasil deixe de ser apenas um país para se tornar uma NAÇÃO de verdade. O dia em que o interesse da classe dominante (seja qual for o governo ou partido) deixar de ser o de manter o povo na "ignorância", aí sim poderemos ter pessoas com conhecimento, cultura, espírito crítico, etc suficientes para provocar mudanças boas e necessárias ao bem comum e geral. Será que é muito sonho esta "coisa"?

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